Das experiências mais agradáveis e revitalizantes que se podem experimentar no quotidiano da selva urbana portuguesa, a mais rica é observar os jovens (sexo masculino) que deambulam em trajes à la mode pelos passeios pejados de cocós de lulus ferozes e sem açaime! Cada vez mais nos apraz verificar como esses homens de amanhã titubeiam com passos estilosos pelas nossas avenidas, ou entram com ares de presunção e vaidade assumida nos transportes públicos.
Duas opções de indumentária recolhem hoje por hoje a primazia nas escolhas: os gastos astronómicos em roupas com o dobro do pano necessário, de modo a se assemelharem a hip-hopeiros americanos de ascendência africana; ou gastar balúrdios a adquirir roupas previamente rasgadas, esfiapadas, emporcalhadas, de modo que se assemelhem a gentes sem eira nem beira, não obstante com muito estilo! A única questão que nos assola a mente em desconforto remoído é se a juventude portuguesa se julga um bando de americanos negros, ou se se julga uma massa de pedintes andrajosos!
O glamour dessa faixa etária reforça-se ainda com os adereços, verdadeiras preciosidades de anéis e brincos de ouro e prata de 24 quilates de bricabraque, montras de bijutaria para dar no olho, tudo cravejado de fulgentes diamantes feitos a partir de quartzos sem feldspatos nem micas, pérolas barrocas em entalhes de polímeros. E, claro está, os bonés, sempre vistosos nas suas cores de arco-íris amarelos, rosas, vermelhos, mal pousados, ou apontando estrabicamente para um lado obtuso dos pensamentos dos seus portadores...
Le style oblige...
Enquanto esta adolescência globalizada abunda e se reproduz ao ritmo de episódios de saladas de frutas só com morangos, outros espécimes tradicionalmente tugas escasseiam, desaparecem mais rapidamente que bacalhaus em terras novas por onde leighs filhos de erics os vermelhos poisaram um dia suas patas vikings envergando capacetes sem cornaduras ornamentais!
Experimentámos, há tempos, a sensação cada vez mais rara de ver um desses verdadeiros ícones da fauna masculina nacional, uma dessas aves exóticas que ainda pairam por vezes nas nossas calçadas retorcidas de paralelepípedos mal assentes.
Falamos do antigamente típico homem português portador, no bolso de peito do casaco, necessariamente um blazer em tons ocres e padrão de quadros, ao modo de sindicalistas de décadas idas, ou um blusão de couro arredondado de formas, ou então no bolso da camisa, portador, dizíamos, de um belíssimo pente castanho, com que manejava em habilidade inegável a sua massa capilar da testa ao cocuruto, passando ainda pelas fontes. Foi, de facto, uma delícia poder observá-lo a lutar contra a força indomável do vento, que batia forte e em rajadas, tentando tenazmente manter a cabeleira em posição firme, enquanto o blazer ondulava ao sabor do ar deslocando-se em massas frias de inverno trazidas do grande mar oceano pela linha recta da avenida da res publica, os passos descontraídos de marialva sem terras, de boémio sem morávia!
Quase tão raros quanto os pentes no bolso do peitoral coberto de pêlos, são os guarda-chuvas à antiga, o verdadeiro adereço outonal ou invernoso. Hoje, ao verificarmos estatisticamente a população de guarda-chuvas nas nossas cidades, percebemos que a maioria obedece a dois princípios: ou são retrácteis, de modo a ocuparem pouco espaço, acabando por se assemelhar por vezes mais a salpicões das beiras que a guarda-chuvas, ou são grandes a ponto de serem usados como bengalas cobertas de um pano fino, de preferência em cores que não o preto, que, para devidos efeitos, até é a falta delas! Não que sejam todos como os que se refere, mas ao menos que sejam pretos os guarda-chuvas de homens! E os que se refere são aquelas protecções contra intempéries que associamos aos condutores dos autocarros ou aos funcionários públicos, de pega em meio círculo, forrada a couro negro, ponta de plástico e curta, tamanho de cerca de dois palmos e meio, três, todos os conhecem, perfeitos para serem empunhados como armas brancas prontas a desferirem um golpe repentino! Esses sim eram guarda-chuvas! Nem se pede que se use os que apertavam ainda com um sistema de anilhas, pois o sistema de molas, não sendo tão tradicional, acaba mesmo assim por ser um mal menor!
Se bem que nem vale a pena pedir, visto que a juventude lusa usa cada vez menos esse adereço, não tarda esquecido como o pente no bolso, pois tal não se ajusta ao look moderno de t-shirt e casaco de primavera o ano todo por cima, tal não é prático quando se quer manusear o i-pod em pleno andamento, tal não é cool e afasta as miúdas e viva a nossa rapaziada que anda tão longe do ser português mas tão perto de ser como todas as outras rapaziadas deste belíssimo dito hemisfério ocidental-norte, assim a modos de dizer o mundo dito ocidental da global anemia cerebral!

0 pomaditas :: Da fauna tuga... #1
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