Sabedoria popular versão intelectualóide #4

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A flatulência libertada durante o reinado do deus Hipnos não é posse de nenhum indivíduo!

Alguém me chegue o comando, ò faz favor!

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Estar esparramado num sofá, em frente a uma televisão, de preferência sintonizada num canal que passe apenas programas absolutamente sem interesse, é das melhores coisinhas que se pode fazer para efectuar uma lavagem ao cérebro, uma daquelas sessões de terapia que fazem esquecer todos os problemas, todos os assuntos que andam a martelar diariamente na caixa craniana, todas as coisas boas, o nosso nome, a nossa idade, que nos fazem esquecer que existimos, porque pura e simplesmente deixamos de existir durante esses momentos. A sensação de estar suspenso numa solução gasosa dos sentidos, ver e ouvir a emissão hertziana do monitor, sentir o odor e o tacto do comando, o sabor das pilhas alcalinas, sem assimilar nem compreender nada disso…
Isto, claro está, até que apareça o michael moore na imagem, facto que conduz iniludivelmente a um despertar brusco para a realidade física das coisas, nem que seja para fazer um zapping rápido, ou outra manobra evasiva, necessária perante o caos que nos assoma. Pessoalmente não tenho nada contra o tipo, até porque não me chamo clint eastwood nem defendo uma américa livre, democrática, pacífica e armada, quanto muito defendo uma colónia de sexo livre, democrático e pacífico… não obstando, porém, a umas boas palmadas; apenas acho que ele tem uma forma esquisita de escolher nomes para os filmes/documentários que realiza. Trocadilhos com escalas de medição da temperatura e datas de demolições de prédios é estranho, e não me convencem do contrário, mas jogar bowling em favor da apaixonada do pierrot, já é demais! Além de que se torna um bocadinho, mas só mesmo um bocadinho, pimba. Todas as pessoas cultas e eruditas nas coisas da sociologia e cultura popular tugas do século XX da era post-cristo (que são aqueles papeluchos amarelos em forma de cruz onde um tipo anota recados para si mesmo ou para os outros, tipo os daquela marca, a inri) sabem que o pierrot foi, e ainda é, se bem que numa escala muito menor nos dias que presentemente passam, uma das mais representadas personagens do mundo estático e patético das pequenas estatuetas cerâmicas pintadas quase sempre em tons de azul e branco, destinadas a preencher todo e qualquer espaço vazio que se possa encontrar numa estante, ou outra qualquer superfície horizontalmente plana, esses artefactos medonhos que se dão pelo nome absolutamente amaricado de bibelot! Juntamente com o naperon, ou seja, com um bocado de tecido, às vezes meticulosamente trabalhado, outras vezes nem por isso, forma uma das duplas eminentes da decoração interior de uma tradicional casa tuga de respeito. Bibelot e naperon; pano bordado com o monograma do casalito e pierrot, que dupla brutal e avassaladora! Ora, esse bastardo ícone bibelótico, através da gaja que ele curtia afinfar, mas que não quer nada com ele, servir como inspiração para nome de um filme… não fica bem, digo eu.
Antigamente, a coisa mais estranha do tipo era, para mim, aquela excitação que ele atinge, só comparável, imagino eu ao ver aquela formosura, à excitação que sentirá ao ver um leitão à bairrada ou equivalente manjar no outro lado do atlântico norte, quando se fala em canadá. Impressiona perceber como ele quase saliva ao pensar, ao afirmar, que a solução para os males do mundo reside no exemplo canadiano. Eu acho que ele fica cheio de tesão só de pensar em toronto, ou coisa que lhe valha! Tudo bem que o canadá é um país desenvolvido, com baixos índices de criminalidade e de pobreza, mas, pelo outro lado, apesar de ser o segundo país com mais quilómetros quadrados, circulares e triangulares, é também dos que tem uma percentagem de terreno habitável menor, tanto é o lago, floresta e gelo que para lá vai. Eu nem gosto de calor, mas os canadianos exageram com aquele frio. Aliás, o frio deles explica muita coisa… toda a gente sabe que a gatunagem gosta de andar ao fresco, que é como quem diz não gosta de vergar a mola, que é como quem diz gosta de coçar a micose, que é como quem diz não gosta de trabalhar, e por isso se dedica à gatunagem. No entanto, com tanto frio, nem mesmo um gajo sem vontade de burilar se dedica às coisas do roubo, furto e desvio ilícito. Com frios daqueles, eles [os canadianos] querem todos é casinha, lareira e cobertores sobre os joelhos. Ou isso, ou casinha, lareira e canzanada! E, aí, comecei a perceber a admiração do moço pelos norte-americanos de que nunca se fala. Há até quem diga que os canadianos adoram foder à canzana porque assim estão os dois virados para a televisão a ver hóquei no gelo, desporto que se resume, no fundo, a tentar vestir o máximo de roupa possível para aguentar com o fresquinho. Os jogadores dessa modalidade invernosamente olímpica querem é aquecer o lombo, o resto é tretas e extras, que dar umas galhetas num gajo pode ser divertido, desde que ele não se lembre de responder na mesma moeda, nem sequer numa ou mais moedas mais pequenas e com valor facial total menor que a moeda que se lhes dá inicialmente, aquilo a que os doutos das coisas da economia chamam troco, mas a que a populaça chamaria de mais-valia adquirida através da transmissão de bens ou serviços. Para mim, mandar um sopapo na queixada de outro tipo chega perfeitamente, passo bem sem o troco, e não ligo pevide a mais-valias.
E farmácias! Aquele país imenso tem, para lá de umas quantas pessoas a fazer feitio, muito lago, muita floresta, muito gelo, e muita farmácia! Aliás, parece-me que tudo o que vai acima da fronteira setentrional estadunidense é uma gigantesca farmácia, especializada basicamente em vender comprimidos para a tusa e pomadinhas para chegar depois às partes pudendas, ou fudengas, é como quiserem, que o word não aceita nenhuma como válida, o desgraçado!, que olvida o mais tradicional vernáculo, digo eu, pois à quantidade de comprimidos que eles vendem, bem precisam de hidratar no fim. Se não fosse a maravilha tecnológica desta era da informação, nunca teria percebido o fascínio do homem pelo canadá, essa terra de fodilhões, no fundo, gente que, resguardando-se do frio, fica em casa a fornicar que nem leões, apesar de não haver leões no país, a não ser em jardins zoológicos, mas como o rei da selva que afinal vive nas savanas, porque o primo tigre é que vive nas selvas, mas pronto, os tipos do tarzan acharam que pôr leões, elefantes africanos e outras animálias a passear em plena selva era giro, que se há-de fazer, fode umas boas dezenas de vezes num dia, pois bem, é difícil encontrar outro termo de comparação tão bom, até porque da fauna canadiana só me estou a lembrar de alces, e não quero aqui dizer que os tipos de lá são todos uns maricós cornudos… a não ser talvez os do quebec, que adoram a celine dion e outras anomalias técnicas da música internacional. Graças a essa maravilha que é o spam, pude começar a compreender melhor a mentalidade do bicho, apesar de ainda não ter chegado à parte dos títulos dos filmes, mas também não se pode pretender o universo todo de uma vez.
Claro que foder muito também tem alguns inconvenientes. Tal como dizem que foder pouco faz mal à vista, do mesmo modo que tentar que a namorada pratique o sexo oral e falhar no alvo lhe pode fazer mal à vista, também no canadá devem existir provas estatísticas de que foder em demasia pode causar problemas. Quase que apostava, se tivesse agora e aqui algum fundo de maneio para isso, que o canadá deve ser dos países com maior taxa de cancro no pulmão em todo o mundo. Ora, a umas vinte quecas por dia, vai um maço, fora o que se fume por fora [bzt!!!], e isso, acumulando, dá em cancro mais ano menos ano. Há muita gente que pensa que as preocupações ambientais, ecologistas, dos canadianos se devem a um estado avançado de consciência social, a uma mentalidade que compreende o desenvolvimento como uma coisa necessariamente sustentável nos recursos existentes, sem exageros, nem essas coisas, mas de certeza que eles andam é a ver se não poluem muito para poupar os pulmões, visto que só em cigarros já fazem mal suficiente. Até porque praticar o coito com problemas do tracto respiratório deve ser problemático… mais ou menos como nos metros apinhados de gente.
Não faço a mínima se os metros canadianos serão como os dos japoneses, esse povo maravilhoso, com uma imaginação fertilíssima, capaz de idealizar, num momento, consolas de jogos digitais extremamente avançados e viciantes, e, num outro, um animal com dezenas de tentáculos, capaz de penetrar por todos e mais alguns orifícios de uma colegial virgem. Nós, neste cantinho a oito fusos horários de distância, criámos a malha e achamos, maioritariamente, mas as maiorias são, felizmente, volúveis como alguns elementos da tabela periódica dos quais não recordo agora o nome, que a canzana já é uma coisa upa, upa! de imaginação e audácia. Deve ser porque lá o sol nasce antes que eles são assim tão à nossa frente… Basta ver o método que eles arranjaram para entulhar mais pessoas em cada carruagem de metro, aqueles homens e mulheres de luvas brancas prontos para empurrar mais e mais nipónicos para dentro da embalagem onde se sentirão como sardinhas karatecas de shaolin em lata. Cá, homens e mulheres assim aperaltados e de luvas brancas era certinho que estariam em vias de enfiar o dedo em partes obscuras da anatomia humana!
Também, verdade seja dita, cá não é preciso gente especializada e contratada para empurrar os outros para dentro do metro, porque, como as pessoas não esperam que saia quem tem de sair, elas próprias empurram quem tem necessária, urgente, valha-me-deus-que-perco-a-consulta-mente de sair do metro naquela precisa e determinada estação. Talvez seja aquele debate secular da avançada intelectualidade europeia dedicada a temas fundamentais da nossa existência como a sexualidade dos anjos, o tamanho das barbas de moisés ou a grossura da arca de noé, e que tantas mentes ocupou, mesmo gente de quem se diz serem grandes génios do velho continente, aquela ideia da natureza ter ou não horror ao vácuo, ao vazio, se a possibilidade de haver vazio é ou não real, um tema ainda hoje causa para tanta árvore abatida – o ancestral exemplo que eu mais admiro é o da mão mergulhada em água, que mal é retirada vê o seu antigo espaço ocupado de imediato pelo líquido, impedindo assim o vazio, mas parece que ninguém se deu conta da descida do nível do mesmo dentro do recipiente, digo eu, porque essa parte ninguém diz, mas adiante, que eu de filosofias pouco percebo, e ainda menos para discutir aquilo que leva os tugas a avançar peremptórios mal a porta entreabre, sem esperar quem de lá vem (apesar de tudo, sou da opinião que esta experiência da mão na água é claramente viciada, não só na análise que dela se faz, mas também nos objectos utilizados; vejam lá se quando tiram a mão do cu dos marretas ou similares bonecos, eles ficam preenchidos de alguma coisa!!!).
De facto, como a imensidão de pierrots e panos supérfluos provam bem, o tuga não gosta nada de ver espaço vazio, e não está para discussões sobre se o vazio é vazio e/ou vácuo, ou antes matéria invisível, bota um desses pendericalhos e pronto, está resolvido o assunto. Esta forma assaz prática de resolver as coisas é evidente quando o tuga decide solucionar a questão da garrafa que não consegue expelir o seu conteúdo de forma uniforme quando colocada numa posição vertical, de gargalo para baixo. Os entendidos dizem que não consegue porque à medida que o líquido sai, o ar tenta entrar para ocupar o seu lugar, na mesma proporção; ora, como não passam os dois simultaneamente, fazem-no à vez, intermitentemente, e por isso é que se formos virando a garrafa aos poucos, líquido e ar saem e entram, respectivamente, em tranquila cavaqueira, até dá para trocar uns dedos de conversa e tudo. Ora, o tuga, da mesma maneira que não está à espera dos que saem do metro e tenta passar pelo mesmo local, mas para dentro, também não está com meias medidas, e em vez de deixar a garrafa ganhar ar, e toda a gente sabe como isso avinagra o vinho, emborca logo tudo de uma vez, de golada, à homem!, à macho!
Claro, da mesma forma que foder tem custos, beber deste modo tem custos também, pois a bebedeira costuma ser péssima acompanhante do acto procriativo, e um passo em frente para chegar à estalada! Enquanto os canadianos fodem e não batem, make love and not war, os que mamam vinhaça e cervejolas e outras bebidas de baco, muitas vezes para compensar o calor, outras só porque sim, andam ao estalo, e não saltam para as cuecas das respectivas, nem que sejam respectivamente por determinado e curtissimamente delineado período de tempo! O moore é que tem razão, era pôr os países todos a temperaturas negativas, passar o hóquei no gelo a desporto mundial, e abrir imensas farmácias a vender viagra e cialis com desconto para o pessoal perder mais tempo a praticar o dito amor, e menos a bater uns nos outros… isto, claro, desde que os cigarros deixassem de provocar cancro e os filmes dele passassem a ter nomes decentes.
Enquanto isso não acontece, limito-me a mudar de canal e estupidificar novamente.

Conseguireis caminhar tal como eu, se tiverdes fé... ou muita sorte!

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Sujeito: Parece que o Bispo de Aveiro vai começar a pregar nas praias do distrito.

Predicado: É coerente; Cristo também andou muitas vezes à beira-lago a pregar.

Complemento: Só que esse conseguia caminhar sobre as águas, caso precisasse de fugir de banhistas em fúria!

(sem nome)

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Azul, eminentemente azul
a cor do céu que dizem os especialistas
Não tem cor de todo
em parte alguma conhecida da Humanidade
Não descobrimos ainda
a cura para os males do mundo mas soubemos
Roubar a sua beleza!

Aristides Sousa Landeira

Sabedoria popular versão intelectualóide #3

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Não se verifica precipitação em forma de gotículas nem a suspensão semi-transparente de H2O que poisa ao de leve nas plantas verdejantes; está, outrossim, uma assaz baixa temperatura do órgão sexual masculino!!!

How I wish, how I wish they haven't turned off the music...

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Há qualquer coisa de intrínseco, de geneticamente incontornável, na espécie humana que a leva a aspirar, a desejar constantemente a mudança, que a leva à procura de algo diferente daquilo que existe, daquilo que possui. A mudança é o motor através do qual se imprime um dinâmico movimento de evolução à espécie auto-consagrada como a mais desenvolta deste planeta.
Foi por mudar de animal quadrúpede para animal bípede que a humanidade conseguiu chegar ao ponto de foder em pé, contra a parede ou no meio da sala, pela frente e com beijinhos ou por trás e à bruta, rebentando assim com os músculos, tendões e ossos dos membros inferiores, exponenciando a venda não só de lubrificantes analgésicos, e reparem como as verdadeiras intenções e funções destes produtos se revelam através da sua classificação farmacológica, como também de anti-inflamatórios e outras pomadas para sarar as lesões de esforço… aprazível, certo, mas esforço.
Foi por ter mudado de ares, das vastidões cálidas de África para o aperto enregelado europeu, que o homem pôde desenvolver expressões hoje tão idiossincráticas (e idiotas, segundo algumas opiniões) da sua natureza, como dizer badochamente às fêmeas Estamos com frio, há?! ao ver como os seus mamilos entesados, túrgidos como pequenas colunas de betão armado, se assinalavam quais cones de sinalização por baixo das mui sensuais, embora fedorentas de almíscares bovinos, peles de bisonte. Claro que, para um hominídeo de há milhares de anos, comparar mamilos com cones de sinalização era impossível, mas, lá está, foi uma coisa que mudou, os termos de comparação. Antes, eles deviam comparar mamilos enrijecidos pelo frio com os menires, e isto bem que poderia ser a base de toda uma nova forma de entender as realizações megalíticas; hoje, comparamo-los com cones de sinalização, muito graças àquela moça, a madonna, ou com pitões de alumínio, bem hajam os ingleses por terem criado o futebol que nos proporciona tais termos comparativos.
A mudança é a esperança de muitos, é aquilo que lhes alimenta o sonho num futuro mais risonho e mais satisfatório. A esperança que eles têm em que as namoradas possam um dia mudar de ideias e aceitem experimentar sexo anal, e é a esperança das empresas produtoras de lubrificantes, para continuarem a crescer no mercado. A esperança que eles têm em que as respectivas de longa data e até que a morte os separe mudem de ideias e, sobretudo, de dieta, para que um dia possam readquirir as formas e a aparência que no passado ostentavam, e é a esperança das empresas produtoras de lubrificantes, para continuarem a crescer no mercado. A esperança que elas têm em que eles mudem um dia, e deixem de ter essas ideias, que passem a desejar só o que há, sem alternativas nem analternativas, e é a esperança das empresas produtoras de lubrificantes em que isso nunca aconteça, ou então lá vai o mercado todo à vida.
No fundo, esperar algumas mudanças é muitas vezes como esperar um milagre, é como esperar um táxi em dia de chuva, é raro, mas acontece. Ainda assim, mudar é tão natural, não tanto como a sede, mas pelo menos tanto quanto a caganeira. Um gajo, por muito que queira, não escapa a umas quantas mudanças ao longo da vida, do mesmo modo que não escapa a umas caganeiras. Então, se estiver mesmo de caganeira é que é certinho que vai ter de mudar de cuecas, se não for também obrigado a mudar de calças, depende da gravidade, potência e repentismo do esguicho.
Por mim, não gosto nada de mudar, sobretudo em coisas sérias. Não acho piada nenhuma a ter de mudar de vivo para morto, de solteiro para morto, de bêbado para morto. Isso e mudar de cuecas e camisa, que é outra coisa que me irrita solenemente. Não ao ponto de me ornar de paramentos e desatar a retolicar em latinorum, mas, ainda assim, bastante irritado! As pessoas bem dizem que estou a feder, a cheirar a cavalo, ou a outros igualmente simpáticos e malcheirosos animais de quinta, como bois e porcos, ainda para mais um cavalo impregnado de fedor a bosta, mas eu ainda sou daqueles que apreciam acordar de manhã, espreguiçar, aviar com duas farpolas no pano dos lençóis, pegar as cuecas do chão e vesti-las novamente, amarelo para a frente, castanho para trás, tudo enquanto se coça, com técnica invejável, diga-se a propósito, a tomatada. Na minha douta opinião, todo o despertar masculino que não obedeça a este ritual peca por falta de virilidade. O problema é que, na caganeira, não há tradição que resista às traçadelas na pele que nem com pó-de-talco aquilo lá vai, e um gajo lá tem mesmo de tomar banho e mudar de cuecas.
Felizmente, na maioria das situações não há necessidade nenhuma de mudar nada. Mesmo quando as pessoas chegam à minha beira e perguntam intrigadas O que estás a fazer no chão da sala, todo torto? ao que respondo com uma longa dissertação Caí!, de preferência num grunhido monossilábico. Se eu podia voltar a sentar-me no sofá? Podia. Mas se quero, se tenho necessidade imperiosa e inexorável disso? Não. Logo, não me levanto, deixo-me estar na mesma posição incómoda e capaz de adormecer a metade do corpo que ficou debaixo da outra metade, sobretudo os pés e os braços. Desde que não danifique nenhum órgão vital, tudo bem por mim. Sendo que, pelo menos até começar a cuspir sangue, é difícil perceber ao certo se danificámos ou não alguma coisa. No entanto, a vida é mesmo assim, sempre no limite do risco!
Por isso, irrita-me ver as pessoas a mudar constantemente todas as suas vidas, as suas ideias, as suas opiniões, a pousar de partido em partido em partido como um pardalito de ramo em ramo. Sempre que vejo um tipo a dar pisca para mudar de direcção, por exemplo, é certinho que buzino na hora! Se ele mudar sem avisar, buzino ainda com mais força! Arre para tanta mudança! Outro exemplo… aquele tipo do ok tele seguro ou lá como se chama a empresa, o engravatadinho, o jeitosinho, se eu o apanhasse, era certo que lhe dava um calduço, por andar sempre a pôr minhocas na cabeça do pobre senhor hábito, que tão bem estava com a vida antes de ele aparecer!
Tudo bem, eu concordo que há diversos casos em que mudar é uma coisa produtiva, como quando um tipo está, por exemplo, num café ou num restaurante, e está a rfm sintonizada. Aí, sem dúvida que dá vontade de, por todos os santinhos e anjinhos e outrosinhos deste mundo, mudar de estação emissora, quanto mais não seja para evitar ouvir, mais uma vez, a enésima vez, roxette, pausini, ramazotti ou outro monstro sagrado da música internacional escolhido para passar diariamente e várias vezes ao dia, assim ao modo de alguns medicamentos, como os anti-inflamatórios das quecas contra a banca da cozinha, na playlist do segundo canal da renascença. Eu bem sei que a laurita e o eros são italianos, mas também é exagerar, esta identificação com a renascença, mesmo que no segundo canal! Não obstante, há excepções, como quando está a passar Pink Floyd. Nesse caso, seria de bom-tom esperar pelo fim da música e, aí sim, mudar de estação. Agora, desligar a música a meio para acender a tv e botar o noticiário da sic a rolar, isso já é abuso! Ainda para mais sem aviso, como os otários que não dão pisca, capaz de originar uma indigestão a um tipo, como eu, que tenha estômago fraco para estas coisas. Pior ainda, só mesmo os ataques de pânico gerados de forma automática pelos disc jokeys (montadores de discos) dos centros comerciais, capazes de cometer o despautério de passar de Pink Floyd para bon jovi! E, mais uma vez, a meio da música! Num sítio dado à acumulação de gente medonha em gostos, musicais e não só, é a hecatombe moral! Seria como passar de Londres para Pyongyang sem passar sequer na casa de partida nem receber os 2 merréis. Uma grande entaladela, no fundo!

PS: sempre que mudei de parágrafo, fi-lo apenas porque as regras do bom e escorreito português a isso obrigam e porque sim!

Vou-te pôr os olhos negros

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Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te dar um pêro antes de dormir
Que é p’ra aprenderes a não retorquir
Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te dar um pêro antes de dormir
Que é p’ra aprenderes a não retorquir
Cheguei a casa às tantas todo imundo
Bêbado e sem saber por onde andava
Querias que fosse dormir para os fundos
Mas eu só ria e vomitava
Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te dar um pêro antes de dormir
Que é p’ra aprenderes a não retorquir
Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te dar um pêro antes de dormir
Que é p’ra aprenderes a não retorquir
Não tenho mais bagaço nem cerveja
Não há mais nada para beber
Só queria que fosses comprar uma palete
Mas preferes assim, e vais-te foder!!!
Vou-te pôr os olhos negros
Vou-te pôr os olhos negros…

Lyrics by: Bomber Jack

Ofertas que não se podem recusar...

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Se realmente Portugal quer fazer um brilharete e fazer com que os países da UE concordem com a proposta de tratado, o José Sócrates tem é de se deixar de politiquices a apostar nos nossos melhores argumentos:

Ou seja…

Para convencer a Espanha, mandamos para lá o Quaresma, o Simão e o Lucho de graça.
O Zezé trata de convencer a alemã (just don't forget the music, the music!!!)
Com a Super Bock decididamente pomos o inglês e o Sarkozy tão bêbados que eles assinam tudo, nem que seja um acordo para serem violados por uma manada de elefantes na época do cio. Se, mesmo assim, o franciú não aceitar, basta apontar uma arma, que ele, no máximo em 5/6 semanas, rende-se!
Os outros, claro, aceitam qualquer coisa, nem que não queiram…

Dicionário de Biturbo #11

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columbofilia - perturbação de ordem sexual que leva as pessoas a excitarem-se com tudo o que esteja relacionado com Cristóvão Colombo. Em 1958, Ernesto Agrimonte, um contabilista de Múrcia, tentou mesmo exumar o suposto corpo do explorador, na ilha de Hispaníola (actual República Dominicana), para com ele praticar sexo anal.

Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)

Sabedoria popular versão intelectualóide #2

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Especiarias picantes nos esfincteres anais de outrém são para a minha pessoa como refrescantes bebericagens!

Dicionário de Biturbo #10

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balalaica - munição de arma leve usada em conflito, atentado, ou ataque de intuito civil (guerras, regicídios, assaltos, etc.). Diverso de baladevota - munição usada em conflito marcadamente religioso, ou em atentado contra figura representativa de uma crença religiosa.
Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)

Sabedoria popular versão intelectualóide #1

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Aos que desconhecem as artes do amor carnal, até a mera existência de túbaros provoca embaraço.

Escrever como quem sente

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Ouço muitas vezes da boca de alguns magos da predição que, daqui a mais ou menos tempo, nos países mais ou menos desenvolvidos, a palavra escrita acabará por deixar de ter existência de papel, passando a subsistir somente numa versão digital, que é como quem diz que, passando esse intervalo de tempo não muito bem delimitado por nenhum dessas brilhantes mentes, ninguém mais usará uma caneta, um lápis, uma esferográfica como esta BIC laranja que estou usando neste momento para assentar numa folha de papel em branco, pautado ou quadriculado, com ou sem margens, ou até mesmo num outro suporte qualquer como um tampo de mesa de escola, umas frases quaisquer, nem sequer uma coisa tão trivial e pueril como Eu estive aqui, ass.: X… Dizem esses arautos da tecnologia que o futuro passa apenas pelo sistema QWERT e pelo matraquear de letra a letra até formar uma frase completa, mas sem ninguém estar presente em parte alguma…
ESPERO MORRER ANTES QUE TAL ACONTEÇA!!!
Não concebo viver-me num mundo onde a palavra exista apenas como resultado da conjugação de 0’s e 1’s em processos invisíveis. Não concebo viver-me num mundo onde a palavra não seja despejada em jactos de tinta ou grafite contra a maciez ou a aspereza de uma folha de papel. Não concebo imaginar sequer viver-me num mundo onde a palavra perca a alma. Porque é isso que acontecerá no dia em que apenas haja teclas para bater e as palavras surjam diante dos nossos olhos em ecrãs, a morte da alma da escrita.
Há qualquer coisa de mágico no acto de escrever, mesmo que seja uma parvoíce medonha qualquer, uma coisa mágica e, no entanto, bem visível no seu processo, um encantamento precisamente por se ver como as coisas acontecem, como os músculos do antebraço se movem em pequenos instantes de tensão, como os dedos se movem para cima e para baixo, ligeiramente, conforme a letra suba ou desça, fazendo movimentos circulares quase imperceptíveis e depois a esferográfica presa entre as suas pontas, ver a tinta a cair pela carga até à esfera que, ao entrar em contacto com o papel, vai rolando e largando a cor que desenha estas mesmas palavras que vou escrevendo em letra tombada pela ventania do pensamento. Há qualquer coisa de magia em tudo isso, em quase sentir as palavras a correr das nossas veias até poisarem no papel, como se esta tinta azul fosse o vermelho do meu sangue. Estas palavras, mesmo enfadonhas ou medonhas, ou outro –onhas qualquer, são a minha alma.
Escrever num computador… isso não É escrever! É digitar!
Escrever não é só preparar um texto e cagá-lo limpinho e prontinho para guardar nos Meus Documentos, UmNomeQualquer.doc, talvez imprimir em folha A4 frente e verso… Escrever é voltar atrás e rasurar, e rasgar, e cortar frases a meio para as pôr noutro sítio, não usando Ctrl+X / Ctrl+V, mas com uma seta! Ou uma chamada, um asterisco, e fazer mais e mais sinalefas, e chegar ao fim e amassar a folha para começar tudo de novo, ou um grande traço por cima de tudo e passar para a página seguinte do caderno, não fazer um Del à selecção CTRL+T! Escrever é despejar os detritos da alma, é sujar uma folha com o que se sente, e com a confusão do pensamento, não é chegar ao fim com uma folha limpa como mármore de catedrais que não mostram a violência das almas sofredoras! Ao ler um manuscrito temos a noção das angústias, das dúvidas, dos estados de espírito caóticos de quem escreveu; ao ler um ecrã, ou uma impressão, tenho apenas um resultado final, já mastigado e já sem o sentimento da criação primordial, sem as provas tangíveis desse caos de querer dizer tanta coisa ao mesmo tempo e ter apenas uma mão para escrevê-las apenas numa vida!
Os magos não se calam, eu sei… a seguir à escrita virá a pintura, os pincéis substituídos pelo software; quem diz a pintura diz ainda mais rapidamente a arquitectura! O cinema já por lá caminha, a música nem se fala… as obras-primas da modernidade do século XXI já não se querem fazer à mão, e por isso não as há verdadeiramente, que uma obra-prima é uma coisa manufacturada! Acho apenas difícil que consigam digitalizar as pessoas no palco de um teatro, de um bailado, mas ainda hão-de encontrar forma de esculpir com o teclado e o rato!

Guiness Book

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Sujeito: O homem mais alto do mundo vai casar com uma mulher com metade da sua altura.
Predicado: Em tempos, o homem mais alto do mundo chegou a ser um moçambicano.
Complemento: Mas depois pisou uma mina e perdeu logo metade do tamanho.

Dicionário de Biturbo #9

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vidente - um dos vocábulos da língua portuguesa com mais variantes semânticas. No Norte de Portugal, em particular na região envolvente ao Porto (onde se lê bidente), designa uma pessoa com apenas dois dentes. Na África lusófona, usa-se para identificar situações em que se viu a dentadura de alguém. No restante mundo onde se fala português, designa os profissionais que se dedicam à feitura de vídeos.
Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)

Povo que higienizas no eflúvio leito

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Povo que higienizas no eflúvio leito
E burilas com teu machado
A estrutura de meu féretro
Talvez haja quem te advogue
Quem adquira teu sacro solo
Mas a tua existência não

Deparei-me na circular távola
E traguei em conca que me encobre
O ósculo de mão em mão
Era o divino néctar que me oferendaste
A cristalina água, de genuína rudeza
Mas a tua existência não

Bálsamos de archotes e de lodo
Cochilei com eles no leito
Possuí a mesma conjuntura
Grei, grei, eu te pertenço
Hás-me dado lonjuras de incenso
Mas a tua existência não

Povo que higienizas no eflúvio leito
E burilas com teu machado
A estrutura de meu féretro
Talvez haja quem te advogue
Quem adquira teu sacro solo
Mas a tua existência não

Lyrics by: Bomber Jack

Da fauna tuga... #6

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Para o tuga, os gestos valem mais que mil palavras, sábios e vetustos dizeres, desde tempos imemoriais propalados entre as gerações que sucessivamente habitaram as margens atlânticas mais ocidentais do velho continente onde surgiram tantos fenómenos da humanidade social, política, cultural, como a mímica, por exemplo, a mímica dos mimos de cara pintada, empurrando paredes impalpáveis, puxando cordas imaginadas, tropeçando em cagalhões que cão nenhum cagou, a mímica que alguns consideram arte e que a muitos outros provoca urticária, a mímica que não a mímica do tuga, experto em manejar sensações e ideias, em falar pelos cotovelos, antebraços e mãos, por todos os poros de um corpo contorcionista da sintaxe dialogante. Nestes bocadinhos de terra colados a cuspe de sangue e aço temperado e guerreiro de forma a formar uma coisa a que se chamasse nação portuguesa, as pessoas falam acompanhando cada sílaba por um gesto, mesmo que quase imperceptível, as pessoas abarcam as palavras em redondilhas esbracejantes de demonstração, o tuga fala com a fala e com a fala dos gestos em simultâneo. Portugal foi feito para ser uma nação de surdos-mudos, mas a quase todos foi dado igualmente o dom da voz.
Sim, o tuga adora adornar os seus discursos orais com gestos, quantas vezes ridículos, e não consegue contrariar essa disposição genética. O tuga vai sozinho no carro, dispondo da mais recente tecnologia de alta-voz, de auriculares, e mesmo assim acena e bate energicamente numa mesa que não existe para marcar claramente a sua opinião; o tuga vai pelo passeio fora, a falar ao telemóvel, e encolhe os ombros para a pessoa do outro lado conseguir ver a sua resignação; o tuga enumera as vantagens de fazer assim e não fazer assado e usa os dedos para acompanhar a ordenação das ideias, para chegar ao fim e a mão cheia ser, por si mesma, mais uma razão, nada como mostrar uma mão repleta de argumentos para convencer os mais desconfiados dos inúmeros benefícios de ser preto e não ser branco, uma mão cheia de dedos, porra!!! Portugal foi feito para ser uma nação de surdos-mudos, porque basta ver como o tuga diz quase tudo com os gestos, mesmo que não consiga desenrolar um raciocínio mais que pueril.
E o tuga convence. Hitler foi, de certeza, treinado por um tuga a discursar com aqueles gestos em acompanhamento, quais batatas fritas e arroz branco da oratória, uma dialéctica de ascensão ao poder necessariamente acompanhada de muita frescura gesticular de salada! Os alemães, no seu âmago, não queriam conquistar coisa nenhuma, não queriam guerras relampejantes nem massacrar circuncidados, não queriam espaços vitais nem apagar a eslávia do mapa. Eles queriam era que os deixassem em paz, mais as suas brincadeiras com maços de notas de marco, como se pode facilmente constatar em qualquer manual de história do nono e do décimo segundo anos da escolaridade lusa. Porém, quando um tipo com um bigodaço como aquele vem falar em altos berros e acompanha os discursos com gestos tão irresistíveis, não há povo pacifista que resista! Ponham um tipo a fazer o mesmo na Suiça, ou nos Estados Unidos, e vejam se esses países amantes do fraternal afecto inter-nações não se transformarão instantaneamente em ferozes hienas, em mortais bisontes largados em estouro pelas pradarias ora tornadas campos de batalha!
Claro, há alguns, raros, cada vez mais raros, espécimes da fauna tuga que, se não conseguem escapar à inevitabilidade da sua condição de animal gestual, tentam ao menos disfarçar a tendência de falar com as mãos, talvez por vergonha, encapotando os braços com os casacos, não os envergando como de hábito, mas sim sem os entrincheirar no pano de fazenda, ou outro tecido qualquer. E andam assim pela rua, ao jeito de manequins desmembrados, com as mangas pendentes como pirilaus sem tesão, suspensas em vaivéns ao sabor das rajadas de vento. Sim, esses tugas escondem os braços sob o refúgio de um casaco, gabardina ou sobretudo, mas ninguém me tira a ideia de que, na verdade, eles estão sempre é a preparar um enorme, gigantesco, fulgurante manguito!

Dicionário de Biturbo #8

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vacância - propriedade de quem é vaca; filha-da-putice; canalhice; cabronice. taxa de vacância - índice através do qual se mede o nível de vacância de uma pessoa. Quanto mais coisas ruins a pessoa fizer, mais sobe na escala.
Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)

Espaço Publicitário #4

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(sem nome)

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a aurora. os pássaros. mentiram-me.
em chilrados de horas férteis.
a manhã. a janela. mentiram-me.
em acenos de luz e reconforto.
o tempo. o espaço. mentiram-me.
no enviusamento da solidão só minha.
os olhos. os braços. mentiram-me.
no despertar físico de fulgor.
os sonhos. a memória. mentiram-me.
concentrações gasosas de felicidade impalpável.
Aristides Sousa Landeira

Pequenas diferenças entre o ser humano e a restante fauna... #3

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A Plumagem

Com toda a certeza, quem lesse o título, chamemos-lhe assim, e o subtítulo deste corpo de texto que se prolongará não se sabe por quantos parágrafos, de não se sabe muito bem quantas linhas, com não se sabe muito bem quantas palavras cada, ficaria com a ideia de uma certa contradição evidente, pois a plumagem não é, de todo, uma pequena diferença entre o Homem e as restantes espécies animais, é, isso sim, uma grande diferença, porquanto o ser humano não possui plumagem sequer. Certo! Mas também errado! Porque do que se trata aqui não é a plumagem enquanto tal, o substantivo comum colectivo que designa o conjunto de penas, antes todo e qualquer tipo de artifício embelezador, as caudas de pavão dos animais, todos eles, incluindo as dos homens. Já por aqui se falou uma vez das diferenças de significado dos símbolos corporais/fisionómicos, na perspectiva da comunicação. Aqui também é um pouco isso, apenas numa versão um pouco mais alternativa, mesmo que sem touradas.
Normalmente, os artifícios fisionómicos que os animais possuem, exempli gratia, as caudas vistosas, as escamas de cores berrantes, as armações de hastes longas, têm objectivos muito bem definidos. Servem para avisar os outros animais do perigo de tentar atacá-los, e/ou servem para marcar uma posição dominante que proporcione ao ser em questão uma maior taxa de sucesso nas coisas da caça e da procriação. Ou seja, tudo questões muito pragmáticas. O pavão não exibe a sua cauda por pura vaidade, nem por outro motivo qualquer de gozo pessoal, mas apenas porque isso faz parte do seu código genético, é o meio de demonstrar superioridade, pelo menos de tentar, de lutar por um espaço.
Sim, e no ser humano também é verdade que os artifícios de embelezamento acabam por servir para conquistar um lugar no mercado da preservação sexuada da espécie, é verdade que as maquilhagens e as coiffures e os pendericalhos de bijutaria e as roupas extravagantes, tudo isso serve para conquistar parceiros sexuais, é a forma humana de seguir o instinto e as regras naturais da luta por um lugar, não ao sol, mas à cabeceira da cama, acompanhado. É verdade que, se analisarmos bem, não há propriamente uma diferença entre o ser humano e as restantes espécies animais neste assunto…
E também é verdade que há! (há qualquer coisa em mim que me está a levar a aceitar enunciações contrárias simultaneamente!)
Vejamos… como já referimos, e vamos manter-nos no mesmo exemplo, o pavão apenas mostra aquilo que tem, a sua cauda, que pode ser mais ou menos eficiente, conforme a genética tenha, ou não, sido boa companheira, e por aí se fica; deixa na sorte da herança de adn o seu destino. Como já vimos também, com o Homem não é bem assim; reparemos como a grande maioria dos atributos que ele ostenta não são naturalmente seus: as roupas, as jóias, as cosméticas, os perfumes… De facto, poucos são os que exibem atributos realmente naturais, seus de nascimento, sem outras modificações. Mesmo no caso das musculaturas, que são muitas vezes trabalhadas para irem além do que a genética providenciou, acabando assim por não serem originais, de fábrica, digamos (que eu me lembre, nenhum pavão pinta a cauda, nem outra coisa do género!) Portanto, temos já uma pequena diferença, à primeira vista talvez negligenciável, mas que é fulcral, pois dela advêm todos os posteriores raciocínios.
É que se o ser humano usa artifícios, verdadeiros artifícios pois não são naturais de si, para se valorizar perante os outros, também é verdade que o faz para aumentar a sua própria auto-estima, a sua opinião de si mesmo. (Pelo menos esta será uma diferença enquanto não se provar que os restantes animais têm opinião de si mesmo, auto-estima, egos e alter-egos, e por aí fora. Têm noções intrínsecas das duas capacidades, isso parece evidente.) O mais curioso, porém, é verificar como muitas vezes é conseguida esta manobra de auto-valorização… precisamente usando o mais puro artifício, que é esconder defeitos com a exaltação de virtudes que não existem. Um exemplo que me parece ideal, os famosos soutiens capazes de fazer parecer as glândulas mamárias femininas bem maiores que aquilo que são na realidade. No fundo, chamar a atenção para o pormenor mamário, fazendo-o parecer um pormaior pode não ser mais que uma forma de tapar tudo o resto. Pensamos que sim. (E não pensamos que não)
E como temos a mania de pensar, pensamos agora já não no homem indivíduo, mas no homem colectivo. Não será que as civilizações, ao longo dos milénios, têm vindo a fazer exactamente o mesmo que cada humano faz? Tapar defeitos com virtudes inexistentes, realçar as coisas positivas que em si encontram para se superiorizarem face às outras? Esse artifício, essa arte, a arte. Sim, não será a arte apenas uma forma de disfarçar o defeituoso que o ser humano é, que o mundo é, perspectivando-os de formas completamente diversas da realidade? Porque o Homem tem horror aos defeitos do mundo, e aos seus, por isso tantos tentaram criar mundos perfeitos, mesmo que apenas nas suas cabeças. A arte… esse subterfúgio face ao mundo real. Não serão os monumentos fúnebres dos egípcios uma forma de esconder a morte tentando criar uma ilusão de imortalidade? Mesmo sabendo que o ser humano é mortal, ao criar uma coisa que o seja, ou pelo menos que a tal almeje, finge sê-lo também, não seria esse o pensamento faraónico? Não será a criação de religiões a prometer uma vida depois da morte em condições paradisíacas uma forma de arte, porquanto pressupõe aquilo que parece irreal, a imortalidade, a perfeição, uma máscara para tapar o horror do mundo sem nada disso…
Talvez arte não seja nada dessas coisas… é tarde, vou dormir, sem artifícios nem plumas de pensamento, tudo isto é cru e os sonhos sei bem que não passam de uma partida nocturna…

Alá... aliás, Deus nos livre!

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Números oficiais (ainda em contagem)...

MMMDCXCII mortos.
____
XXVIDLVIII feridos.

Ainda bem que os árabes se deram ao trabalho de pegar naquela numeração criada lá para os lados do Indo e a divulgaram pelo seu império, transmitido-a também aos avançadíssimos e doutos mestres escolásticos da medieva europa ainda a fazer contas com letras! Era capaz de ser chato para o tipo que tem de contar os americanos tombados no oriente médio, se assim não tivesse sido...

Dicionário de Biturbo #7

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hanseático - (pop.) alcunha dada aos chineses que sofrem de ciática. Segundo a tradição popular, todos os chineses se chamariam Han, daí a origem deste vocábulo.

Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)

Cinco e meia

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— Um pingo e uma nata.
— Um pingo?
Sim, um pingo, tem de se aproveitar as vantagens, as promoções, se o café custa o mesmo que o pingo, há que usufruir da paridade de preços, não deixar escapar a oportunidade de levar no estômago três gotas de leite, há que aproveitar… Talvez fosse uma boa ideia, inexplorada, tanto quanto sei, para as funerárias, promoções dois em um, a maravilha do mundo civilizado na concentração do máximo no mínimo espaço, sem tempo nem desejo de desfrutar coisa alguma separadamente, nas texturas de cada objecto por si só, antes ter tudo de uma só vez, em tropel, All in a bucket with the eggs on the top!, uma boa promoção para suicidas, no pagamento, no pré-pagamento do seu funeral oferecemos nós mesmos a cicuta, mas apenas da melhor, importada directamente da Grécia, da mesma casta que aviou o Sócrates, o Don Pérignon da morte por vontade própria e expressa servida em taça alta, adeus! a tudo o que lhe pareceu tornar a vida uma coisa miserável de ser vivida… Era capaz de ser vantajoso para a humanidade no seu todo, ver-se livre dos covardes em catadupa, ficarem apenas os suficientemente corajosos para promoverem a extinção da espécie à lei da bomba e do afogamento em lixo, em mares de lodo da civilização, o céu em chamas a cair-nos em cima, as almas feitas estátuas de sal, contemplando a chuva de enxofre.
Está a chover lá fora, chuva miudinha, chuva molha tolos, porque tolos são os que se apaixonam, e as almas enamoradas distraem-se nos enlevos doces do amor, não notam que o corpo se encharca pouco a pouco, por isso são tolos, por isso a chuva molha tolos, apesar de miudinha, como a que cai cá fora, empurrada assimetricamente pelas deslocações de massas de ar a que chamamos vento. Talvez te encontre daqui a uns passos, ao virar da esquina, refugiada sob o umbral de uma porta, na entrada recolhida de um prédio, encostada a uma parede aproveitando o abrigo momentâneo e parcial dos beirais dos telhados, como uma andorinha num algeroz em que construas o ninho da tua espera, como te encontrei da primeira vez, enregelada, encharcada, tremendo de frio, as mãos sôfregas a roçarem uma na outra tentando-se aquecer no vapor húmido da expiração, os olhos negros como balas de carvão com que atingiste à queima roupa o nó que se apertou instantaneamente no estômago, os cabelos pretos, molhados, caindo em pingas pelos ombros, cheirando à sensualidade da relva alagada nos primeiros aguaceiros de setembro, a sexo húmido e desenfreado no velho divã do teu quarto, em dias como este, onde nos deixávamos cair extenuados de suor, abraçados enfim ouvindo o gotejar no parapeito da janela, o embalo rítmico do sono que chegava em passos de lã, distraídos como os meus, foi já aqui adiante, uns passos depois desta esquina cega, num dia assim de algodão cinzento…
— Um euro e dez, por favor.
— Aqui tem, obrigado!
Aristides Sousa Landeira

You will be Beatles with an A!!!

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Os fab four, e quando digo fab four não me quero referir àqueles quatro marmanjos esquisitóides que viviam em TZeros quadriculados, o tipo de pedra, o caga-lume ou espalha-brasas, o gajo de plástico e a tesuda invisível, e isso é uma coisa para ser chata, que se os homens já se queixam de que nunca conseguem encontrar esse tal de ponto g, imagine-se numa mulher que já de si é invisível, foram indubitavelmente o maior ícone cultural de Liverpool, pelo menos até aparecer o Ian Rush, aquele do kick and rush, o equivalente inglês ao Sobe ramalde que o meu pai é sócio e não paga as quotas!, e, para lá disso, têm provavelmente o primeiro lugar no que diz respeito a origens psicadélicas de nomes, e psicadélicas no sentido de que de certeza que aquela história surgiu devido aos efeitos de drogas brutais. Apesar dos doutos censores portugueses considerarem que Os Quatro Cabeleiras do Após-Calipso seria um nome mais giro, os Beatles, aliás, os The Beatles decidiram que se haviam de chamar The Beatles, depois de terem sido The Silver Beatles e mais uma catrafada de nomes. Ora, apesar de os entendidos considerarem que o nome era um trocadilho entre beetles (besouros) e beat (batida), o Lennon sempre disse que nada disso, que na verdade tinha era tido um sonho em que um homem montado numa tarte flamejante lhe tinha dito que eles se haviam de chamar assim, ou, na versão inglesa: A man on a flaming pie came to us and said "You will be Beatles with an A!" Parece que estou imaginar um gajo barbudo, em cima do acepipe, com olhos penetrantes de omnipotência, a proclamar isto com uma daquelas vozes míticas, ao género das mega-produções do DeMille, como quem diz: You shall not seen! e toca a escaqueirar as tabuinhas dos 10 Mandamentos, com a fúria. Havia de ser no tempo da outra senhora, que afinal era um senhor sempre de fatinho, e o Moisés partir as ardósias com os deveres da escola, a ver se ele não levava um enfaixamento ao chegar a casa, ou à terra prometida! Já por isso é que ele nunca lá entrou, e depois veio com aquela do Não me sinto muito bem, porque cometi muitos pecados e não sou digno de pisar essa terra e comi muito ao almoço e o maná lixou-me a figadeira, é melhor eu ficar aqui um bocadito a descansar, mas ide, ide, entrai na terra prometida, que eu fico bem! Pois, 'tá qu'eto! Ele estava era com cagufe de levar com um raio ou coisa pior em cima, tipo um cinto, por ter partido as tabuinhas! De qualquer modo, os quatro de Liverpool lá andaram a correr meio mundo, a provocar perda de cabelo em adolescentes com tendência para a auto-mutilação, apesar desse nome estranho, de origem mais estranha ainda.
Claro, não eram só eles que tinham nome esquisito, há por aí muita coisa com nomes assim, dados a deixar um tipo a pensar de onde raios veio aquilo! Como comida italiana, por exemplo. Pode até haver muito nome de comida italiana que não tem nada de aparentemente anormal, como macarroni e quadrucci e rissoto, mas outras são inegavelmente pensadas, em termos de nomenclatura, de modo a propiciar confusões e trocadilhos de ordem claramente sexual. Toda a gente pensa logo em pizza, mas e o linguine?, e o penne e o pipe?, e o conchiglione?, que se lê com quilhone… e por aí fora… bucatini… elas são tantas, que só pode ser obra de mentes demoníacas que querem mesmo é ver a gente por estas bandas lusas a passar embaraços, Quer pagar o seu garganelli com cartão ou dinheiro?, e coisas assim… Claro, um tipo pode sempre adaptar-se e usar as referências gastronómicas para não ofender as mulheres, que elas não gostam de ouvir os nomes das coisas, preferem subtilezas, Adoro quando passas a tua linguine pela minha pizza, até fico conchiglione arrepiados…
Não sei se serei eu que ando a ler demasiado, porque todos sabem que ler demasiado cansa o cérebro, e que mais vale ver as adaptações para cinema que assim poupa-se o trabalho de ter de visualizar tudo na própria mente, e por causa disso ando a ver coisas onde elas não existem, a inventar organizações secretas ao ritmo do tipo do código do leonardo, mas eu quer-me parecer que existe por aí uma organização, ou pelo menos uma empresa especializada em criar nomes parvos para dar as coisas. Tem de ser, é demasiada coincidência a quantidade de nomes dados ao equívoco que se vê por aí. Ou então sou só eu que tenho um fettucine com o nome das coisas…

(sem nome)

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Os dias passam devagar
quando o olhar fixo num discorrer de horas
de tiques e taques ritmados
de lonjura e frieza
não se consegue refugiar
na penumbra de uma linha contínua de infinito
persiste no estático regresso quotidiano
dos ponteiros ao ponto de partida
em círculos eternos de insensatez
Quem passa o tempo a ver o tempo passar
morre em cada instante de loucura

Aristides Sousa Landeira

Da fauna tuga... #5

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O tuga tem uma assumida relação de amor-ódio com a fila. Longas dissertações de mestrado e doutoramento e de mesa de tasco ou café poderiam ser criadas a partir desse imbróglio sentimental das lusitanas gens perante a acumulação ordenada de pessoas em espera de algo. Não creio que alguém tenha escrito alguma tese científica sobre o tema, o que mostra como as ciências andam sempre um passo atrás da humanidade e daquilo que realmente tem valor na prossecução dos dias.
O tuga abomina a fila de trânsito, desespera diante de um aglomerado de veículos ruidosos e fumarentos que param, arrancam, param, arrancam, param, arrancam em soluços de irritabilidade e apoquentação, porque há sempre um sítio qualquer aonde chegar a horas de trabalhar, de ter uma reunião, de apanhar os miúdos, de mil e uma coisas inadiáveis. Desespera quando as chuvas trazem mais e mais acidentes, a sinistralidade de um atraso que irrita, mais que outra coisa, que irrita a vontade de cumprir com a rotina, e há a humidade que se condensa no espaço fechado e claustrofóbico do habitáculo, que de habitável não tem nada, absolutamente nada do que o nome parece atribuir-lhe, nem sequer ar condicionado, porque o tuga privilegia outros acepipes, quase sempre estéticos, cãezinhos e nossas senhoras de embalar pela viagem fora abanando-se em movimentos assimétricos acima da âncora de íman ou de cola no tablier cheio de outros e tantos outros pendericalhos; aventais e mamarrachos de fibras frágeis, sempre prontas a desfazerem-se ao mínimo toque num rato morto na estrada; o tuga aprecia mais o aparato sonoplástico de belos auto-rádios e colunas e woofers e subwoofers para botar o bass no máximo ao ponto de estremecer os néons e os neurónios, prefere isso ao conforto climatizado de uma temperatura constante o ano todo, faça chuva ou faça um sol capaz de derreter alcatrão e permitir estrelar ovos no capôt ou no tejadilho, capaz de liquefazer os plásticos dos volantes, de modo que nem uma centena de janelas abertas reduziria o efeito de estufa, o suor acumulado, em gotas e mais gotas, como torneiras porosas da epiderme com os vedantes estragados, na papa enrugada da camisa colada ao corpo e aos estofos num desconforto putrescível. O tuga abomina a fila de trânsito pela manhã, ao fim da tarde, pela hora de almoço ou à noite, às segundas, terças, quartas, quintas e sextas e aos fins-de-semana também, o tuga abomina as filas, e por isso não anda de transportes públicos, porque à espera do autocarro ou do comboio ou do mais mítico eléctrico há-de ter de esperar numa outra fila, mas em pé, e isso é a maçada absoluta, ter de esperar verticalmente, e como se fosse um animal bípede, o homem, quando toda a gente sabe que ele é um animal glutical e glutípede, ou seja, cuja posição preferencial é com os glúteos refastelados numa cadeira, num sofá, num banco de jardim, e cuja deslocação se deve dar nessa mesma posição, sentado. É que não só tem de esperar em pé, como se arrisca a ter de andar dentro de um veículo também em pé! E isso não é conforme aos desígnios da evolução! Pelas barbas de Darwin!
Para estar em pé, num sufoco visceral e metafísico, já bastam as filas das repartições públicas, em especial a mais odiada e mefistofélica delas todas, esse lugarzinho saído directamente do inferno por uma porta negra e tenebrosa que dá pelo nome de repartição de finanças. Compra papéis, preenche papéis, engana-se a preencher papéis, volta a comprar mais papéis, e se calhar é melhor levar já dois, que nunca se sabe, e preenche papéis, entrega papéis, mas afinal não era nada assim, e volta a preencher papéis, e volta a esperar nas filas intermináveis, psicologicamente intermináveis, das finanças, mais as suas dezenas de ventoinhas e os zigurates feitos do tijolo e da argamassa dos arquivos espalhados pelas secretárias, folhas e mais folhas, numa devastação amazónica de celulose consumada em espasmos de burocracia, ah, já só faltam mais dez pessoas, mas isso de nada interessa, porque o tasco fecha às quatro e meia, ainda só são quatro e vinte e as portas encerram-se sem satisfações e o povo fica furibundo, há manifestações de gargantas vociferando há atropelos e esbracejares há sangue sangue sangue! Não, não há sangue, há apenas a resignação de voltar no dia seguinte para esperar estoicamente em pé, mais uma porrada de horas, pelo som mágico da voz do funcionário, próximo!, seguinte!, faz favor!, seja qual for a expressão, ah, ser o homem na frente da fila de carrancudas expressões!, porque o tuga odeia filas, ainda para mais públicas, ainda para mais se tiver de despender carcanhóis, e quem gostasse de estar numa fila dessas havia de pagar imposto, o malandro!, porque o tuga odeia filas fiscais, e por isso não usa declarações cibernéticas, que nunca se sabe quem nos rouba as senhas, é que anda por aí muita gatunagem, anda por aí muita gente mal intencionada, que isto já não é como no antigamente, quando o senhor presidente do conselho mandava e tudo corria bem, que nem impostos pagávamos e comíamos sempre que nem uns abades, meia sardinha com broa ou um pau de marmeleiro pelas costas abaixo... Velhos tempos!
O tuga evidentemente que odeia filas, porque são empecilhos, porque são sanguessugas de tempo e dinheiro, para lá do tempo ser em si mesmo dinheiro, segundo os entendidos, porque não lhe dão nada a não ser incómodos, o tuga odeia filas a não ser que sejam para receber qualquer coisa à borla, mesmo que seja uma coisa tão inacreditavelmente desnecessária e fútil quanto um descascador de bananas ou algo semelhante. − Amostras de maquilhagem? Manda vir! Eu sou homem? E depois?, fica para a minha mulher! Sou solteiro? E então?, fica para a minha irmã! Sou filho único? Não há problema, que a minha mãe usa! Sou órfão? Porra, tenho é uma vida miserável, isso sim! Mais vale dedicar-me ao transformismo e mudar o nome para mónica vanessa ou verónica alexandra! Sim, o tuga adora que lhe dêem coisas, acho mesmo que quanto mais inúteis, mais satisfeito ele ficará, e não interessa que a fila atinja dois quarteirões, se o tuga sentir o cheiro a brinde, ele espera, nem que seja uma tarde, para conseguir aquela admirável alegria de puto que acabou de receber uma prenda, sendo que, ao contrário do puto, o tuga adulto não fica de beicinho por não ter recebido o que realmente tinha pedido ao pai natal pois o que é grátes é bom! Melhor ainda que bosch!
E o tuga adora também filas dançáveis, os famosos comboinhos, cancro sem cura que alastra em metástases hiper-agressivas pelos tecidos humanos de casamentos, baptizados, passagens de ano, carnavais e outras folias, outros aglomerados festivos onde haja música, porque a vontade em se pôr entre dois tipos quaisquer, a oferecer e a receber biqueirada ao que vai à frente e do que vem atrás, respectivamente, essa, existe naturalmente; o desejo incompreensivelmente ardente de besuntar a palma da mão de suor alheio, e cantar, a compasso, meu amigo charlie brown…, mamã eu quero… e outras harmonias dadas ao fenómeno.

Basicamente, o tuga funciona assim quando depara com uma fila, odeia-a, e não consegue viver sem ela; amaldiçoa-a a todo o instante, e é dos poucos momentos em que consegue socializar com outros espécimes, mesmo que em conversas de circunstância de tempos e futebóis e doenças do reumático e por aí fora; protesta insistentemente, mas não concebe um mundo em que ela não tenha lugar. Claro, há sempre os comportamentos desviantes por parte daqueles tugas estranhos que praticam ritos misteriosos, talvez cabalísticos, como sucede, não poucas vezes, em locais onde a fila se destrói, se estilhaça em aglomerados disformes e dissimétricos de pessoas munidas cada qual com a sua senha, plim… 233, plim… 234, plim… 235, há aqueles tugas que conseguem a maravilha de estar não num, mas em dois lugares da mesma fila, por vezes três ou mais, fruto de várias senhas retiradas em momentos diferentes, não vá o diabo tecer mais uma das suas artimanhas e eu ser apanhado na cagadeira enquanto chamam o meu número, assim sempre tenho outra senha já tirada, por via das coisas. Se outro benefício não tivesse, o sistema de senhas permitiu à humanidade aproximar-se do estatuto divino, na questão da ubiquidade pelo menos. No entanto, não deixa de ser um comportamento estranho à norma retirar uma e outra e mais outra senha, ainda assim, menos estranho que aquilo que muitos desses seres fazem com as sobrantes. Em vez de, naturalmente, as mandarem para o lixo, procuram avidamente outro a quem passar o título de vez. Já não é a primeira vez que me aconteceu ser brindado com um número bem mais próximo que aquele a que teria acesso caso fosse retirar o papelinho eu próprio… o que não quer dizer que eu não o faça, isto é, que não vá retirar outro papel. É que estamos a tratar aqui de uma situação delicadíssima, mais periclitante que qualquer situação do oriente médio, em que a capacidade estratégica de um jogador de xadrez é mais que necessária. Por um lado, se recusar, se deitar fora o papelucho ou se for retirar um outro em frente ao ofertante, é coisa para lhe magoar os sentimentos, assim como para lhe provocar uma raiva imensa, que o vai ficar a remoer, bem lá no fundo, até que ele consiga uma oportunidade de me atropelar. Gente que é capaz de tirar duas, três senhas é capaz de tudo! Por outro lado, aceitando a oferta, é preciso ter muito cuidado com as reacções dos outros que já lá estão à espera do chamamento. Por exemplo, quando este sucedido se sucede num hospital, as pessoas ficarão naturalmente furibundas, o que, a bem ver, aconteceria em qualquer situação; no entanto, num hospital há que relativizar a furibundice de que as pessoas são capazes. Pessoal de muletas e andarilhos e assim até pode ser perigoso se tiver boa técnica de arremesso, mas, em princípio, uma boa corridinha e escapa-se ileso desses ataques. Ora, da última vez que me sucedeu este sucedido, foi numa estação dos ctt onde, apesar de haver uma outra velhota, o pessoal era capaz de me dizimar se se apercebesse do caso. Pior, uma estação de correios coloca ao dispor de por quem lá passa toda uma panóplia de armas perigosíssimas, como, por exemplo, selos e envelopes! Centenas, milhares de selos e envelopes, que me obrigariam a lamber, até secar completamente as papilas da língua, infligindo cortes que, como é do conhecimento público, são dolorosíssimos. Pá, não estamos a falar da possível traçadela num pêlo da púbis aquando da prática de sexo oral, coisa, aliás, que faz antever pelo menos uma aprazível sensação orgásmica; estamos a falar de cortes de papel e selos na língua, das coisas mais dolorosas que a humanidade alguma vez sentiu!
Refira-se que, quando entrei na estação de correios propriamente dita, já ia munido da dita senha, mas, mesmo assim, decidi não arriscar, porque apesar de tudo havia por lá alguém com a senha logo a seguir àquela que me fora oferecida, e que poderia ser menino para armar um escabeche mais ou menos! Agora que penso, se calhar o tipo que me passou a senha era um agente de uma funerária, se calhar todas estas pessoas que fazem esta coisa de passar senhas indevidamente são agentes de funerárias que promovem confusões, na esperança de alargar o mercado. É que tudo foi muito estranho… ok, eu estava com um envelope tamanho monstro, daqueles almofadados e tudo, com quase dois quilogramas de papelada lá dentro para despachar (esse verbo clássico da correspondência postal), pelo que o ah, vai para os correios? faz todo o sentido; o que já não faz sentido nenhum é que no verso da senha estivesse um número de telemóvel… a não ser que a ideia fosse que, no fim da pancadaria, alguém, se calhar combinado com o outro tipo, dissesse olha, um número de telefone, vamos ligar… e saía uma agência funerária. E a forma como ele me despachou o papel para a mão, aquela passagem como quem troca uma nota por uma dose de estupefacientes, dizendo é o 29, o 29!, como quem diz vais levar com o caixão 29 que é um mimo! Uma máfia, com certeza, uma máfia instalada mesmo debaixo dos nossos narizes, e nem demos por ela, pelo menos até este meu momento epifânico, uma máfia especializada em distribuição de senhas para atendimento ao público, contratada pelas agências funerárias, de modo a criar confusões, mortos e assim, e ninguém faz nada. O que vale, a mim não me apanham, que eu sempre retirei outro papel, e a partir de agora não caio outra vez nessa, usarei sempre esse outro. Uma máfia de dealers de senhas, quem diria?

Bem, é sabido que o tuga tem uma propensão para ser distribuidor dissimulado de tudo e mais alguma coisa, diria mesmo que por cá se desenvolveu toda uma arte de fazer passar coisas não ilegais para outras pessoas, sendo, obviamente, as velhas tias e avós o expoente máximo dessa habilidade. A forma como elas encapotam notas para no-las passarem rapidamente, acompanhadas de um toma lá, toma lá, para ires tomar um café, ou silenciosamente, quando no-las colocam nos bolsos, o que pode ser uma chatice, que a gente às vezes manda a roupa lavar, quando tem assim mais de quatro nódoas de ketchup, e depois vem a nota desfeita, ou pelo menos diminuída, não no seu valor, mas no tamanho, que eu já vi uma nota de cinco euros depois de ir a um programa de lavagem completo e perdeu uns bons milímetros. Mais ou menos como os órgãos sexuais masculinos depois de saírem das gélidas águas marinhas, diminuídos no tamanho momentâneo, mas com o mesmo presumível poder de compra. Uma questão de inflação aparente, no fundo.

Plim… 0245. Alto!, é a minha vez… Odeio esperar…

Dicionário de Biturbo #6

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almoçar - vocábulo de origem árabe [da junção de al- com -mussar], e que significa a juventude. Dela derivam almoço: o jovem, ou rapaz; e almoça: a jovem, ou rapariga.
Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)

Pequenas diferenças entre o ser humano e a restante fauna... #2

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A Preservação da Espécie

Nos ecossistemas vários do planeta em que deambulamos em círculos e voltinhas e revoluções sem cravos à volta de não sei quantos eixos e centros imaginários, coabitam inúmeras espécies animais, cada uma delas lutando pela sua sobrevivência, quase sempre em confronto directo com os interesses de outras. Repare-se, porém, como, por norma, as relações dentro desses sistemas de vida se regem por uma certa harmonia, ainda que selvática, que impede a sua implosão. Se há animais hierarquizados numa escala predatória em que algum assume, por ventura, o topo isolado, também é vero que nenhum desses animais tem como costume matar sem sentido, sem seleccionar cuidadosamente as suas presas, salvo raras excepções, como por exemplo uma tal de histeria sanguinolenta que ataca as hienas no período de desenvolvimento das crias de leão marinho nas costas africanas, mas maioritariamente, numa larguíssima maioria de quase unanimidade, as coisas não se passam assim. Cada animal mata apenas para comer adequadamente em relação às suas necessidades, estejamos a falar de carnívoros ou herbívoros, talvez devido a uma instintiva inteligência que os alerte para o facto de uma excessiva caça poder diminuir as suas hipóteses de alimentação futura. Curiosamente, a relação entre predadores e presas é, estatisticamente, favorável a estas, isto é, há mais presas que predadores, sendo que, como os predadores se tornam presas de outra espécie, os números vão diminuindo à medida que a presa o for para menos caçadores. Diríamos, por graça, que no topo da cadeia está um elo apenas de um elemento, uma tal de morte que a todos apanha, mas adiante… Claro que sabemos que este esquema não é assim tão rígido que seja sempre verdadeiro, não obstante, é quase sempre assim que se passa, e por isso é que há mais sardinhas (ainda) que tubarões brancos. Esta diferença de número não se explica somente pela contenção predatória dos que estão acima na escala, explica-se ainda pela maior disponibilidade de procriação das espécies que estão abaixo. Enquanto aquelas procriam, normalmente, uma vez por ano, às vezes em hiatos de tempo mais alargados, estas fazem-no muito mais regularmente, a espaços mais curtos, cada vez mais curtos quanto mais se desce. Por instinto e auto-regulação natural, todas as espécies sabem que é assim que deve funcionar.
Com o ser humano, porém, as coisas funcionam de outra forma. Primeiro, porque o ecossistema humanizado é uma larga percentagem do terreno habitável do planeta. Ao contrário da maioria das espécies, o homo sapiens saiu da sua zona de origem demarcada por iniciativa própria, alargando o seu território a quase todos os climas e espaços, desde a tundra à selva tropical (uma expressão clássica, esta), deu-se até ao luxo de expandir a níveis absurdos a ideia das abelhas e criou os seus próprios habitats, as cidades, esses espectros de colmeias sem rainha, mas com zumbido, sem mel, mas com fumo e lixo a rodos.
Esses locais são o aglomerado derradeiro das manchas incomensuráveis de humanos, crescendo mais e mais, a um ritmo muito para lá do normal, uma multiplicação incontida de espécimes, sobretudo quando se pensa na posição hierárquica que nos atribuímos, um contra-senso.
Não satisfeito com tudo isso, o Homem, escudado na crença de superioridade incontestável, optou por interferir em todos os ecossistemas a seu bel-prazer, não observando nenhuma das prerrogativas inseridas no código genético da preservação das espécies. Em vez de caçar apenas o bastante para a sobrevivência, começou a fazê-lo com intuito de atingir a satisfação alarve, de se saciar profundamente na ingestão de carnes e peixes e vegetais, uma e outra vez, até mesmo fazê-lo por puro divertimento. Com o crescimento exponencial da espécie, as suas presas naturais começaram, obviamente, a escassear. Não obstante, munido de uma espécie de inteligência pérfida, razão creditada da sua superioridade, o Homem começou a criar as suas próprias presas, os seus alimentos, a fazê-las nascer, crescer, para depois as matar e assim saciar a sua fome imparável. Esta imagem não pode deixar de me fazer recordar aqueles três filmes da trilogia matrix e a ideia de pessoas cultivadas para servirem, elas próprias, de fonte de energia para as máquinas.
Embora tarde, a Humanidade percebeu que a destruição dos habitats naturais (por estas e outras, muitas mais, e bem variadas razões) levou a uma degeneração do planeta, com as extinções de espécies a sucederem-se a ritmo alucinante, desequilibrando a existência da vida, ela mesma. Agora, aflitos por isso poder significar o seu próprio fim, os homens tentam remediar o que parece irremediável…
Não deixo de sentir um odor fétido de ironia em toda esta situação. O Homem, afiançado na sua soberba e avançadíssima massa encefálica, conseguiu dominar o planeta, catapultar-se para o topo dos topos hierárquicos entre a fauna terráquea, predador sem rival e sem nunca cair na situação de presa. Pelo menos cultiva essa ilusão, esquecendo-se que o supra-sumo dos animais é presa fácil de minúsculos seres, microscópicos vírus e bactérias, aqui e além surgidos em vagas de epidemias, mas é-o também de si mesmo. Ao contaminar o mundo com os seus excessos, o ser humano acabou por criar as condições ideais para a extinção da própria espécie, o que é uma autêntica prova de estupidez, indo contra tudo o que é normal na natureza.
Curioso como neste momento ele tem nas suas mãos níveis de tecnologia incomparáveis com qualquer outra época; tecnologia, essa, capaz de possibilitar a cura para muitos dos seus males e dos do planeta em que vive, tendo, simultaneamente, tão pouca vontade de o fazer. Uma espécie de gloriosa decadência de mecanismos extraordinários e almas arruinadas. O grande festim à bomba, antes da hecatombe final!