How I wish, how I wish they haven't turned off the music...

Há qualquer coisa de intrínseco, de geneticamente incontornável, na espécie humana que a leva a aspirar, a desejar constantemente a mudança, que a leva à procura de algo diferente daquilo que existe, daquilo que possui. A mudança é o motor através do qual se imprime um dinâmico movimento de evolução à espécie auto-consagrada como a mais desenvolta deste planeta.
Foi por mudar de animal quadrúpede para animal bípede que a humanidade conseguiu chegar ao ponto de foder em pé, contra a parede ou no meio da sala, pela frente e com beijinhos ou por trás e à bruta, rebentando assim com os músculos, tendões e ossos dos membros inferiores, exponenciando a venda não só de lubrificantes analgésicos, e reparem como as verdadeiras intenções e funções destes produtos se revelam através da sua classificação farmacológica, como também de anti-inflamatórios e outras pomadas para sarar as lesões de esforço… aprazível, certo, mas esforço.
Foi por ter mudado de ares, das vastidões cálidas de África para o aperto enregelado europeu, que o homem pôde desenvolver expressões hoje tão idiossincráticas (e idiotas, segundo algumas opiniões) da sua natureza, como dizer badochamente às fêmeas Estamos com frio, há?! ao ver como os seus mamilos entesados, túrgidos como pequenas colunas de betão armado, se assinalavam quais cones de sinalização por baixo das mui sensuais, embora fedorentas de almíscares bovinos, peles de bisonte. Claro que, para um hominídeo de há milhares de anos, comparar mamilos com cones de sinalização era impossível, mas, lá está, foi uma coisa que mudou, os termos de comparação. Antes, eles deviam comparar mamilos enrijecidos pelo frio com os menires, e isto bem que poderia ser a base de toda uma nova forma de entender as realizações megalíticas; hoje, comparamo-los com cones de sinalização, muito graças àquela moça, a madonna, ou com pitões de alumínio, bem hajam os ingleses por terem criado o futebol que nos proporciona tais termos comparativos.
A mudança é a esperança de muitos, é aquilo que lhes alimenta o sonho num futuro mais risonho e mais satisfatório. A esperança que eles têm em que as namoradas possam um dia mudar de ideias e aceitem experimentar sexo anal, e é a esperança das empresas produtoras de lubrificantes, para continuarem a crescer no mercado. A esperança que eles têm em que as respectivas de longa data e até que a morte os separe mudem de ideias e, sobretudo, de dieta, para que um dia possam readquirir as formas e a aparência que no passado ostentavam, e é a esperança das empresas produtoras de lubrificantes, para continuarem a crescer no mercado. A esperança que elas têm em que eles mudem um dia, e deixem de ter essas ideias, que passem a desejar só o que há, sem alternativas nem analternativas, e é a esperança das empresas produtoras de lubrificantes em que isso nunca aconteça, ou então lá vai o mercado todo à vida.
No fundo, esperar algumas mudanças é muitas vezes como esperar um milagre, é como esperar um táxi em dia de chuva, é raro, mas acontece. Ainda assim, mudar é tão natural, não tanto como a sede, mas pelo menos tanto quanto a caganeira. Um gajo, por muito que queira, não escapa a umas quantas mudanças ao longo da vida, do mesmo modo que não escapa a umas caganeiras. Então, se estiver mesmo de caganeira é que é certinho que vai ter de mudar de cuecas, se não for também obrigado a mudar de calças, depende da gravidade, potência e repentismo do esguicho.
Por mim, não gosto nada de mudar, sobretudo em coisas sérias. Não acho piada nenhuma a ter de mudar de vivo para morto, de solteiro para morto, de bêbado para morto. Isso e mudar de cuecas e camisa, que é outra coisa que me irrita solenemente. Não ao ponto de me ornar de paramentos e desatar a retolicar em latinorum, mas, ainda assim, bastante irritado! As pessoas bem dizem que estou a feder, a cheirar a cavalo, ou a outros igualmente simpáticos e malcheirosos animais de quinta, como bois e porcos, ainda para mais um cavalo impregnado de fedor a bosta, mas eu ainda sou daqueles que apreciam acordar de manhã, espreguiçar, aviar com duas farpolas no pano dos lençóis, pegar as cuecas do chão e vesti-las novamente, amarelo para a frente, castanho para trás, tudo enquanto se coça, com técnica invejável, diga-se a propósito, a tomatada. Na minha douta opinião, todo o despertar masculino que não obedeça a este ritual peca por falta de virilidade. O problema é que, na caganeira, não há tradição que resista às traçadelas na pele que nem com pó-de-talco aquilo lá vai, e um gajo lá tem mesmo de tomar banho e mudar de cuecas.
Felizmente, na maioria das situações não há necessidade nenhuma de mudar nada. Mesmo quando as pessoas chegam à minha beira e perguntam intrigadas O que estás a fazer no chão da sala, todo torto? ao que respondo com uma longa dissertação Caí!, de preferência num grunhido monossilábico. Se eu podia voltar a sentar-me no sofá? Podia. Mas se quero, se tenho necessidade imperiosa e inexorável disso? Não. Logo, não me levanto, deixo-me estar na mesma posição incómoda e capaz de adormecer a metade do corpo que ficou debaixo da outra metade, sobretudo os pés e os braços. Desde que não danifique nenhum órgão vital, tudo bem por mim. Sendo que, pelo menos até começar a cuspir sangue, é difícil perceber ao certo se danificámos ou não alguma coisa. No entanto, a vida é mesmo assim, sempre no limite do risco!
Por isso, irrita-me ver as pessoas a mudar constantemente todas as suas vidas, as suas ideias, as suas opiniões, a pousar de partido em partido em partido como um pardalito de ramo em ramo. Sempre que vejo um tipo a dar pisca para mudar de direcção, por exemplo, é certinho que buzino na hora! Se ele mudar sem avisar, buzino ainda com mais força! Arre para tanta mudança! Outro exemplo… aquele tipo do ok tele seguro ou lá como se chama a empresa, o engravatadinho, o jeitosinho, se eu o apanhasse, era certo que lhe dava um calduço, por andar sempre a pôr minhocas na cabeça do pobre senhor hábito, que tão bem estava com a vida antes de ele aparecer!
Tudo bem, eu concordo que há diversos casos em que mudar é uma coisa produtiva, como quando um tipo está, por exemplo, num café ou num restaurante, e está a rfm sintonizada. Aí, sem dúvida que dá vontade de, por todos os santinhos e anjinhos e outrosinhos deste mundo, mudar de estação emissora, quanto mais não seja para evitar ouvir, mais uma vez, a enésima vez, roxette, pausini, ramazotti ou outro monstro sagrado da música internacional escolhido para passar diariamente e várias vezes ao dia, assim ao modo de alguns medicamentos, como os anti-inflamatórios das quecas contra a banca da cozinha, na playlist do segundo canal da renascença. Eu bem sei que a laurita e o eros são italianos, mas também é exagerar, esta identificação com a renascença, mesmo que no segundo canal! Não obstante, há excepções, como quando está a passar Pink Floyd. Nesse caso, seria de bom-tom esperar pelo fim da música e, aí sim, mudar de estação. Agora, desligar a música a meio para acender a tv e botar o noticiário da sic a rolar, isso já é abuso! Ainda para mais sem aviso, como os otários que não dão pisca, capaz de originar uma indigestão a um tipo, como eu, que tenha estômago fraco para estas coisas. Pior ainda, só mesmo os ataques de pânico gerados de forma automática pelos disc jokeys (montadores de discos) dos centros comerciais, capazes de cometer o despautério de passar de Pink Floyd para bon jovi! E, mais uma vez, a meio da música! Num sítio dado à acumulação de gente medonha em gostos, musicais e não só, é a hecatombe moral! Seria como passar de Londres para Pyongyang sem passar sequer na casa de partida nem receber os 2 merréis. Uma grande entaladela, no fundo!

PS: sempre que mudei de parágrafo, fi-lo apenas porque as regras do bom e escorreito português a isso obrigam e porque sim!

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