O sinal vermelho é um estado de espírito!

Como é do domínio público, por terem já passado mais de setenta anos desde a morte do presumível, seja ele quem for, ou tenha sido ele quem tiver sido, como queiram, eu não sou grande coisa em conjugações, a não ser de esforços orgásmicos, e mesmo sem saber quem foi o tipo sei perfeitamente que passaram mais de setenta anos, pois o dito que o dito ignoto ser criou é mais antigo que o defecar em posição de pernas absolutamente flectidas, de modo que as nádegas quase roçam o chão, e se neste tiver germinado uma densa vegetação herbácea pode mesmo acontecer sentir o respirar de uma formiga no topo de uma folha de capim, ou em caso de orvalhada sentir a dita região glútea a humedecer, também conhecido este acontecimento como cagar de cócoras, e, visto que as latrinas, objecto tantas vezes menosprezado, em que muitos cagam, mas que veio poupar muita gente a constipar-se pelo cu, são para cima de antigas, imagine-se o quão antigo não será o dito em causa, pois provavelmente o dito é mais antigo que aquilo que lhe deu origem, ou seja, foi um dito por não dito, e que reza que o hábito é o responsável pela feitura do monge.
Ora, o que nunca se explicou, pelo menos comigo ninguém se deu a esse incómodo, é se é o hábito enquanto peça de indumentária, ou se o hábito enquanto prática costumeira, recorrente, o que leva ao aparecimento desses senhores que, ao que dizem, abandonam tudo para se enfiarem no topo de um monte e se matarem uns aos outros com veneno nas pontas das folhas de livros, queimarem bruxas e falarem em latim.
É minha convicção profunda, e considero mesmo situar esta convicção algures na região de transição entre a epiderme e a derme, exceptuando talvez se estiver em causa a planta dos pés, ou a pele dos tomates, porque enfiar, ou situar coisas nos tomates é capaz de ser problemático, mas pelo menos nas palmas das mãos sim, só para se ter a vera noção do quão profunda ela é, que não se trata aqui da vestimenta dos também chamados frades, porque isto dos mosteiros é como uma família fechada, mais ainda que a Adams, ou as famílias mafiosas, porque é fechada ao sexo oposto àquele dos que dela fazem parte, porque temos nos mosteiros masculinos os frades e o abade, que é o pai etimológico, não confundir com o pai biológico, nem com o pai divino, e nos femininos, temos as irmãs e a madre, devem ser complexos edipianos ou electrianos invertidos, ou coisa parecida, alguém que perceba disso de psiquiatrias que estude. E considero isso pois pura e simplesmente não acho verosímil que o mero uso de um saco de serapilheira faça de alguém um monge. Quer dizer, eu nunca vi nenhuma batata com tonsura, e o que mais há para aí é batata ensacada em serapilheira, pelo menos desde que os europeus atracaram na setentrional América, donde trouxeram não só esse belo tubérculo, como também o milho, ou o feijão, para além doutras leguminosas, e doenças venéreas como a sífilis, deixando em troca o sarampo, que antes comia-se era castanhas, o que, junto com bacalhau, devia dar umas ceias de natal bem estranhas. Também, verdade seja dita, nunca vi nenhuma batata com cabelo, mas isso não é razão para abandonar tão forte convicção, ainda para mais depois de a ter colocado onde coloquei, que eu cá não levo jeitinho nenhum para Bartolomeu… Quer dizer, durante muitos anos vivi na ilusão de que havia uma espécie qualquer de batata com pêlo, ou cabelo, bem áspero e com as pontas espigadas, é certo, porque era isso que eu via nos supermercados, logo ao lado das mangas e dos maracujás, e não ao lado das cenouras e nabos, como mandariam a lógica e a sequência de preparação de uma sopa de legumes. Vim, mais tarde, a descobrir que aquelas batatas têm por nome kiwis, e que são, na verdade, iguaizinhas àquela fruta verde com grainhas chatas que eu comia às vezes, e que, se partilhavam com as batatas-batatas o dom de entupir canos de escape, tinham nos intestinos um efeito bem diverso. Além de que são, vá-se lá saber porquê isso, agora, o símbolo nacional da Nova Zelândia, juntamente com os fetos, o que é também sobremaneira inusual, diria antes bizarro, e disse mesmo, porque uma coisa é defender e incentivar a natalidade, e eu sou absolutamente pró-quecas, outra coisa é hastear fruta e embriões em desenvolvimento intra-uterino. Parece que nunca ouviu falar de bandeiras e hinos nacionais, aquela gente…
Assim sendo, resta-me considerar que o que torna o monge num monge são os hábitos que ele possa ter. Ora, hábitos não são vícios, e há que fazer aqui uma distinção clara! Hábito é toda aquela acção recorrente na nossa vida, e que não constitua necessidade essencial à sobrevivência, praticada de forma consciente (pois senão passa a ser um tique), por um indivíduo (se for por um grupo passa a ser um taque), e que não lhe causa mal algum. Se causar, é um vício! Como fumar, por exemplo. Durante muito tempo foi um hábito, mas bastou que um certo número de indivíduos e estudos declarassem não sei quantos efeitos perniciosos do acto tabagista, e logo passou a ser um vício, um mau hábito, portanto. Porque, no fundo, a linha que divide o mundo dos hábitos [o lado do Bem] do mundo dos vícios [o do Mal], está, numa escala de tenuidade, e ao contrário do que possa parecer através desta divisão maniqueísta, um pouco acima de um pintelho de uma velha, que é algo sobremaneira ténue, e um pouco abaixo da linha de perfil de uma modelo de alta costura, que é incomensuravelmente ténue; estamos a falar, digamos, de uma linha assaz ténue. Para dar mais um exemplo de graça, como faziam os romanos e ainda fazem os ingleses, há quem, como eu, sacuda o pénis até três vezes, no máximo, após a micção. Ora, isso é um hábito, e claramente bom, pois evita manchas indesejáveis nas calças, mas não chega a ser uma necessidade básica da vida, o que não obsta a que se considere aqueles que não sacodem vez nenhuma como, e isto é terminologia científica, uns porcos do caralho!, sendo que aqueles que acumulam esta porqueira com a não lavagem das mãos em seguida são uns grandessíssimos porcos do caralho! Depois, há aqueloutros que exageram, sacodem, sacodem, sacodem, como se estivessem a ter um ataque de convulsões epilépticas na piça, bem mais de três vezes, o que passa a ser, é dos manuais, acto masturbatório. Ora, considerando-se que a punheta não é certamente um acto essencial, e mesmo não fazendo propriamente mal a ninguém, excepto à Nova Zelândia, que depois fica sem símbolos nacionais, ou ao Camões, que diz que ficou zarolho, ao contrário do Édipo, lá está, que por ter preferido foder em vez de esgalhar sozinho acabou por levar à auto-mutilação das vistinhas, pode vir a tornar-se potencial hábito ruim, um vício, se for assim repetida, de cada vez que se mija, inclusive em urinóis públicos, ou atrás de um arbusto, ou outros objectos inanimados, nos casos de maior aperto. Repare-se até que há como que uma certa dose de parasitismo nestes casos, em que um mau hábito se cola a uma necessidade básica do ser humano. Era, à falta de melhor comparação, até porque não há mesmo nenhuma, como se uma mulher quisesse ter uma conversa séria com o marido sempre que estivesse a dar a bola na televisão.
Enfim, mesmo sendo humanos de carne e osso e sangue e linfa e essas tretas todas, os monges, digo eu, não devem passar o tempo todo a sacudir o chicote, até porque o raio do saco que têm enfiado não deverá facilitar em nada. E já nem falo das monjas, obviamente. Quem diz o vício da masturbação, diria, e digo mesmo, todos os outros, porque os monges são reconhecidos como virtuosos do piano da moral, tocam apenas nas alvas teclas e deixam os negrumes de lado, alheiam-se dos vícios, dos pecados da carne… Além do mais, entre matinas, laudas, primas, terças, sextas, nonas, vésperas e completas, mais os trabalhinhos físicos e intelectuais, e uma ou outra sonequinha em camas de palha, que tempo tem um monge para ganhar vícios, quanto mais para os suportar?
E, com isto tudo, se chega facilmente à ideia subliminarmente subjacente de toda esta espécie de raciocínio: os defeitos do sistema de ensino português, nomeadamente no que à segurança rodoviária diz respeito, enquanto parte integrante da formação dos nossos brilhantes cidadãos de amanhã. Está certo que a ideia não será criar um país de monges, mas não ficava mal deixar de se fomentar certos vícios na juventude, e quanto mais jovem menos se deveria fazê-lo, como aquele de atravessar sempre nas ditas passadeiras. Noutros locais, noutras sociedades, até pode ser que isso seja um bom hábito, mas, respeitando a idiossincrasia lusa, temos de o considerar um vício, e bem pernicioso, diga-se, tão ou mais que o do tabaco, até porque é praticado ao ar livre, e sobre isso já ninguém protesta…

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