Esqueci-me de um pacote de pastilhas elásticas, inteirinho, no bolso doutro blusão...

Saudosismo ou barroquismo verbal, a verdade é que os portugueses têm, maioritariamente, uma certa dificuldade em se despedirem. Digo isto por me ter visto, em diversas ocasiões, preso numa rede intrincada de adeuses seguidos de mais conversa, seguida de mais adeuses até logos então até à próxima seguidos de mais conversa, e assim sucessivamente, até ao ponto de já ser tarde de mais para honrar compromissos agendados há que tempos e, derivado disso, nunca ter sido galardoado com o prémio Nobel da Paz, eu, que tantas vezes apaziguei gatos e cães à porrada, por vezes um branco e um outro preto, sendo que numa delas estraguei uma capa de dvd de um filme, a qual, sorrateiramente, escondi atrás das demais. Enfim...
Basta ver como os cortejos fúnebres são tão lentos, por cá, sem nada daquele ritmo nov'orleânico, já para não falar da duração quase desumana dos velórios. Ainda me lembro, como se tivesse sido há dez anos, dois meses e nove dias, de como as pessoas protestaram, no funeral da Amália, com a pressa do motorista do carro da funerária. Houve até quem tenha batido nos vidros da viatura, talvez com a esperança de partir um e, com isso, atrasar o inevitável adeus a uma voz já calada.
Basta ver como os selos para correio nacional peso até vinte gramas formato padronizado aumentaram, no espaço de um ano, dois cêntimos, para os actuais trinta e dois, de modo a compensar o excesso de peso nas despedidas, mas, sobretudo, nos parágrafos de post-scriptum.
Basta ver como continuamos atrasados, e cada vez mais divergentes, em relação à Europa mais desenvolvida, já para não falar do restante mundo mais desenvolvido. É o resultado de tempo acumulado em conversas pós-conversas abraços pós-abraços e quejandos pós-pós...
Tenho, aliás, para mim que o Vasco da Gama poderia perfeitamente ter chegado à Índia uns dois anos antes, a fazer contas por baixo... A ser muito rigoroso, talvez que em 1415, em vez de Ceuta, estivéssemos a desembarcar em Calecute... talvez que em 1789 estivéssemos a alunar, enquanto os franceses andariam, ainda, a rebentar com paióis (sendo que esta era a palavra que queria utilizar, desde o início desta parvoíce, e que estava difícil, irra!)

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