Fábula do spread a quatro e meio

O escorpião chegou-se ao sapo e disse-lhe:
- Sapo, precisava de passar para o outro lado do rio.
- E depois? - respondeu o sapo.
- Precisava que tu me levasses lá.
- Eu? Deves ser maluco!
- Não, a sério. Eles têm umas coisas para me dar, e se calhar, até ficas a lucrar também qualquer coisa.
- Mas eu não preciso de nada, já tenho tudo. Além de que tu não és de confiança.
- Claro que sou de confiança. E de certeza que não tens tudo. Vá, leva-me para lá, que depois eu recompenso-te.
- Tens a certeza de que é seguro?
- Claro que sim. olha para a corrente, que calma.
- E tu não me vais picar?
- Claro que não...
- Está bem, vamos lá, então.
A meio do caminho, o rio começou a ficar mais turbulento. Os redemoinhos quase apanhavam o sapo, que se via aflito, ainda para mais com o peso adicional do escorpião.
- Escorpião, não dá para me ajudares?
- Eu? a gente tinha concordado que tu é que me levavas para o outro lado.
- Sim, mas isso era quando o rio estava calminho.
- Pronto, mas para mim o rio ainda está calmo.
- Pois, mas eu estou a começar a ficar aflito. A sério, ajuda-me lá. Tenta ao menos dizer-me onde estão os maiores redemoinhos, que é para eu me desviar.
- Isso é uma coisa que nunca se sabe, ora estão, ora não estão. Aguenta mais um pouco, vá, está quase.
Quase a chegar à outra margem, uma onda mais forte arrastou o sapo, que foi contra uma rocha. Com duas patas quebradas, começou a ir ao fundo, enquanto se agitava em desespero. Entretanto, o escorpião nadava até solo firme.
- Escorpião, tu sabes nadar?
- Claro que sei!
- E porque é que não disseste? Porque é que não me ajudaste? Porque é que me pediste boleia?
- Ora essa, porque os meus amigos me davam mais se eu te levasse até eles. Mas não te preocupes, eu estou bem.
O sapo afundou-se e morreu, abraçado pelo lodo do leito fluvial.
- Que pena, esteve quase... Mas olha, é a vida! - pensava o escorpião enquanto chegava junto dos seus amigos dragões de komodo.

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