Era a porta de trás, se pudesse ser...

Anda para aí muito pessoal sem vida, como eu, e que só sabe mandar bitaites para o ar! Por exemplo, agora é aquela de que os pobres soldados portugueses não deviam ser mandados para cascos de rolha a combater uns homenzinhos maus, maus e sem maneiras, que eles usam as toalhas de mesa e de piquenique na cabeça, vejam lá, na cabeça!, porque assim sujeitam-se a serem mortos… Realmente, morrer é coisa para ser chato. Chato e doloroso, se for com um balázio nas tripas. Pelo menos é o que parece, a julgar pelas imagens do pessoal dos filmes que leva com estilhaços de granadas e tal e que ficam a segurar o intestino e a pedir MORFINA!!! MORFINA!!! Se eu estivesse numa situação parecida, eu lá ia gritar por morfina! Eu ia era querer um saquinho de algodão, álcool, betadine e um penso rápido, para estancar a hemorragia, que senão depois ainda me batiam em casa, por chegar naquele estado! Claro, eu nunca fui à tropa, por isso nunca fiquei a saber qual a sensação de estar a ser alvejado, logo, tenho a mesma autoridade moral para falar disto que um padre para ensinar a viver em matrimónio. Agora, quer-me parecer que esta corrente de opiniões contra o envio de tropas em missões para o estrangeiro é parva. Pelo simples facto de que o serviço militar é voluntário, e só segue a carreira marcial quem quer. É que é assim, há apenas três razões para um tipo se alistar numa das forças armadas: a) porque gosta de conviver com grupos de homens fardados e viris, logo, gente homossexual que nem deverá passar da inspecção; b) porque quer engatar gajas através do uniforme, muito ao estilo Top Gun, logo, gente que merece, sim, senhor!, uma oportunidade, mas que nunca deverá ser enviada para as frentes de batalha; c) porque quer andar à batatada e disparar uns balázios contra uns camones, logo, gente que serve para aquilo! E, como diz o povo, quem vai à guerra dá e leva, ou pelo menos sujeita-se, e todos os que lá andam devem saber disso à partida! Não estou a imaginar alguém a chegar à contenda e dizer: Então mas eles também podem atirar contra a gente? Se é assim, acho que vou ali apanhar a carreira das duas e chauzinho, foi um prazer!
um táxi ou a carreira e pronto, muito prazer e até sempre!Até porque andar de transportes rodoviários públicos e colectivos, vulgo autocarros, isso sim, isso pode tornar-se uma coisa bem mais perigosa que aquilo que um tipo está à espera! Quem não tem veículo próprio sujeita-se a botar os penantes na estrada, ou, caso tenha realmente necessidade de andar muitos quilómetros, esticar o braço e fazer sinal para o autocarro parar. E, a partir desse momento fatídico, tudo pode acontecer, a lista de coisas terríveis a que um gajo se sujeita é interminável! Logo à partida, pode dar-se o desagradabilíssimo caso de entrarmos num veículo cuja lotação esteja esgotada, no que diz respeito a lugares sentados, sendo por isso obrigados a percorrer todo o caminho em pé, sempre à espreita de um lugar que vague e controlando os velhos para que eles não mitrem o espaço a que temos direito. Pior ainda quando, para lá dos bancos, também o espaço de quem vai na vertical está quase todo ocupado! É o drama de conseguir chegar a uma barra ou um varão a que a gente se agarre, sem com isso ter de tocar no cabelo seboso dum tipo qualquer; o drama de ir fazendo e desfazendo curvas enquanto se dá e leva encontrões dos outros, o drama de um autocarro a cheirar a suor estival, ou com níveis quase negativos de oxigénio no inverno… Claro que um lugar sentado minimiza muita coisa, muito do desconforto causado por todos estes pressupostos, mas não garante uma viagem digna, muito menos tranquila. Ainda estamos sujeitos a muita merda! Uma peixeira com aquele cheirinho bom a escama a apodrecer ao sol do meio-dia que bote a canastra mesmo à nossa beirinha; uma vetusta matrona que decida alapar seu real cagueiro ao nosso lado, sendo que isso significa, na verdade, sentar-se no lugar dela e em metade do nosso; um tipo qualquer com cara de batráquio e hálito de equídeo que se sente ao nosso lado, teimando em tossir e bocejar sem tapar a boca, ou tapando, mas fazendo a expiração vir teimosamente na nossa direcção… É tanta coisa que um tipo até fica angustiado só de pensar… Claro, tesudas, ‘tá quieto! Essas ou vão de pé ou sentam-se noutras bandas, nunca se arriscam a sentar-se ao lado de um tipo que começa a largar um fiozinho de baba mal elas se aproximam. E, cúmulo dos cúmulos, a estupidez atroz e saloia com que somos brindados quase todas as viagens em doses alarves! Ainda outro dia, ia eu tentando esquecer o emplastro sentado ao meu lado, dei por mim a abanar todo, as ideias a saltarem dentro da caixa craniana como pevides de abóbora, o que pode ser muito perigoso quando se vai concentrado a pensar no rabo da Jessica Alba, as pessoas a dar cambalhotas em pleno veículo, a travagem e a guinada bruscas, os desaforos instantâneos, o idiota do ciclista que se tinha atravessado à frente sem aviso, Seu desgraçado não sabes o que andas a fazer?, apenas uma pessoa exigia que em tal situação se continuasse sem abrandar sequer, quanto mais manobrar perigosamente daquela forma, Ah, mas você é doida?! Pelas barbas de Darwin! Então mas o Charles perdeu toda a diversão da época vitoriana à procura das leis da natureza, até chegar a essa coisa belíssima da sobrevivência do mais apto, e, agora, já se quer impedir que a evolução siga o seu rumo? Claro que nestes casos o motorista deve seguir sempre em frente, se o ciclista realmente é forte e apto, conseguirá escapar ileso; se não escapar, ao menos sobrevive com umas feriditas, quanto muito umas fracturas; se ficar numa cadeira de rodas, adaptar-se-á; se morrer, não fazia cá falta nenhuma! Alguém que não resiste ao atropelamento maciço e imprevisto de um autocarro não merece andar a consumir oxigénio!
Ao menos o pessoal das forças armadas sabe ao que anda, e sabe que o seu oxigénio, em caso de escapar ao ataque suicida de mais um piqueniqueiro, é bem merecido. Eu, assim a modos de ver, até acho que nos faz bem, à humanidade, termos assim umas guerras, que sempre dá para ver afinal de que massa genética se deverão construir as gerações de amanhã. Agora, andar todos os dias de autocarro e ter de levar com aquela gente esquisita, isso é que não! Prefiro emigrar para Kandahar… Ó chefe, era a porta de trás, ó faz favor!

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