Um bilhete de ida para a Ilha dos Amores!

Parece que ontem houve inundação na Feira do Livro lisbonense… não uma inundação de cultura, mas mesmo de água, por causa de rebentamentos de condutas e não sei quê. Telefonaram da APEL para a EPAL, ou seja, um telefonema anagrâmico, e para a CML, a queixarem-se que não havia condições, e que os visitantes não conseguiam visitar, porque molhavam os pés e por aí fora… Dizem que o diálogo foi qualquer coisa como:
- Olhe, desculpe lá, não queria incomodar muito, mas era para ver se podiam tratar aqui duns canos na Feira do Livro, que isto está pior que o túnel do Marquês!
- Sim, senhor, iremos já tratar disso.
- Então posso anunciar nos altifalantes que, sei lá, por volta das 19h a situação estará resolvida?
- 19h de hoje ou de amanhã, amigo?
- De hoje, não?
- Ó amigo, 19h de hoje só se conseguir tapar isso com fita-cola, que a gente hoje não trabuca!
- Mas então o senhor é que disse que iam tratar disso já!!!
- Pois, já, no sentido de que vou JÁ pôr aqui um bilhetezinho a avisar o pessoal das reparações para amanhã irem aí tratar disso…
E por aí fora… Eu, sinceramente, acho que esta situação toda tem partes que sim, senhor!, e tem outras que se calhar não foi lá muito bem pensado!
Sim, senhor!, o pessoal tem direito a gozar um feriado religioso! Até porque estamos num estado laico! Sim, senhor!, acho bem que se promova uma reconstituição histórica do naufrágio do Camões, até porque é uma bela homenagem, sobretudo no certame que é!
Agora, se calhar isto não foi lá muito bem pensado! Primeiro, porque ontem o feriado era o do Corpo de Cristo, que, como se sabe, andou sobre as águas, e isso não é para qualquer um… Se a ideia era reconstituir essa passagem bíblica, então acho que foi uma coisa muito mal feitinha, valha-me o Altíssimo! Se a ideia é, como penso que é, reconstituir a cena do zarolho, então, mais valia esperarem por dia 10, que é, afinal, o dia dele! E, depois, faltou ali marketing, minha gente, faltou ali coerência, faltou ali um projecto bem organizado! Eu já não digo as roupinhas sexies do século XVI, mas ao menos umas palas à Luís Vaz bem que podiam ter distribuído ao pessoal que ia chegando à feira. Para dar um ar mais credível à cena. E arranjar umas ninfas… E, claro, um espaço fechado em que a água realmente acumulasse e fizesse aquilo parecer real! Aí, sim, senhor! Estou a imaginar centenas e centenas de pessoas com os paulos coelhos e as margaridas rebelos pintos, as lauras esquiveis e os nicholas sparks, sofregamente tentando evitar que se desfaçam, ao mesmo tempo que lutam pela própria vida, quais poetas épicos, tentando pagar o que devem…
- Quanto é… glurp… o Não há… glurp… coincidências? Glurp!
- Dez… glurp… Euros e… glurp… cinquenta cêntimos!
Mas não! Houve falta de organização, não houve nenhum speaker a avisar: pessoal, tudo a nadar como se tivessem Os Lusíadas na mão!, não houve nada disso! Houve só protestos! Havia de ser aqui na Feira do meu sítio, a ver se eu não vestia logo a fatiota que tenho à espera há anos para uma situação destas e não ia para lá!


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