Ao chegar ao fim do copo de leite, tinha passado, já se vê, por uma cabazada de temas e assuntos, o que mostra como somos bombardeados, de facto, por informação, e mais informação. Como li há uns tempos, recebemos mais estímulos informativos num dia, que o Leonardo Da Vinci na vida inteira. O que talvez justifique que ele tenha tido tantas ideias para tanta coisa, e tão antes do tempo... não perdendo horas e horas com resmas de informação, dedicou-se a criar, ele mesmo, coisas novas! Além de que, se ele quisesse um helicóptero, tinha mesmo de inventar um, não bastava telefonar... ou, melhor, inventar o telefone!
Gastei 12 fósforos (12!) para conseguir acender o fogão!
Enquanto ia bebericando o leite morninho assim aquecido, ia vendo as Euronews (insónia, a quanto obrigas!), nomeadamente uma reportagem sobre as políticas ambientais da União Europeia. Está previsto que nos próximos anos se consigam atingir 20% de electricidade produzida através de meios "limpos" - energias renováveis, portanto. Na Dinamarca, já atingiram os 20%, só com a energia eólica, e até andam a pensar em começar a exportar electricidade para a Alemanha, ou outros vizinhos. Curioso pensar que, na medieva idade, se tinha de pagar pelo uso dos moinhos dos senhores, e agora alguém vai pagar mais ou menos pela mesma coisa, pelo vento e pela sua força... Se calhar, era o Quixote que tinha razão, em ver gigantes, e não moinhos, ou se calhar gigante é a potencialidade do moinho, não o moinho em si... Também curioso, e até um pouco irónico-paradoxal, foi saber que a Greenpeace levou ontem a cabo um protesto contra o uso do carvão... na Dinamarca! Pelo que consegui perceber das imagens (sem comentários), chegaram ao cais de descarga de carvão de um porto dinamarquês (cujo nome obliterei) navegando num veleiro... e depois aproximaram-se da plataforma de descarga propriamente dita num pequeno barco a motor! Lá está! Incoerência! Eu já tinha reparado que, para ecologistas fanáticos, eles usavam demasiados barcos motorizados, mas pensei, ao ver o veleiro, que as coisas tinham mudado... só que o barquito mais pequeno estragou tudo! Por que não um barco a remos, um bote, como daqueles que há no Bom Jesus de Braga, para se andar a passear? Quem também protestou ontem foram os homossexuais masculinos, no Vaticano. Nem li o teor do protesto, mas não deve andar muito longe das questões da atitude da Santa Sé para com os homossexuais no geral, e os homossexuais eclesiásticos no particular. Eu acho que eles, para fazerem as coisas em condições, tinham de apresentar uma proposta de emenda constitucional, à Bíblia, portanto... a começar pelo Génesis 1, 22, e/ou Génesis 2, 23:24. Sim, Senhor, a gente multiplica-se, mas em chegando ali perto dos seis mil milhões e qualquer coisa, podemos virar larilas... e deixamos de abandonar tudo e mais alguma coisa por causa das mulheres. O mesmo princípio para os homossexuais femininos... Eu, aliás, quer-me parecer que o beijo do Judas foi, logo ali, uma primeira proposta do género... mas ardeu, como o 12º fósforo.
Ao chegar ao fim do copo de leite, tinha passado, já se vê, por uma cabazada de temas e assuntos, o que mostra como somos bombardeados, de facto, por informação, e mais informação. Como li há uns tempos, recebemos mais estímulos informativos num dia, que o Leonardo Da Vinci na vida inteira. O que talvez justifique que ele tenha tido tantas ideias para tanta coisa, e tão antes do tempo... não perdendo horas e horas com resmas de informação, dedicou-se a criar, ele mesmo, coisas novas! Além de que, se ele quisesse um helicóptero, tinha mesmo de inventar um, não bastava telefonar... ou, melhor, inventar o telefone!
Ao chegar ao fim do copo de leite, tinha passado, já se vê, por uma cabazada de temas e assuntos, o que mostra como somos bombardeados, de facto, por informação, e mais informação. Como li há uns tempos, recebemos mais estímulos informativos num dia, que o Leonardo Da Vinci na vida inteira. O que talvez justifique que ele tenha tido tantas ideias para tanta coisa, e tão antes do tempo... não perdendo horas e horas com resmas de informação, dedicou-se a criar, ele mesmo, coisas novas! Além de que, se ele quisesse um helicóptero, tinha mesmo de inventar um, não bastava telefonar... ou, melhor, inventar o telefone!
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Artur Semedo
05/12/2008
16:31
A Roda Alimentar, versão camarada José
- 10 senhas de racionamento para legumes e/ou fruta (cada senha, 1 couve, 1 beringela, 1 pêra...)
- 6 senhas de racionamento para cereais e/ou leguminosas (cada senha, 1 sacola de 250 gr)
- 2 senhas de racionamento para óleos e/ou gorduras (cada senha, 1 garrafinha de 75 cl de azeite, ou 150 gr de manteiga rançosa)
- 3 senhas de racionamento para carnes e/ou peixe (cada senha, 1 filete de peru, 1 bife ratado, 1 posta de pescada)
- 4 senhas de racionamento para lacticínios (cada senha, o produto diário de uma tetinha de vaca, cabra ou ovelha)
Porções calculadas para um conjunto de protelários unidos numa célula familiar, numa média de 6 elementos por unidade habitacional, de modo a garantir a subsistência durante uma semana.
A saciedade é o luxo dos burgueses e a fome dos que trabalham!!!
Coçado por
Artur Semedo
04/12/2008
11:44
A revolta do mobiliário!
"Espanha: Cama mata idosa" - título de uma, vá lá, "notícia" do Correio da Manhã.
Talvez por causa da atenção prestada à crise no imobiliário e essas tretas que se me escapam dos arames do pensamento, parece que o mobiliário decidiu vingar-se da humanidade, num claro acesso de ciúme! Só espero que os electrodomésticos não alinhem na cena, ou ainda teremos: "EUA: Frigorífico sodomiza taxista nova-iorquino"... e todos sabemos o quão corpulentos são os frigoríficos norte-americanos...
Talvez por causa da atenção prestada à crise no imobiliário e essas tretas que se me escapam dos arames do pensamento, parece que o mobiliário decidiu vingar-se da humanidade, num claro acesso de ciúme! Só espero que os electrodomésticos não alinhem na cena, ou ainda teremos: "EUA: Frigorífico sodomiza taxista nova-iorquino"... e todos sabemos o quão corpulentos são os frigoríficos norte-americanos...
Coçado por
Artur Semedo
02/12/2008
01:52
As anti-férias de um coçador manifestam-se em não haver manifestações
Estamos a atravessar aquele que é, provavelmente, o período mais conturbado nas relações ibéricas desde que o Godoy se lembrou de pegar numa laranja e dizer que Alcanizes estava vingado. Verdade seja dita, o shôr valido até foi meiguinho, podia ter dito algumas coisas bem mais violentas, como "Toma lá, Denis, ácido ascórbico pelo teu cu acima!" Foi simpático, da parte dele, ter ido meramente pela questão diplomática e não pela via do insulto pessoal.
Claro, no entretanto houve aquelas questiúnculas aquando e após a guerra civil espanhola, porque o shôr Presidente do Conselho e o señor Caudillo não se pintavam lá muito bem um ao outro. Talvez se tivessem a veia artística do Ailittla, ou a do D. Carlos, especialistas na aguarela, se pintassem melhor [e aqui começam e acabam todas as referências a D. Carlos, que até enjoou, no início do ano, com o regicídio e mais não sei o quê!]... ainda assim, nada que se assemelhe ao actual estado de coisas.
Os moços aqui do lado mandam para Portugal têxteis, fruta, legumes, capitais, entre muitos outros produtos e serviços, e tudo com farturinha e a bom preço... e qual é a nossa principal exportação para Espanha? Índices de sinistralidade! Rara a semana em que não há notícia de mais um autocarro de turistas, ou veículo repleto de emigrantes e respectivas famílias, ou de trabalhadores deslocados, que se tenha espatifado, aumentando assim o número de acidentes, de feridos, de mortos nas estradas espanholas.
De quando em vez, lá mandamos uns jogadores da bola para La Liga, a ganharem pipas de massa para não fazerem porra nenhuma. E ainda lhes ficámos com o Euro 2004, onde chegámos mais longe, tal como no Mundial 2006, mesmo com o shôr Felipe "Handicapped" Scolari ao leme. Ok, eles ganharam o Euro 2008, mas o coitado do Ronaldo tinha uma espécie de lesão antiga no pernil que só lhe começou a doer por volta do fim de Maio... e não tinha cremes hidratantes com ele, na Suiça.
Durante as férias da Páscoa, invadimos Lloret del Mar e Barcelona com canalhada bêbada que deixa tudo em pantanas e cheio de vomitado (pórtico da Sagrada Família incluído). Quem quiser cá passar umas férias, vindo aqui do lado, fode-se, que paga a gasolina mais cara!
Enfim, tanta confusão acaba por ter repercussões nas altas esferas do poder político (que são assim uma mistura de Bolas do Dragão com os Anéis do Poder à la Tolkien): o Sócrates manda de cá telegramas a chamar Sapateiro ao Zapatero, por causa das regras do acordo ortográfico, e, de lá, vem uma resposta em tom de "vê lá se não queres mas é um copo de cicuta pelo cu acima!" (sendo que é do conhecimento público que a cicuta arde mais nas hemorróidas que o ácido ascórbico), que o Zapatero não conhece Alcanizes e, ao que consta, Olivença, também não.
Resumindo, não me admira que daqui a uns tempos a relação familiar entre Portugal e Espanha seja revista e que, em vez de sermos irmãos, passemos a ser sogra e genro, sendo que o nosso papel me parece que será claramente o da velha matrona, eternamente chata, eternamente dedicada a estragar tudo o que está bem.
Porque, no fundo, são esses, sempre foram, os objectivos da existência de Portugal, ter pilas maiores que eles e estragar-lhes a festa. Foi claramente esse o intuito do Afonsinho ao fundar esta merda, ou o do Joãozinho, a restaurá-la: chatear os tipos aqui do lado, como os vizinhos que insistem em pôr a TV nas alturas às tantas da manhã (no caso dos moços, os vizinhos que mandam tocar os alaúdes mais alto, a meio da noute). Basta ver que uma das coisas que sempre irritou qualquer espanhol, para lá de se dizer que a Espanha não tem existência enquanto nação, ou que eles não são os maiores do mundo, foi a impossibilidade de se desenhar rápida e facilmente o seu território continental de uma forma estilizada. Enquanto que por cá basta desenhar um rectângulo a 3 para 1, em altura/largura, e dizer: "Isto representa Portugal", em Espanha, um professor que desenhe uma espécie de quadrilátero com um mamilo ao sul e outro a nordeste vai ter sempre um aluno chico-esperto a resmungar lá de trás: "Mira, Portugal no es España, coño!", aluno, esse, muito provavelmente filho de portugueses, mas nascido do lado de lá da fronteira por não haver maternidade onde nascer do lado de cá. Ou seja, um aluno que representa a segunda maior exportação portuguesa para Espanha...
Claro, no entretanto houve aquelas questiúnculas aquando e após a guerra civil espanhola, porque o shôr Presidente do Conselho e o señor Caudillo não se pintavam lá muito bem um ao outro. Talvez se tivessem a veia artística do Ailittla, ou a do D. Carlos, especialistas na aguarela, se pintassem melhor [e aqui começam e acabam todas as referências a D. Carlos, que até enjoou, no início do ano, com o regicídio e mais não sei o quê!]... ainda assim, nada que se assemelhe ao actual estado de coisas.
Os moços aqui do lado mandam para Portugal têxteis, fruta, legumes, capitais, entre muitos outros produtos e serviços, e tudo com farturinha e a bom preço... e qual é a nossa principal exportação para Espanha? Índices de sinistralidade! Rara a semana em que não há notícia de mais um autocarro de turistas, ou veículo repleto de emigrantes e respectivas famílias, ou de trabalhadores deslocados, que se tenha espatifado, aumentando assim o número de acidentes, de feridos, de mortos nas estradas espanholas.
De quando em vez, lá mandamos uns jogadores da bola para La Liga, a ganharem pipas de massa para não fazerem porra nenhuma. E ainda lhes ficámos com o Euro 2004, onde chegámos mais longe, tal como no Mundial 2006, mesmo com o shôr Felipe "Handicapped" Scolari ao leme. Ok, eles ganharam o Euro 2008, mas o coitado do Ronaldo tinha uma espécie de lesão antiga no pernil que só lhe começou a doer por volta do fim de Maio... e não tinha cremes hidratantes com ele, na Suiça.
Durante as férias da Páscoa, invadimos Lloret del Mar e Barcelona com canalhada bêbada que deixa tudo em pantanas e cheio de vomitado (pórtico da Sagrada Família incluído). Quem quiser cá passar umas férias, vindo aqui do lado, fode-se, que paga a gasolina mais cara!
Enfim, tanta confusão acaba por ter repercussões nas altas esferas do poder político (que são assim uma mistura de Bolas do Dragão com os Anéis do Poder à la Tolkien): o Sócrates manda de cá telegramas a chamar Sapateiro ao Zapatero, por causa das regras do acordo ortográfico, e, de lá, vem uma resposta em tom de "vê lá se não queres mas é um copo de cicuta pelo cu acima!" (sendo que é do conhecimento público que a cicuta arde mais nas hemorróidas que o ácido ascórbico), que o Zapatero não conhece Alcanizes e, ao que consta, Olivença, também não.
Resumindo, não me admira que daqui a uns tempos a relação familiar entre Portugal e Espanha seja revista e que, em vez de sermos irmãos, passemos a ser sogra e genro, sendo que o nosso papel me parece que será claramente o da velha matrona, eternamente chata, eternamente dedicada a estragar tudo o que está bem.
Porque, no fundo, são esses, sempre foram, os objectivos da existência de Portugal, ter pilas maiores que eles e estragar-lhes a festa. Foi claramente esse o intuito do Afonsinho ao fundar esta merda, ou o do Joãozinho, a restaurá-la: chatear os tipos aqui do lado, como os vizinhos que insistem em pôr a TV nas alturas às tantas da manhã (no caso dos moços, os vizinhos que mandam tocar os alaúdes mais alto, a meio da noute). Basta ver que uma das coisas que sempre irritou qualquer espanhol, para lá de se dizer que a Espanha não tem existência enquanto nação, ou que eles não são os maiores do mundo, foi a impossibilidade de se desenhar rápida e facilmente o seu território continental de uma forma estilizada. Enquanto que por cá basta desenhar um rectângulo a 3 para 1, em altura/largura, e dizer: "Isto representa Portugal", em Espanha, um professor que desenhe uma espécie de quadrilátero com um mamilo ao sul e outro a nordeste vai ter sempre um aluno chico-esperto a resmungar lá de trás: "Mira, Portugal no es España, coño!", aluno, esse, muito provavelmente filho de portugueses, mas nascido do lado de lá da fronteira por não haver maternidade onde nascer do lado de cá. Ou seja, um aluno que representa a segunda maior exportação portuguesa para Espanha...
Coçado por
Artur Semedo
01/12/2008
22:21
O Império da Redondilha
O Povo está na rua!
A Luta continua!
O Povo, unido,
Jamais será vencido!
Alberto, amigo,
O Povo está contigo!
Que têm estas palavras de ordem em comum? Vocabulário e sintaxe simples, rima, e um ritmo marcado pelo verso curto... Por que é tão importante que assim seja? Porque para, digamos, duas mil pessoas as poderem gritar em uníssono convém (1) que não contenham palavreado ou construções gramaticais demasiado rebuscadas, sob pena de uma grande percentagem dos manifestantes não o conseguir fazer; (2) que haja um tempo marcado pela rima e ritmo, o qual permita que sejam entoadas estas palavras sem se estar a pensar em acertar com as outras vozes.
Ora, hei visto, há uns tempos, uma tarja, à entrada de um hospital, pertencente a um sindicato e que rezava o seguinte:
Os enfermeiros no desemprego,
À ministra não darão sossego!
Sim, senhor!, temos rima... mas é só! Eu não digo que seja obrigatório o recurso à redondilha menor, nem sequer à maior, mas, pessoal, vamos lá ver se cortamos aí uma ou outra sílaba fonética, pode ser? É que fica difícil conseguir pôr mil gargantas a gritar isto em uníssono! O mais certo é o tipo do megafone começar, e quando estiver a acabar estarem os de trás a meio, ou até mesmo a tentar ainda perceber que raio de palavra de ordem se está a gritar, afinal! Ainda para mais, aquela revienga entre os complementos e o predicado não ajuda nada à festa! É que em dois versos longos termos apenas um sujeito, mais dois complementos, ambos precedendo a acção... que por sua vez está na negativa do futuro... ui! Que fartote! A sério, pessoal, vamos lá ver isto, ok?
A Luta continua!
O Povo, unido,
Jamais será vencido!
Alberto, amigo,
O Povo está contigo!
Que têm estas palavras de ordem em comum? Vocabulário e sintaxe simples, rima, e um ritmo marcado pelo verso curto... Por que é tão importante que assim seja? Porque para, digamos, duas mil pessoas as poderem gritar em uníssono convém (1) que não contenham palavreado ou construções gramaticais demasiado rebuscadas, sob pena de uma grande percentagem dos manifestantes não o conseguir fazer; (2) que haja um tempo marcado pela rima e ritmo, o qual permita que sejam entoadas estas palavras sem se estar a pensar em acertar com as outras vozes.
Ora, hei visto, há uns tempos, uma tarja, à entrada de um hospital, pertencente a um sindicato e que rezava o seguinte:
Os enfermeiros no desemprego,
À ministra não darão sossego!
Sim, senhor!, temos rima... mas é só! Eu não digo que seja obrigatório o recurso à redondilha menor, nem sequer à maior, mas, pessoal, vamos lá ver se cortamos aí uma ou outra sílaba fonética, pode ser? É que fica difícil conseguir pôr mil gargantas a gritar isto em uníssono! O mais certo é o tipo do megafone começar, e quando estiver a acabar estarem os de trás a meio, ou até mesmo a tentar ainda perceber que raio de palavra de ordem se está a gritar, afinal! Ainda para mais, aquela revienga entre os complementos e o predicado não ajuda nada à festa! É que em dois versos longos termos apenas um sujeito, mais dois complementos, ambos precedendo a acção... que por sua vez está na negativa do futuro... ui! Que fartote! A sério, pessoal, vamos lá ver isto, ok?
Coçado por
Artur Semedo
13:33
They can... maybe they will
Sujeito - O Barak Obama lá conseguiu ganhar as eleições...
Predicado - Sim! Há uma onda de regozijo um pouco por toda a parte.
Complemento - Incluindo no KKK! Finalmente vão poder linchar um presidente!
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Artur Semedo
05/11/2008
09:11
Dicionário de Biturbo #16
fossa séptica - (subs. fem.) fossa que não acredita nas merdas por que passa.
Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)
Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)
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Artur Semedo
31/10/2008
11:29
Dicionário de Biturbo #15
baioneta - (subs. fem.) mulher pequena, natural do concelho de Baião.
Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)
Fonte: Dicionário de Biturbo (não editado)
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Artur Semedo
01:09
Nossa Senhora, me dê a mão, cuide do meu coração...
Sujeito - Um açoreano foi considerado o melhor carpinteiro da Europa...
Predicado - Mas o mais corno do mundo continua a ser o S. José!
Complemento - Mas o mais corno... espera lá! Fodeste-me a piada!
Coçado por
Artur Semedo
06/10/2008
17:20
Décadas atrás do meu tempo!
Como é que apenas ontem me surgiu a óbvia evidência associativa das palavras: Bélgica, chocolate, aliciamento, pedofilia?
Coçado por
Artur Semedo
02/10/2008
00:23
Diálogos plausíveis...
... ou de como as abreviaturas podem ser perigosas.
1 - [no Registo Civil]
- Boa tarde. Queria um CU.
- E quer embrulhar, ou é para comer já?
2 - [no banco]
- Vou precisar de um documento de identificação.
- Se lhe mostrar o CU, serve?
3 - [na mesa de voto]
- Preciso que você me dê o seu CU.
- Ah, caramba! Esqueci-me dele nas outras calças!
Felizmente, alguém teve a brilhante ideia de passar o Cartão Único a Cartão do Cidadão... e eu só me lembrei destes diálogos tarde demais...
1 - [no Registo Civil]
- Boa tarde. Queria um CU.
- E quer embrulhar, ou é para comer já?
2 - [no banco]
- Vou precisar de um documento de identificação.
- Se lhe mostrar o CU, serve?
3 - [na mesa de voto]
- Preciso que você me dê o seu CU.
- Ah, caramba! Esqueci-me dele nas outras calças!
Felizmente, alguém teve a brilhante ideia de passar o Cartão Único a Cartão do Cidadão... e eu só me lembrei destes diálogos tarde demais...
Coçado por
Artur Semedo
19/09/2008
16:14
A existência não tem razão de ser...
Claro que é espectacular saber de onde viemos, saber quem somos, do que somos feitos... mas, a mim, o que incomoda mesmo é não sabermos peva sobre o para onde vamos...
Coçado por
Artur Semedo
23:09
... que talvez a repetição possa dissipar!
A Irmandade do Anel, com aquela mania de destruir torres, seria uma espécie de Al-Qaeda avant la lettre?
As barbas do Gandalf sempre me deixaram desconfiado...
Coçado por
Artur Semedo
11/09/2008
10:12
Da não-existência...
Um grupo de meliantes roubou-me a inspiração numa estação de serviço de uma auto-estrada, enquanto eu tentava levantar dinheiro, tendo também levado a caixa, e feito reféns dois funcionários do banco que a estavam a vistoriar...
A culpa? Do Código Penal, do Código Morse, do Sócrates e do Platão... ainda pedi opinião à Dama de Ferro Citrino, mas obtive apenas uma carta em branco, com a nota de rodapé dizendo: "Silêncio"
A culpa? Do Código Penal, do Código Morse, do Sócrates e do Platão... ainda pedi opinião à Dama de Ferro Citrino, mas obtive apenas uma carta em branco, com a nota de rodapé dizendo: "Silêncio"
Coçado por
Artur Semedo
03/09/2008
22:20
Como foi e como deveria ter sido... #1
Onde se lê "Quem nunca errou que atire a primeira pedra...", dever-se-ia ler: "Quem nunca errou que atire a primeira pedra, mas pedra-pomes, não vá um de vocês, engraçadinho, armar-se em virgem impoluta!"
Coçado por
Artur Semedo
20:46
Breves nótulas sobre uma verborreia insone #6
(palavras incoerentes escritas a cor azul no verso de uma folha em branco)
“Não existe verdadeiramente pintura abstracta; qualquer pintor parte limitado à partida pelas quatro linhas da tela” – dizem que tinha jeito para aforismos e para respostas espirituosas; dizem que punha os nervos em franja aos críticos de arte e mesmo a outros artistas que tentavam acompanhar o evoluir constante das tendências artísticas da época, tudo porque mudava de estilo e criava novos como quem muda de camisa, e mesmo assim talvez não mudasse tantas vezes de camisa; dizem que pintou algumas das mais geniais obras do século passado, em várias fases, muitas delas caracterizadas apenas pela predominância do uso de uma cor (não seria uma questão mera mente financeira, ia comprando as cores à medida que tinha dinheiro para elas?); dizem muita coisa acerca do homem. Eu só sei que ele disse uma coisa assim parecida com esta frase que aqui está. Ele, o Picasso, claro. (Acho que foi ele. Se não foi, azar, siga!)
Esta frase, de qualquer modo, leva-nos a vários pontos de interrogação, sendo que, como é óbvio e usual, não se responderá a nenhum, primeiro, porque não há capacidade; segundo, porque há demasiado sono.
Adiante, como disse, esta visão de Picasso leva-nos a colocar algumas questões, questões essas a que o próprio decerto gostaria de dar resposta, mas parece que não pode neste momento que está ocupado a desfazer-se em pó, se ainda não o está já! Vamos lá então, por ordem de profundeza de espírito das mesmas…
1) Picasso admite que não há pintura abstracta. No entanto, não se refere a mais nenhum tipo de arte. Pelo que: ou a pintura é um exemplo e toda a arte obedece a esta proposição; ou a pintura é uma excepção e a restante arte pode ser abstracta. Esta hipótese talvez fosse à partida a mais verosímil, visto que a pintura parece ser a única forma de arte com telas… por outro lado, o teatro e o bailado têm palcos, o cinema a tela da projecção, a música um certo número de notas, a fotografia… hmmm…
2) Se o pintor está limitado pelas quatro linhas da tela, então Picasso:
a) usou as telas quadriláteras como modelo para pintura, embora pressupondo que possa haver outras formas geométricas onde pintar;
b) esqueceu-se completamente disso, ainda para mais não havia então o graffiti como acontece hoje, nas paredes, nas carruagens, num sem número de telas ocasionais (sim, o graffiti é uma arte por si mesma, fazê-lo em locais que são interditos por lei é que se torna vandalismo)
3) Se se considerar a arte como uma forma de ver o mundo, e considerando a pintura como um exemplo de toda a arte, então Picasso considerava que o mundo não tinha abstracção pura? Ou seja, é impossível ao mundo existir sem ter certos cânones onde se possa encaixar, negando assim um Caos absoluto? Quase tão importante como isso, fazendo a transposição entre arte e mundo, então o mundo, na visão de Picasso, é também delimitado por quatro linhas, sendo portanto quadrilátero? (Ouvi dizer também que uns tipos provaram há uns séculos que afinal é esférico) E, nesse caso, visto que temos noção de três dimensões, não seria, isso sim, cúbico? Partindo do pressuposto que a resposta às últimas duas questões é Sim, mas Picasso era doido, ou quê?
4) Será que Picasso, tal como fizemos aqui nós, considerava, de facto, a arte como uma forma de ver o mundo, ou como um seu reflexo, ou considerava-a como uma coisa subsistente de per si? Considerando como correcta uma das primeiras duas opções, estaria a falar de um mundo-universo, ou do mundo-humano, isto é, de todas as coisas que existem, ou apenas da humanidade no meio desse todo?
5) Concluindo, considerando todas estas considerações, não deveremos nós considerar que os limites da tela, que os limites da arte, seja ela qual for, que os limites do mundo, que todos e quaisquer limites são apenas os limites inexoráveis da mente humana? E, assim, não variarão o mundo, a arte, a tela, de tamanho conforme os limites de cada um? Porque cada indivíduo humano desenha na tela em branco dos dias a obra-prima da sua vida, em pinceladas comandadas por aquilo que ele é no pensamento e na alma, porque, parafraseando Pessoa, não somos da nossa altura, mas sim do tamanho de tudo aquilo que conseguimos ver, e cada um de nós vê aquilo para que está preparado, e/ou para que se quer preparar.
Esta frase, de qualquer modo, leva-nos a vários pontos de interrogação, sendo que, como é óbvio e usual, não se responderá a nenhum, primeiro, porque não há capacidade; segundo, porque há demasiado sono.
Adiante, como disse, esta visão de Picasso leva-nos a colocar algumas questões, questões essas a que o próprio decerto gostaria de dar resposta, mas parece que não pode neste momento que está ocupado a desfazer-se em pó, se ainda não o está já! Vamos lá então, por ordem de profundeza de espírito das mesmas…
1) Picasso admite que não há pintura abstracta. No entanto, não se refere a mais nenhum tipo de arte. Pelo que: ou a pintura é um exemplo e toda a arte obedece a esta proposição; ou a pintura é uma excepção e a restante arte pode ser abstracta. Esta hipótese talvez fosse à partida a mais verosímil, visto que a pintura parece ser a única forma de arte com telas… por outro lado, o teatro e o bailado têm palcos, o cinema a tela da projecção, a música um certo número de notas, a fotografia… hmmm…
2) Se o pintor está limitado pelas quatro linhas da tela, então Picasso:
a) usou as telas quadriláteras como modelo para pintura, embora pressupondo que possa haver outras formas geométricas onde pintar;
b) esqueceu-se completamente disso, ainda para mais não havia então o graffiti como acontece hoje, nas paredes, nas carruagens, num sem número de telas ocasionais (sim, o graffiti é uma arte por si mesma, fazê-lo em locais que são interditos por lei é que se torna vandalismo)
3) Se se considerar a arte como uma forma de ver o mundo, e considerando a pintura como um exemplo de toda a arte, então Picasso considerava que o mundo não tinha abstracção pura? Ou seja, é impossível ao mundo existir sem ter certos cânones onde se possa encaixar, negando assim um Caos absoluto? Quase tão importante como isso, fazendo a transposição entre arte e mundo, então o mundo, na visão de Picasso, é também delimitado por quatro linhas, sendo portanto quadrilátero? (Ouvi dizer também que uns tipos provaram há uns séculos que afinal é esférico) E, nesse caso, visto que temos noção de três dimensões, não seria, isso sim, cúbico? Partindo do pressuposto que a resposta às últimas duas questões é Sim, mas Picasso era doido, ou quê?
4) Será que Picasso, tal como fizemos aqui nós, considerava, de facto, a arte como uma forma de ver o mundo, ou como um seu reflexo, ou considerava-a como uma coisa subsistente de per si? Considerando como correcta uma das primeiras duas opções, estaria a falar de um mundo-universo, ou do mundo-humano, isto é, de todas as coisas que existem, ou apenas da humanidade no meio desse todo?
5) Concluindo, considerando todas estas considerações, não deveremos nós considerar que os limites da tela, que os limites da arte, seja ela qual for, que os limites do mundo, que todos e quaisquer limites são apenas os limites inexoráveis da mente humana? E, assim, não variarão o mundo, a arte, a tela, de tamanho conforme os limites de cada um? Porque cada indivíduo humano desenha na tela em branco dos dias a obra-prima da sua vida, em pinceladas comandadas por aquilo que ele é no pensamento e na alma, porque, parafraseando Pessoa, não somos da nossa altura, mas sim do tamanho de tudo aquilo que conseguimos ver, e cada um de nós vê aquilo para que está preparado, e/ou para que se quer preparar.
FIM
(e mais um par de botas)
(e mais um par de botas)
Coçado por
Artur Semedo
01/08/2008
20:47
Breves nótulas sobre uma verborreia insone #5
(palavras incoerentes escritas a cor azul no verso de uma folha em branco)
“A democracia é um péssimo sistema político, mas é o menos mau até hoje inventado!” – para lá de ser conhecido pelo hábito de fumar charuto, mesmo sem o humedecer previamente num certo e determinado local, como um outro conhecido político; por saudar as multidões com o símbolo do V de Vitória feito com o dedo indicador e médio da mão direita, símbolo esse, aliás, ligado à maçonaria de que fazia parte; por ter ganho um Prémio Nobel da Literatura apesar de só ter realizado algumas aventuras poéticas de mediana qualidade, e aqui sigo o que dizem os entendidos, pois não posso afirmar nada sobre algo que nunca li; por ter sido o primeiro-ministro do Reino Unido durante a IIª Guerra Mundial e ter tido um papel determinante na oposição ao avanço das forças do Eixo, em particular da Alemanha nazi de Hitler; Winston Churchill é também conhecido por ser o rei do discurso e do aforismo, pelo menos no que ao século XX diz respeito, título esse, no que toca ao aforismo, disputado, quanto muito, por Albert Einstein e Henry Ford. São famosos os seus discursos durante o já referido confronto bélico, encorajando quer militares quer civis para a resistência e para a dura e penosa refrega; mas também as pequenas frases e expressões com que resumia toda uma ideia, de forma simples e bela. Quantas vezes não falamos, por exemplo, em “cortina de ferro”, esquecendo-nos que é este o autor da expressão acerca da construção do bloco soviético, e o seu enclausuramento sobre si mesmo, e não apenas sobre a construção física do muro de Berlim. Churchill era conhecido por tudo isso e muito mais, mas convém não aceitar as suas frases como verdades absolutas, sob pena de permanecermos na obtusidade linear do seguidismo unanimista, quais escolásticos alimentando-se do magister dix it dos Aquinos e Agostinhos e Aristóteles. Crédito seja dado a Churchill por concluir que a democracia é um péssimo sistema político, mas é preciso compará-la com outros, para perceber se é, de facto, o melhor, ou aliás, o menos mau de todos.
Antes de avançarmos, porém, uma pergunta exige resposta, ainda que rápida, pois sem ela muito do que se vai tratar ficaria menos compreensível: O que é o poder? Neste caso, O que é o poder político? De acordo com a visão tripartida do poder teorizada na sua forma mais célebre por Montesquieu, este divide-se em três ramos principais, essa espécie de número mágico no tocante à organização de qualquer sistema racional na história da humanidade, a relembrar: o legislativo, o executivo, o judicial, ou seja, o elaborar leis ou normas, o colocá-las em prática, o julgar e punir quem não as cumpra. Ao longo do tempo, é de referir também, foram mais os séculos e as civilizações em que esses três poderes estiveram sob a alçada da mesma “mão” que aqueles em que se encontraram separados, como preconizou o teorizador francês. Assim, o poder político não é mais que o poder de ordenar uma sociedade, criar um paradigma normativo, e punitivo, para regular e controlar o seu funcionamento com o máximo de harmonia e o mínimo de entropia possível.
Nestes parágrafos que se seguem, falaremos, quase sempre erroneamente, sobre três tipos, para não fugir à regra, de sistemas políticos, não os agrupando segundo os conteúdos desses paradigmas, ou seja, qualitativamente, mas antes segundo o número daqueles que detêm poder, ou seja, quantitativamente. Assim, partiremos do extremo do “poder de todos” para o seu oposto, o “poder de um só”, acabando no intermédio, e com imensa confusão pelo meio. Adiante…
Vamos, então, à denominada democracia, esse sistema político cujo étimo revela a origem grega de ser o povo (demos) que detém o poder (kratos), surgido na Antiguidade Clássica, fruto de uma evolução secular nas esferas do poder das cidades-estado gregas, particularmente a ateniense, e que permaneceu adormecido nos subconscientes dos demos europeus por muitos séculos. Temos, desde já, que distinguir as duas versões assim baptizadas: a democracia directa, ou ateniense, e a democracia representativa, ou moderna, aquela a que se refere Churchill.
Muitos criticam duramente o sistema ateniense por ser exclusivista, segregador. Primeiro, por excluir as mulheres. Segundo, por permitir a escravatura. Terceiro, por não permitir a naturalização dos estrangeiros. Por fim, somando os números da população ateniense chegam à conclusão que o grupo dos cidadãos, os homens livres que restavam depois de excluídos todos os outros habitantes da pólis, era uma larga minoria. Certo, aceitamos que, na Atenas clássica, as mulheres não tinham poder nem independência, havia escravatura, que os estrangeiros eram membros menores da população e que os cidadãos eram uma minoria, só não aceitamos que se deitem as culpas para o coitado do sistema político democrático, que não a tem! O que está aqui em causa é uma concepção de sistema social, uma visão da sociedade e de seus elementos, os valores sobre os quais ela assentava. Para os gregos não havia descriminação sexual porque a mulher era vista como um ser naturalmente inferior (lembremo-nos de Aristóteles, por muitos séculos O Mestre das coisas filosóficas nas universidades europeias, que tinha dúvidas acerca da categoria a que pertencia a mulher, se à dos animais, se a uma à parte, entre aqueles e o homem). Da mesma forma, a escravatura era uma coisa natural e evidente, necessária mesmo, e os estrangeiros não eram vistos senão como gente sem direito a decidir. No fundo, o povo, o demos, era constituído apenas e só pelos homens cidadãos, eram sinónimos as duas coisas, por isso se chamou democrático ao seu sistema. O poder do povo = O poder dos cidadãos = O poder dos homens atenienses livres. Convém ainda dizermos que qualquer tentativa de criticar a democracia, ou mesmo a sociedade, ateniense segundo estes parâmetros atrás mencionados é, para nós, um anacronismo mental, pois deriva da transposição da cultura e da mentalidade actuais para uma outra época onde ela não existia de todo!
De qualquer modo, o grupo dos cidadãos era, de facto, pequeno em termos absolutos, pelo que o seu sistema acabou por funcionar, também por ser bem arquitectado. Cargos rotativos, limite de mandatos, voto directo em todas as leis apresentadas. Tudo coisas que são inegavelmente positivas, algumas das quais ainda hoje se luta por implementar. Da mesma forma, porém, os defeitos surgem-nos actuais: a corrupção e o viciamento das eleições, o usufruto do poder para proveito próprio (dizem que se chama cleptocracia), o absentismo do corpo político… Esses eram, verdadeiramente, os problemas da democracia ateniense. Porém, a razão de tais problemas é mais ampla, mas não vamos, para já, por esse trilho.
Vamos antes ao hoje! Como funciona hoje? Chamamos de representativa à democracia actual. Mudámos, no entretanto, os nossos valores e modelos sociais: trouxemos as mulheres para o seu devido lugar, mas sem auferir exactamente os mesmos ordenados, obviamente; deixámos de lado os escravos, porque é muito melhor substituí-los por assalariados livres e miseráveis; permitimos aos estrangeiros a sua naturalização e o respectivo acesso à cidadania, embora ainda haja quem veja esse assunto como algo a tratar caso a caso, conformemente (é, provavelmente, a primeira vez que utilizamos esta palavra na vida) aos seus interesses. Eliminámos, portanto, o que seriam os defeitos do sistema social ateniense. E quanto ao sistema político propriamente dito? Bem, os cidadãos não têm direito senão a mais ou menos um voto por ano, para escolherem então quem os represente nos cargos públicos, o que não foge ao que os atenienses criaram, mas todas as posteriores decisões estão para lá do seu poder efectivo, muitas vezes do seu entendimento, e são tomadas pelos elementos desse grupo de representantes que, vamos lá ver, ocupa de facto os cargos rotativamente entre si, às vezes sem limites de mandatos, e sem prestar grandes contas a ninguém. Certo que o modelo de voto directo é impraticável em grupos que não sejam pequenos, mas a falta de responsabilização da chamada classe política é confrangedora. Mais parece que, hoje em dia, essa classe forma o que outrora foi o grupo dos cidadãos atenienses, os verdadeiros e únicos detentores de poder efectivo, que apenas precisam de confirmação periódica com uma cruz de róbora num papel em branco onde possam desenhar livremente. Quanto ao resto, tudo na mesma, cá estão a corrupção, o absentismo, o amiguismo, o nepotismo, as clientelas de beija-cus e bons rapazes. Mas, vá lá, estamos em democracia, e isso ainda quer dizer que o povo tem o poder, certo?!
Pronto, está feito o esboço dos sistemas em que o povo detém o poder… Erro! Falta um outro, pelo menos, visto que na confusão fabril dos pensamentos muitas coisas se nos escapam, que é, na sua simplicidade teórica máxima, despido de tudo o mais, um sistema de poder em que este é exercido pelo povo, na acepção de toda a população (claro está que para estas contas nunca se incluem os que ainda estão na menoridade, o que parece óbvio). Como dissemos logo no início, o que nos interessa não são os nomes dos bois, nem o modo como estes tratam as vacas, mas sim quantos bois são, afinal…
E o seu nome é… comunismo! (Podem começar a apupar os que quiserem, decerto que já o fizeram anteriormente os mesmos ou outros)
Para os que já se estão a levantar da cadeira, uma ressalva apenas: vamo-nos ficar pelo nível teórico, absolutamente teórico…
O comunismo é, de facto, uma ideologia política, mas não só. É também uma visão social, como todas as ideologias políticas, no fundo. É como na literatura, em que não existe só a experiência de escrever um livro, mas também a de o ler. Ambas são literatura, na verdade, e ambas são importantes, ambas são etapas artísticas de uma criação. No fundo, todos os actos da criação humana pressupõem, ainda que muitas vezes implicitamente, uma outra face. Assim, tal como falham muitas obras por lhes faltar leitores ou a compreensão neles, também certas ideologias falham por lhes falhar a sociedade. O comunismo é, assim, uma teoria que pressupõe uma metamorfose social e ética, uma mudança radical nos valores humanos, nas sociedades humanas, e esse será, por ventura, o seu elo fraco, mas já lá iremos.
Ghandi disse, certa vez, que “é fácil falar sobre religião ou política quando se teve um bom almoço e se tem a perspectiva de um jantar ainda melhor, mas para os que são miseráveis e nada têm Deus só pode aparecer na forma de pão e manteiga.” Frase de uma simplicidade quase ingénua, aparentemente ingénua, e simultaneamente tão bela e acertada. Os sonhos do Homem são sempre inversamente proporcionais em relação àquilo que o faz sofrer!
Os ideólogos do comunismo, embora não sofressem na pele os males do seu tempo, foram filhos de um casal revolucionário, o pai insalubre de seu nome Revolução Industrial, e a mãe idealista também conhecida por Revolução Francesa. Sendo o século XIX uma época ainda marcada pela supremacia patriarcal, é normal que tenham sido deveras afectados pela autoridade vil e brutal de seu pai, pelos sintomas da sua doença: homens que vilipendiam homens na sua dignidade, deixando-os cair em sarjetas de miséria, a exploração homófaga das pessoas bestializadas… Podemos, claro está, ressalvar que desde há milénios homens eram subjugados por outros da mesma espécie, escravizados desde as primeiras civilizações… Mas o mundo pós revolução industrial tinha um extra: a sujidade cinza de fuligem dos fornos em que ardiam o carvão e derretiam os metais, mas também os corações cada vez mais angustiados. E, todos o sabemos, só há um lugar onde procurar conforto nos momentos de maior angústia, o colo materno, o calor e afago dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, enfim a justiça na terra, trazidas pela mamã francesa em pontuais exemplos práticos. Não admira, portanto, que a ideologia comunista esteja assente num sistema social igualitário, em que todos trabalham para o bem comum, sem ninguém deter capital, essa fonte de poder sobre os outros, a não ser o capital de trabalho, individual, inalienável, usado para beneficio de todos por igual e não explorado por ninguém. Todos esses trabalhadores, a massa de proletários, a população no seu todo, deteriam um poder efectivo, ao votar directamente na tomada de decisões, elegendo posteriormente os representantes para que indicassem em cada vez maiores assembleias o sentido do seu voto maioritário, e não o contrário, em que se elege e os representantes decidem. No fundo, é como uma síntese dos modelos anteriores: a democracia directa como sendo a tese, a democracia representativa como sendo a antítese, conjugando o que de melhor tinham, de modo a tornar a democracia um sistema justo e, ao mesmo tempo, praticável em quantidades gigantescas de população. Algo muito ao jeito da filosofia hegeliana que Marx tanto admirava e tanto usou nas suas teorias. Claro que para apoiar esta mudança de sistema político seria necessária uma alteração dos valores sociais, e mesmo do Homem em si…
Ora, parece-nos que começa precisamente por aí a fraqueza da ideologia comunista. Talvez por ser alemão, e estar ainda demasiado perto o romantismo de Göethe, Marx deixou-se levar no encantamento de uma visão idealista, a possibilidade do Homem mudar verdadeiramente, a confiança na alteração profunda do que tem sido a mente humana desde sempre. Como já referimos, o Homem, ser gregário por natureza, é também um ser altamente competitivo, no que não foge aos restantes elementos do reino animal, pelo que há sempre quem queira ter uma certa supremacia, um ascendente de qualquer tipo, político, monetário, etc., sobre os outros. Somada esta sedução pelo poder de qualquer tipo a que o ser humano não consegue resistir por fraqueza sua (ou condicionamento biológico???) ao pressuposto de uma fase evolutiva em que, no sentido da democracia comunista, haja um partido que tome conta do poder em nome da massa proletária, ainda que apenas de forma transitória, não podia deixar de dar no que deu! E deu, sim senhor!
Claro, podem perguntar: Mas então e o modelo anarquista, em que há ausência de partido? A questão é que, sendo um sistema político uma forma de exercer o poder numa sociedade, e sendo a anarquia uma teoria que defende não só a ausência de partido, mas também a abolição de qualquer tipo de poder, bem, não é bem um sistema político… e, sendo assim, fica fora deste arranjo cacofónico e atonal de palavras.
Como contraponto directo às visões democráticas do poder, temos as visões autocráticas, isto é, as visões de um sistema político em que o poder esteja absolutamente nas mãos de uma só pessoa, e quando referimos o poder fazemo-lo para as suas três vertentes. Assim, nas autocracias, o poder atinge o seu grau de concentração máxima, quer se trate de regimes monárquicos quer de ditatoriais. Estes são os dois casos mais relevantes e merecem alguma atenção.
Essencialmente, o que define uma monarquia é a sucessão familiar do chefe; enquanto numa ditadura essa sucessão pode, por exemplo, ser feita dentro do partido, numa ditadura partidária, ou dentro da família do dito ditador, uma ditadura de cariz monárquico, nesse caso. Porém, no que diz respeito à ideologia, uma monarquia pode ser opressora, ou não, enquanto a ditadura é sempre conotada com a restrição de liberdades, mesmo que não seja esse o seu sentido etimológico. Esta é de todas a maior questão, pois prende-se com o facto de a monarquia não ser, por si mesma, um sistema político, ou uma ideologia do mesmo, antes um regime de hierarquia política, pelo que pode assentar em ideologias diferentes, conforme o caso. Recuperando uma distinção anterior, a monarquia distingue-se, em sentido lato, dos outros tipos de modelo político apenas pela questão da quantidade dos que têm poder, não pela qualidade do poder exercido. Na verdade, o sistema político das monarquias do mundo ocidental é a democracia representativa, pelo que estas não constituem verdadeiras autocracias!
Até aqui pensamos que seja tudo consensual, ou não, portanto, lá vais mais uma bombarda: nunca houve, exceptuando talvez pequenos espaços de tempo, uma verdadeira autocracia em nenhuma civilização humana! E dizemos civilização para excluir à partida as vivências em grupos tribais, ou em estádios gregários ainda menos complexos, onde a existência de autocracias seria/é normal. E nunca houve pela mesma razão que leva a que a democracia directa seja impraticável hoje em dia: devido ao quantitativo populacional. Da mesma forma que não é possível a milhões de pessoas exercerem diariamente o seu direito ao voto sobre todas as decisões da vida pública, por causa dos limites impostos pela vida privada, também não é possível a uma só pessoa dominar por si mesma todas as esferas do poder, criar leis, executar leis, julgar infractores. Quanto muito, houve brevíssimos momentos em que tal sucedeu, mas logo as autocracias esporádicas decaíram em outros sistemas, tornaram-se burocracias, tecnocracias, ou outros… A presença do tirano todo-poderoso reinando, dominando, sobre toda uma massa obediente de súbditos não é mais que uma figura de estilo política, uma imagética criada na mentalidade humana, um faz de conta, uma fachada para dissimular um sistema em que vários detêm o poder, e levar todos os outros a seguir ordeiramente o chefe único. Sendo assim, não falaremos mais sobre autocracias.
Tendo abordado, ainda que ao de leve, o 80 e o 8, a democracia e a autocracia, o governo de todo o povo ou de apenas um elemento, resta, então, uma incursão pelos vales do governo de alguns, as oligarquias no sentido etimológico de governo (arche) de poucos (oligoi), e não no sentido actual de governo ou poder de alguns baseado nas suas posses e/ou riqueza pecuniária. Este sistema de poder político tem diversas manifestações, mesmo não sendo este o termo mais correcto, sendo as mais importantes e faladas a aristocracia (governo dos melhores), a gerontocracia (governo dos mais velhos), a tecnocracia (governos dos técnicos ou economicistas) e a burocracia (governo dos que fazem parte do aparelho de estado). Uma coisa têm todos eles em comum, os elementos dos grupos poderosos consideram-se de alguma forma superiores aos restantes, razão pela qual devem deter esse poder, seja por terem maior grandeza moral, seja por serem mais velhos e experientes, seja por dominarem as estruturas da máquina do poder ou traçarem melhores planos de enriquecimento estatal.
Sendo assim, vamos então realizar um movimento de basculação, aproveitando estas noções sobre oligarquia, uma analepse gradual, de modo a chegar a um ponto e voltar atrás, quase seguindo o mesmo percurso.
Em relação às oligarquias propriamente ditas e reconhecidas enquanto tal, elas existiram sempre e existem ainda nos nossos dias: são as tribos africanas ou americanas onde o poder dos anciãos é ainda aceite por todos os outros como normal; são as oligarquias financeiras como a russa que fazem mover as políticas do estado; são as tecnocracias como a chinesa, em que a visão economicista e técnica do poder se sobrepõe cada vez mais aos princípios do próprio partido. Talvez não sejam grupos com o mesmo encanto romântico de uma aristocracia à moda europeia, ou de um senado romano, mas existem e são inegáveis.
Voltando atrás um ponto, regressamos ao mundo das autarquias, perdão!, das autocracias que, como já vimos, se deturpam, necessariamente, em sistemas oligárquicos, quase sempre de molde aristocrata, burocrata/tecnocrata ou partidocrata (este termo é de nossa inteira e absoluta responsabilidade). Os monarcas absolutos que delegavam poder nas mãos de nobres e ministros, até se esvaziarem de poder efectivo, restando o tal poder simbólico da imagem de poder, como já referimos; os estados ditatoriais contemporâneos que funciona(va)m de igual modo, substituindo o monarca pelo ditador, os nobres pelos elementos do partido; e, no meio de tudo isto, sempre presentes, os burocratas, os desconhecidos que manobram as estruturas de poder.
E agora a democracia outra vez. Como vimos, ao promover a fase do partido, o comunismo levou a que surgissem oligarquias de molde partidário, e esse é, como já vimos, um erro primário. A democracia ateniense era, no seu tempo, um sistema em que o considerado povo detinha, de facto, o poder. A questão é que, como também sabemos, o modelo social ateniense é hoje uma relíquia do passado no mundo dito ocidental, ou ocidentalizado, para ser mais verdadeiro, pelo que, posto no mundo actual, com todas as suas preposições, seria um sistema oligárquico. E, mesmo assim, não deixaram de se formar oligarquias dentro dos cidadãos da Atenas clássica. Por fim, a democracia representativa de hoje em dia. Como já dissemos, o poder verdadeiro, no sentido que lhe atribuímos inicialmente, está, nos nossos dias, em mãos de alguns grupos antagónicos, os partidos, mas que, no seu todo, formam a dita classe política, o grupo dos que governam. Mais dissemos ao afirmar que essa classe é, hoje, o equivalente ao grupo dos cidadãos na antiga Grécia, uma minoria dentro do todo da população de onde lhe advém, de forma institucionalizada, a base sustentadora do seu poder, essas eleições que não são, dizemo-lo sem temor, nada mais que uma farsa destinada a mascarar a verdade que é: a democracia actual não mudou nada em relação à ateniense, apenas se fingiu de ovelha.
Por tudo isto, afirmamos também, é errado dizer-se que haja sistemas políticos que não sejam, pelo menos segundo os nossos valores sociais actuais, isto é, numa sociedade igualitária, que não sejam, repetimos, oligárquicos!
Até aqui escrevemos factos, todos eles manipulados e alguns mesmo inventados para nos darem razão, e escrevemos opiniões, todas elas sem fundamento, pelo que voltamos ao mote inicial que nos trouxe por este super tortuoso caminho e prosseguiremos depois apenas com mais e mais opiniões. “A democracia é um péssimo sistema político, mas é o menos mau até hoje inventado!”, disse Churchill. Nós dizemos que a democracia é um péssimo sistema político quando se tenta impô-lo, quando é implementado a martelo, sem ser pedido por ninguém. Convençamo-nos que uma sociedade habituada à estratificação, à obediência milenar à figura do líder, como, por exemplo, a chinesa, não é campo fértil onde cresçam as roseiras cravadas de espinhos da democracia. E mesmo que fossem suaves cravos! Uma sociedade onde os valores religiosos se sobreponham a todos os outros só pode ser igualitária e ter um sistema político democrático se houver concordância entre esses valores e as ideias de democracia. Não vale a pena tentar transformar o Médio Oriente, mais as suas teocracias islâmicas e a sua sociedade patriarcal, num oásis democrático se a sociedade não está receptiva. Impor a democracia à força é absolutamente contrário aos valores democráticos! A democracia é apenas um razoável sistema para a sociedade ocidentalizada, que se rege por princípios de igualdade de acesso a todas as oportunidades, incluindo a oportunidade e oportunismo do poder político. Uma sociedade que não se importa de viver no conforto dessa ideia ilusória de poder de todos e para todos, porque lhe sabe bem viver assim e tudo funciona tranquilamente. A democracia é apenas mais uma forma de alguns mandarem em todos, a forma ocidental de o fazer.
Por isso, a democracia não é melhor nem pior que os outros sistemas, que todas as outras oligarquias, por si mesma. Democracia não é melhor que gerontocracia! Apenas é mais adequada à nossa sociedade, e parece ter resultados mais positivos em termos de funcionamento, pacifismo interno, enriquecimento… Mas se certas mentalidades assumem a riqueza como um bem desnecessário!!! Outras sociedades, com outras formas de pensar, adoptaram sistemas diversos, e não deixaram, mesmo assim, de prosperar! Mesmo que o mundo ocidental possa exercer uma atracção em relação aos resto do mundo, pela sua aura de prosperidade, ela [a democracia] não surgirá nesses locais sem que a sociedade mude previamente, se torne semelhante à nossa, pense como a nossa, e isso depende apenas deles, não de nós! Não vale a pena interrogar Ó democracia, onde estás, quem te demora, e não ter uma base social onde repouse depois de chegar!
Por fim, queremos concluir ainda que não há sistemas perfeitos, porque todos os sistemas, de qualquer ramo do conhecimento, são imperfeitos, sofrem de entropias! E, para além disso, somos humanos, o que já é imperfeição que chegue!
Achamos que já chega de inventar noções disparatadas e é tempo de assentar neurónios no conforto do leito, enquanto ouvimos, oh, coincidência!, o Palma a cantar… “Celebrou-se a liberdade/ A igualdade e a fraternidade que acabavam de nascer/ Mas ao chegar a vez de cada um/ Trabalhar para o bem comum/ Aí começaram os dissabores/ E em vez de ficarem unidos/ Dividiram-se em mil partidos/ Lá no fundo, todos queriam ser…/ Ditadores!”
Antes de avançarmos, porém, uma pergunta exige resposta, ainda que rápida, pois sem ela muito do que se vai tratar ficaria menos compreensível: O que é o poder? Neste caso, O que é o poder político? De acordo com a visão tripartida do poder teorizada na sua forma mais célebre por Montesquieu, este divide-se em três ramos principais, essa espécie de número mágico no tocante à organização de qualquer sistema racional na história da humanidade, a relembrar: o legislativo, o executivo, o judicial, ou seja, o elaborar leis ou normas, o colocá-las em prática, o julgar e punir quem não as cumpra. Ao longo do tempo, é de referir também, foram mais os séculos e as civilizações em que esses três poderes estiveram sob a alçada da mesma “mão” que aqueles em que se encontraram separados, como preconizou o teorizador francês. Assim, o poder político não é mais que o poder de ordenar uma sociedade, criar um paradigma normativo, e punitivo, para regular e controlar o seu funcionamento com o máximo de harmonia e o mínimo de entropia possível.
Nestes parágrafos que se seguem, falaremos, quase sempre erroneamente, sobre três tipos, para não fugir à regra, de sistemas políticos, não os agrupando segundo os conteúdos desses paradigmas, ou seja, qualitativamente, mas antes segundo o número daqueles que detêm poder, ou seja, quantitativamente. Assim, partiremos do extremo do “poder de todos” para o seu oposto, o “poder de um só”, acabando no intermédio, e com imensa confusão pelo meio. Adiante…
Vamos, então, à denominada democracia, esse sistema político cujo étimo revela a origem grega de ser o povo (demos) que detém o poder (kratos), surgido na Antiguidade Clássica, fruto de uma evolução secular nas esferas do poder das cidades-estado gregas, particularmente a ateniense, e que permaneceu adormecido nos subconscientes dos demos europeus por muitos séculos. Temos, desde já, que distinguir as duas versões assim baptizadas: a democracia directa, ou ateniense, e a democracia representativa, ou moderna, aquela a que se refere Churchill.
Muitos criticam duramente o sistema ateniense por ser exclusivista, segregador. Primeiro, por excluir as mulheres. Segundo, por permitir a escravatura. Terceiro, por não permitir a naturalização dos estrangeiros. Por fim, somando os números da população ateniense chegam à conclusão que o grupo dos cidadãos, os homens livres que restavam depois de excluídos todos os outros habitantes da pólis, era uma larga minoria. Certo, aceitamos que, na Atenas clássica, as mulheres não tinham poder nem independência, havia escravatura, que os estrangeiros eram membros menores da população e que os cidadãos eram uma minoria, só não aceitamos que se deitem as culpas para o coitado do sistema político democrático, que não a tem! O que está aqui em causa é uma concepção de sistema social, uma visão da sociedade e de seus elementos, os valores sobre os quais ela assentava. Para os gregos não havia descriminação sexual porque a mulher era vista como um ser naturalmente inferior (lembremo-nos de Aristóteles, por muitos séculos O Mestre das coisas filosóficas nas universidades europeias, que tinha dúvidas acerca da categoria a que pertencia a mulher, se à dos animais, se a uma à parte, entre aqueles e o homem). Da mesma forma, a escravatura era uma coisa natural e evidente, necessária mesmo, e os estrangeiros não eram vistos senão como gente sem direito a decidir. No fundo, o povo, o demos, era constituído apenas e só pelos homens cidadãos, eram sinónimos as duas coisas, por isso se chamou democrático ao seu sistema. O poder do povo = O poder dos cidadãos = O poder dos homens atenienses livres. Convém ainda dizermos que qualquer tentativa de criticar a democracia, ou mesmo a sociedade, ateniense segundo estes parâmetros atrás mencionados é, para nós, um anacronismo mental, pois deriva da transposição da cultura e da mentalidade actuais para uma outra época onde ela não existia de todo!
De qualquer modo, o grupo dos cidadãos era, de facto, pequeno em termos absolutos, pelo que o seu sistema acabou por funcionar, também por ser bem arquitectado. Cargos rotativos, limite de mandatos, voto directo em todas as leis apresentadas. Tudo coisas que são inegavelmente positivas, algumas das quais ainda hoje se luta por implementar. Da mesma forma, porém, os defeitos surgem-nos actuais: a corrupção e o viciamento das eleições, o usufruto do poder para proveito próprio (dizem que se chama cleptocracia), o absentismo do corpo político… Esses eram, verdadeiramente, os problemas da democracia ateniense. Porém, a razão de tais problemas é mais ampla, mas não vamos, para já, por esse trilho.
Vamos antes ao hoje! Como funciona hoje? Chamamos de representativa à democracia actual. Mudámos, no entretanto, os nossos valores e modelos sociais: trouxemos as mulheres para o seu devido lugar, mas sem auferir exactamente os mesmos ordenados, obviamente; deixámos de lado os escravos, porque é muito melhor substituí-los por assalariados livres e miseráveis; permitimos aos estrangeiros a sua naturalização e o respectivo acesso à cidadania, embora ainda haja quem veja esse assunto como algo a tratar caso a caso, conformemente (é, provavelmente, a primeira vez que utilizamos esta palavra na vida) aos seus interesses. Eliminámos, portanto, o que seriam os defeitos do sistema social ateniense. E quanto ao sistema político propriamente dito? Bem, os cidadãos não têm direito senão a mais ou menos um voto por ano, para escolherem então quem os represente nos cargos públicos, o que não foge ao que os atenienses criaram, mas todas as posteriores decisões estão para lá do seu poder efectivo, muitas vezes do seu entendimento, e são tomadas pelos elementos desse grupo de representantes que, vamos lá ver, ocupa de facto os cargos rotativamente entre si, às vezes sem limites de mandatos, e sem prestar grandes contas a ninguém. Certo que o modelo de voto directo é impraticável em grupos que não sejam pequenos, mas a falta de responsabilização da chamada classe política é confrangedora. Mais parece que, hoje em dia, essa classe forma o que outrora foi o grupo dos cidadãos atenienses, os verdadeiros e únicos detentores de poder efectivo, que apenas precisam de confirmação periódica com uma cruz de róbora num papel em branco onde possam desenhar livremente. Quanto ao resto, tudo na mesma, cá estão a corrupção, o absentismo, o amiguismo, o nepotismo, as clientelas de beija-cus e bons rapazes. Mas, vá lá, estamos em democracia, e isso ainda quer dizer que o povo tem o poder, certo?!
Pronto, está feito o esboço dos sistemas em que o povo detém o poder… Erro! Falta um outro, pelo menos, visto que na confusão fabril dos pensamentos muitas coisas se nos escapam, que é, na sua simplicidade teórica máxima, despido de tudo o mais, um sistema de poder em que este é exercido pelo povo, na acepção de toda a população (claro está que para estas contas nunca se incluem os que ainda estão na menoridade, o que parece óbvio). Como dissemos logo no início, o que nos interessa não são os nomes dos bois, nem o modo como estes tratam as vacas, mas sim quantos bois são, afinal…
E o seu nome é… comunismo! (Podem começar a apupar os que quiserem, decerto que já o fizeram anteriormente os mesmos ou outros)
Para os que já se estão a levantar da cadeira, uma ressalva apenas: vamo-nos ficar pelo nível teórico, absolutamente teórico…
O comunismo é, de facto, uma ideologia política, mas não só. É também uma visão social, como todas as ideologias políticas, no fundo. É como na literatura, em que não existe só a experiência de escrever um livro, mas também a de o ler. Ambas são literatura, na verdade, e ambas são importantes, ambas são etapas artísticas de uma criação. No fundo, todos os actos da criação humana pressupõem, ainda que muitas vezes implicitamente, uma outra face. Assim, tal como falham muitas obras por lhes faltar leitores ou a compreensão neles, também certas ideologias falham por lhes falhar a sociedade. O comunismo é, assim, uma teoria que pressupõe uma metamorfose social e ética, uma mudança radical nos valores humanos, nas sociedades humanas, e esse será, por ventura, o seu elo fraco, mas já lá iremos.
Ghandi disse, certa vez, que “é fácil falar sobre religião ou política quando se teve um bom almoço e se tem a perspectiva de um jantar ainda melhor, mas para os que são miseráveis e nada têm Deus só pode aparecer na forma de pão e manteiga.” Frase de uma simplicidade quase ingénua, aparentemente ingénua, e simultaneamente tão bela e acertada. Os sonhos do Homem são sempre inversamente proporcionais em relação àquilo que o faz sofrer!
Os ideólogos do comunismo, embora não sofressem na pele os males do seu tempo, foram filhos de um casal revolucionário, o pai insalubre de seu nome Revolução Industrial, e a mãe idealista também conhecida por Revolução Francesa. Sendo o século XIX uma época ainda marcada pela supremacia patriarcal, é normal que tenham sido deveras afectados pela autoridade vil e brutal de seu pai, pelos sintomas da sua doença: homens que vilipendiam homens na sua dignidade, deixando-os cair em sarjetas de miséria, a exploração homófaga das pessoas bestializadas… Podemos, claro está, ressalvar que desde há milénios homens eram subjugados por outros da mesma espécie, escravizados desde as primeiras civilizações… Mas o mundo pós revolução industrial tinha um extra: a sujidade cinza de fuligem dos fornos em que ardiam o carvão e derretiam os metais, mas também os corações cada vez mais angustiados. E, todos o sabemos, só há um lugar onde procurar conforto nos momentos de maior angústia, o colo materno, o calor e afago dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, enfim a justiça na terra, trazidas pela mamã francesa em pontuais exemplos práticos. Não admira, portanto, que a ideologia comunista esteja assente num sistema social igualitário, em que todos trabalham para o bem comum, sem ninguém deter capital, essa fonte de poder sobre os outros, a não ser o capital de trabalho, individual, inalienável, usado para beneficio de todos por igual e não explorado por ninguém. Todos esses trabalhadores, a massa de proletários, a população no seu todo, deteriam um poder efectivo, ao votar directamente na tomada de decisões, elegendo posteriormente os representantes para que indicassem em cada vez maiores assembleias o sentido do seu voto maioritário, e não o contrário, em que se elege e os representantes decidem. No fundo, é como uma síntese dos modelos anteriores: a democracia directa como sendo a tese, a democracia representativa como sendo a antítese, conjugando o que de melhor tinham, de modo a tornar a democracia um sistema justo e, ao mesmo tempo, praticável em quantidades gigantescas de população. Algo muito ao jeito da filosofia hegeliana que Marx tanto admirava e tanto usou nas suas teorias. Claro que para apoiar esta mudança de sistema político seria necessária uma alteração dos valores sociais, e mesmo do Homem em si…
Ora, parece-nos que começa precisamente por aí a fraqueza da ideologia comunista. Talvez por ser alemão, e estar ainda demasiado perto o romantismo de Göethe, Marx deixou-se levar no encantamento de uma visão idealista, a possibilidade do Homem mudar verdadeiramente, a confiança na alteração profunda do que tem sido a mente humana desde sempre. Como já referimos, o Homem, ser gregário por natureza, é também um ser altamente competitivo, no que não foge aos restantes elementos do reino animal, pelo que há sempre quem queira ter uma certa supremacia, um ascendente de qualquer tipo, político, monetário, etc., sobre os outros. Somada esta sedução pelo poder de qualquer tipo a que o ser humano não consegue resistir por fraqueza sua (ou condicionamento biológico???) ao pressuposto de uma fase evolutiva em que, no sentido da democracia comunista, haja um partido que tome conta do poder em nome da massa proletária, ainda que apenas de forma transitória, não podia deixar de dar no que deu! E deu, sim senhor!
Claro, podem perguntar: Mas então e o modelo anarquista, em que há ausência de partido? A questão é que, sendo um sistema político uma forma de exercer o poder numa sociedade, e sendo a anarquia uma teoria que defende não só a ausência de partido, mas também a abolição de qualquer tipo de poder, bem, não é bem um sistema político… e, sendo assim, fica fora deste arranjo cacofónico e atonal de palavras.
Como contraponto directo às visões democráticas do poder, temos as visões autocráticas, isto é, as visões de um sistema político em que o poder esteja absolutamente nas mãos de uma só pessoa, e quando referimos o poder fazemo-lo para as suas três vertentes. Assim, nas autocracias, o poder atinge o seu grau de concentração máxima, quer se trate de regimes monárquicos quer de ditatoriais. Estes são os dois casos mais relevantes e merecem alguma atenção.
Essencialmente, o que define uma monarquia é a sucessão familiar do chefe; enquanto numa ditadura essa sucessão pode, por exemplo, ser feita dentro do partido, numa ditadura partidária, ou dentro da família do dito ditador, uma ditadura de cariz monárquico, nesse caso. Porém, no que diz respeito à ideologia, uma monarquia pode ser opressora, ou não, enquanto a ditadura é sempre conotada com a restrição de liberdades, mesmo que não seja esse o seu sentido etimológico. Esta é de todas a maior questão, pois prende-se com o facto de a monarquia não ser, por si mesma, um sistema político, ou uma ideologia do mesmo, antes um regime de hierarquia política, pelo que pode assentar em ideologias diferentes, conforme o caso. Recuperando uma distinção anterior, a monarquia distingue-se, em sentido lato, dos outros tipos de modelo político apenas pela questão da quantidade dos que têm poder, não pela qualidade do poder exercido. Na verdade, o sistema político das monarquias do mundo ocidental é a democracia representativa, pelo que estas não constituem verdadeiras autocracias!
Até aqui pensamos que seja tudo consensual, ou não, portanto, lá vais mais uma bombarda: nunca houve, exceptuando talvez pequenos espaços de tempo, uma verdadeira autocracia em nenhuma civilização humana! E dizemos civilização para excluir à partida as vivências em grupos tribais, ou em estádios gregários ainda menos complexos, onde a existência de autocracias seria/é normal. E nunca houve pela mesma razão que leva a que a democracia directa seja impraticável hoje em dia: devido ao quantitativo populacional. Da mesma forma que não é possível a milhões de pessoas exercerem diariamente o seu direito ao voto sobre todas as decisões da vida pública, por causa dos limites impostos pela vida privada, também não é possível a uma só pessoa dominar por si mesma todas as esferas do poder, criar leis, executar leis, julgar infractores. Quanto muito, houve brevíssimos momentos em que tal sucedeu, mas logo as autocracias esporádicas decaíram em outros sistemas, tornaram-se burocracias, tecnocracias, ou outros… A presença do tirano todo-poderoso reinando, dominando, sobre toda uma massa obediente de súbditos não é mais que uma figura de estilo política, uma imagética criada na mentalidade humana, um faz de conta, uma fachada para dissimular um sistema em que vários detêm o poder, e levar todos os outros a seguir ordeiramente o chefe único. Sendo assim, não falaremos mais sobre autocracias.
Tendo abordado, ainda que ao de leve, o 80 e o 8, a democracia e a autocracia, o governo de todo o povo ou de apenas um elemento, resta, então, uma incursão pelos vales do governo de alguns, as oligarquias no sentido etimológico de governo (arche) de poucos (oligoi), e não no sentido actual de governo ou poder de alguns baseado nas suas posses e/ou riqueza pecuniária. Este sistema de poder político tem diversas manifestações, mesmo não sendo este o termo mais correcto, sendo as mais importantes e faladas a aristocracia (governo dos melhores), a gerontocracia (governo dos mais velhos), a tecnocracia (governos dos técnicos ou economicistas) e a burocracia (governo dos que fazem parte do aparelho de estado). Uma coisa têm todos eles em comum, os elementos dos grupos poderosos consideram-se de alguma forma superiores aos restantes, razão pela qual devem deter esse poder, seja por terem maior grandeza moral, seja por serem mais velhos e experientes, seja por dominarem as estruturas da máquina do poder ou traçarem melhores planos de enriquecimento estatal.
Sendo assim, vamos então realizar um movimento de basculação, aproveitando estas noções sobre oligarquia, uma analepse gradual, de modo a chegar a um ponto e voltar atrás, quase seguindo o mesmo percurso.
Em relação às oligarquias propriamente ditas e reconhecidas enquanto tal, elas existiram sempre e existem ainda nos nossos dias: são as tribos africanas ou americanas onde o poder dos anciãos é ainda aceite por todos os outros como normal; são as oligarquias financeiras como a russa que fazem mover as políticas do estado; são as tecnocracias como a chinesa, em que a visão economicista e técnica do poder se sobrepõe cada vez mais aos princípios do próprio partido. Talvez não sejam grupos com o mesmo encanto romântico de uma aristocracia à moda europeia, ou de um senado romano, mas existem e são inegáveis.
Voltando atrás um ponto, regressamos ao mundo das autarquias, perdão!, das autocracias que, como já vimos, se deturpam, necessariamente, em sistemas oligárquicos, quase sempre de molde aristocrata, burocrata/tecnocrata ou partidocrata (este termo é de nossa inteira e absoluta responsabilidade). Os monarcas absolutos que delegavam poder nas mãos de nobres e ministros, até se esvaziarem de poder efectivo, restando o tal poder simbólico da imagem de poder, como já referimos; os estados ditatoriais contemporâneos que funciona(va)m de igual modo, substituindo o monarca pelo ditador, os nobres pelos elementos do partido; e, no meio de tudo isto, sempre presentes, os burocratas, os desconhecidos que manobram as estruturas de poder.
E agora a democracia outra vez. Como vimos, ao promover a fase do partido, o comunismo levou a que surgissem oligarquias de molde partidário, e esse é, como já vimos, um erro primário. A democracia ateniense era, no seu tempo, um sistema em que o considerado povo detinha, de facto, o poder. A questão é que, como também sabemos, o modelo social ateniense é hoje uma relíquia do passado no mundo dito ocidental, ou ocidentalizado, para ser mais verdadeiro, pelo que, posto no mundo actual, com todas as suas preposições, seria um sistema oligárquico. E, mesmo assim, não deixaram de se formar oligarquias dentro dos cidadãos da Atenas clássica. Por fim, a democracia representativa de hoje em dia. Como já dissemos, o poder verdadeiro, no sentido que lhe atribuímos inicialmente, está, nos nossos dias, em mãos de alguns grupos antagónicos, os partidos, mas que, no seu todo, formam a dita classe política, o grupo dos que governam. Mais dissemos ao afirmar que essa classe é, hoje, o equivalente ao grupo dos cidadãos na antiga Grécia, uma minoria dentro do todo da população de onde lhe advém, de forma institucionalizada, a base sustentadora do seu poder, essas eleições que não são, dizemo-lo sem temor, nada mais que uma farsa destinada a mascarar a verdade que é: a democracia actual não mudou nada em relação à ateniense, apenas se fingiu de ovelha.
Por tudo isto, afirmamos também, é errado dizer-se que haja sistemas políticos que não sejam, pelo menos segundo os nossos valores sociais actuais, isto é, numa sociedade igualitária, que não sejam, repetimos, oligárquicos!
Até aqui escrevemos factos, todos eles manipulados e alguns mesmo inventados para nos darem razão, e escrevemos opiniões, todas elas sem fundamento, pelo que voltamos ao mote inicial que nos trouxe por este super tortuoso caminho e prosseguiremos depois apenas com mais e mais opiniões. “A democracia é um péssimo sistema político, mas é o menos mau até hoje inventado!”, disse Churchill. Nós dizemos que a democracia é um péssimo sistema político quando se tenta impô-lo, quando é implementado a martelo, sem ser pedido por ninguém. Convençamo-nos que uma sociedade habituada à estratificação, à obediência milenar à figura do líder, como, por exemplo, a chinesa, não é campo fértil onde cresçam as roseiras cravadas de espinhos da democracia. E mesmo que fossem suaves cravos! Uma sociedade onde os valores religiosos se sobreponham a todos os outros só pode ser igualitária e ter um sistema político democrático se houver concordância entre esses valores e as ideias de democracia. Não vale a pena tentar transformar o Médio Oriente, mais as suas teocracias islâmicas e a sua sociedade patriarcal, num oásis democrático se a sociedade não está receptiva. Impor a democracia à força é absolutamente contrário aos valores democráticos! A democracia é apenas um razoável sistema para a sociedade ocidentalizada, que se rege por princípios de igualdade de acesso a todas as oportunidades, incluindo a oportunidade e oportunismo do poder político. Uma sociedade que não se importa de viver no conforto dessa ideia ilusória de poder de todos e para todos, porque lhe sabe bem viver assim e tudo funciona tranquilamente. A democracia é apenas mais uma forma de alguns mandarem em todos, a forma ocidental de o fazer.
Por isso, a democracia não é melhor nem pior que os outros sistemas, que todas as outras oligarquias, por si mesma. Democracia não é melhor que gerontocracia! Apenas é mais adequada à nossa sociedade, e parece ter resultados mais positivos em termos de funcionamento, pacifismo interno, enriquecimento… Mas se certas mentalidades assumem a riqueza como um bem desnecessário!!! Outras sociedades, com outras formas de pensar, adoptaram sistemas diversos, e não deixaram, mesmo assim, de prosperar! Mesmo que o mundo ocidental possa exercer uma atracção em relação aos resto do mundo, pela sua aura de prosperidade, ela [a democracia] não surgirá nesses locais sem que a sociedade mude previamente, se torne semelhante à nossa, pense como a nossa, e isso depende apenas deles, não de nós! Não vale a pena interrogar Ó democracia, onde estás, quem te demora, e não ter uma base social onde repouse depois de chegar!
Por fim, queremos concluir ainda que não há sistemas perfeitos, porque todos os sistemas, de qualquer ramo do conhecimento, são imperfeitos, sofrem de entropias! E, para além disso, somos humanos, o que já é imperfeição que chegue!
Achamos que já chega de inventar noções disparatadas e é tempo de assentar neurónios no conforto do leito, enquanto ouvimos, oh, coincidência!, o Palma a cantar… “Celebrou-se a liberdade/ A igualdade e a fraternidade que acabavam de nascer/ Mas ao chegar a vez de cada um/ Trabalhar para o bem comum/ Aí começaram os dissabores/ E em vez de ficarem unidos/ Dividiram-se em mil partidos/ Lá no fundo, todos queriam ser…/ Ditadores!”
FIM
(ah, se eu mandasse!)
(ah, se eu mandasse!)
Coçado por
Artur Semedo
31/07/2008
22:25
Breves nótulas sobre uma verborreia insone #4
(palavras incoerentes escritas a cor azul no verso de uma folha em branco)
“Só merece a liberdade e a vida quem diariamente tem que a conquistar” – depois de temas como vida/morte, beleza/monstruosidade, deuses/sonhos, todos eles feitos de parelhas, dicotómicas umas, sinónimas outras, a confusão senil do meio sono trouxe-me à mente esta frase do expoente máximo do romantismo de tipo alemão, um tal de Göethe, dizem, ou seja, veio à baila o tema político. Pelo menos é que parece numa primeira leitura, pois se trata de conquista, de luta pela liberdade e pela vida, como uma frase que resuma em si o fim último do espírito revolucionário, conquistar os direitos que aos homens todos por igual devem ser reconhecidos. Mas não apeteceu aos neurónios, ou à massa encefálica, ou lá ao que seja responsável pelos pensamentos, andar a transbordar verbos, substantivos, pronomes e o resto da gramática toda ela sobre essa coisa de liberdade, nem de igualdade, nem de fraternidade, pai, filho e espírito santo da nouvelle santíssima trindade revolucionária francesa. E decaem os pensamentos, como os átomos mais os seus isótopos radioactivos, em outras questões que possam estar mais além, no âmbito estritamente pessoal e íntimo de cada ser humano.
Disse António Lobo Antunes, autor que aprecio, mesmo que esteja ainda começando a desbravar a floresta negra de caracteres da sua escrita, que, após o 25 de Abril, sentiu dificuldades em viver em liberdade com a então sua esposa, razão pela qual se divorciou. Isto poderia causar espanto pois, atingida a tão almejada liberdade, sacudido o jugo do Estado Novo, teoricamente o povo português pôde passar a actuar sem estar preocupado com normas e restrições ditatoriais emanadas de outrem, e isso não parece ter nada a ver com as questões matrimoniais. Porém, o próprio afirmou que o problema é que lhe faltava o haver essas mesmas normas e restrições, como se até àquele momento todas as relações de definissem, fossem de que tipo fossem e incluindo a mencionada, pelo ambiente sociológico e político do país, sem o qual desabavam quais castelos de cartas assentes numa mesa coxa, periclitantes até à derrocada final, como se fossem teorias assentes num não mais existente paradigma, à espera de um novo para evoluírem, ou, neste caso, se extinguirem. E concluiu, numa estocada final, touché, que isso de liberdade é o “ser-se livre dentro de uma prisão que nós próprios construímos!”
Esta frase bateu-me na cabeça que nem um tijolo caído de uma grua e fez-me pensar, mais que a própria frase de Göethe que já vai lá para trás. No fundo, está em causa o haver liberdade plena, pois, segundo esta perspectiva, ela realmente nunca existe verdadeiramente. O que há são limites, esferas de liberdade, mais ou menos apertados, conforme a prisão que, não o Estado, ou outra entidade exterior qualquer, produza, mas, nós mesmos construamos em nosso redor, como um muro para nos proteger de algo. Se há coisas que todos podemos fazer, respeitando as leis, mas apenas alguns o fazem, então é porque a grande maioria se censura a si mesma, se auto-impõe um limite e uma restrição à sua vontade, ao seu desejo, quiçá ao seu instinto.
Pensei, então, no caso de alguém que viva desde muito tenra idade num pleno e absoluto isolamento em relação a qualquer companhia ou interferência humana, sem nunca ter sido condicionado por normas parentais, sociais, religiosas, estatais ou de outra origem qualquer. Tal pessoa poderia, abrigado do lápis censor, fazer tudo o que lhe aprouvesse, até mesmo entrar pelo campo do que se chamaria, na nossa liberdade democrática com 32 anos, libertinagem. Mas eis que uma outra questão surge, premente: sem contacto com outros seres da sua espécie, tal humano ficaria restrito, obviamente, à luta pela sobrevivência diária, e nada mais; e isso não lhe seria uma restrição, nem um motivo de insatisfação (a não ser, pensei com gracejo, a impossibilidade do coito, mas adiante), pois sem a possibilidade, ou melhor, sem o reconhecimento da possibilidade de algo mais que sobreviver, tal não é desejado, logo restariam, apenas, os limites ditados pelo instinto, por esse mesmo instinto de sobrevivência, quadro normativo último de toda a acção humana. Como quem diz que o ser humano não deixa a si mesmo transpor o limiar da sobrevivência. E, no entanto, uns morrem de fome e outros atiram balas directamente nos seus corações, e todos eles vivem em sociedade...
Disse António Lobo Antunes, autor que aprecio, mesmo que esteja ainda começando a desbravar a floresta negra de caracteres da sua escrita, que, após o 25 de Abril, sentiu dificuldades em viver em liberdade com a então sua esposa, razão pela qual se divorciou. Isto poderia causar espanto pois, atingida a tão almejada liberdade, sacudido o jugo do Estado Novo, teoricamente o povo português pôde passar a actuar sem estar preocupado com normas e restrições ditatoriais emanadas de outrem, e isso não parece ter nada a ver com as questões matrimoniais. Porém, o próprio afirmou que o problema é que lhe faltava o haver essas mesmas normas e restrições, como se até àquele momento todas as relações de definissem, fossem de que tipo fossem e incluindo a mencionada, pelo ambiente sociológico e político do país, sem o qual desabavam quais castelos de cartas assentes numa mesa coxa, periclitantes até à derrocada final, como se fossem teorias assentes num não mais existente paradigma, à espera de um novo para evoluírem, ou, neste caso, se extinguirem. E concluiu, numa estocada final, touché, que isso de liberdade é o “ser-se livre dentro de uma prisão que nós próprios construímos!”
Esta frase bateu-me na cabeça que nem um tijolo caído de uma grua e fez-me pensar, mais que a própria frase de Göethe que já vai lá para trás. No fundo, está em causa o haver liberdade plena, pois, segundo esta perspectiva, ela realmente nunca existe verdadeiramente. O que há são limites, esferas de liberdade, mais ou menos apertados, conforme a prisão que, não o Estado, ou outra entidade exterior qualquer, produza, mas, nós mesmos construamos em nosso redor, como um muro para nos proteger de algo. Se há coisas que todos podemos fazer, respeitando as leis, mas apenas alguns o fazem, então é porque a grande maioria se censura a si mesma, se auto-impõe um limite e uma restrição à sua vontade, ao seu desejo, quiçá ao seu instinto.
Pensei, então, no caso de alguém que viva desde muito tenra idade num pleno e absoluto isolamento em relação a qualquer companhia ou interferência humana, sem nunca ter sido condicionado por normas parentais, sociais, religiosas, estatais ou de outra origem qualquer. Tal pessoa poderia, abrigado do lápis censor, fazer tudo o que lhe aprouvesse, até mesmo entrar pelo campo do que se chamaria, na nossa liberdade democrática com 32 anos, libertinagem. Mas eis que uma outra questão surge, premente: sem contacto com outros seres da sua espécie, tal humano ficaria restrito, obviamente, à luta pela sobrevivência diária, e nada mais; e isso não lhe seria uma restrição, nem um motivo de insatisfação (a não ser, pensei com gracejo, a impossibilidade do coito, mas adiante), pois sem a possibilidade, ou melhor, sem o reconhecimento da possibilidade de algo mais que sobreviver, tal não é desejado, logo restariam, apenas, os limites ditados pelo instinto, por esse mesmo instinto de sobrevivência, quadro normativo último de toda a acção humana. Como quem diz que o ser humano não deixa a si mesmo transpor o limiar da sobrevivência. E, no entanto, uns morrem de fome e outros atiram balas directamente nos seus corações, e todos eles vivem em sociedade...
FIM
(o meio sono tem destas coisas, esta confusão nas palavras)
Coçado por
Artur Semedo
30/07/2008
22:42
Breves nótulas sobre uma verborreia insone #3
(palavras incoerentes escritas a cor azul no verso de uma folha em branco)
“Os sonhos são como os deuses; se não se acredita neles, eles deixam de existir.” - entre dois discursos inflamados perante o Senado, um tratado de gramática ou retórica, e, quiçá, uma fuga para o Egipto, Cícero, grandiloquente cidadão da República Romana, deixou-nos esta peça de artilharia virada contra a nossa cabeça, pronta a despedaçá-la em estilhaços disformes de angústia e insónia. Os sonhos, os sonhos...
O que são os sonhos? Essas partículas subatómicas da nossa mente, quarks vagabundeando pelas areias movediças do subconsciente, peça de teatro com as cortinas das pálpebras encerradas, onde representamos para nós mesmos as nossas ambições, os nossos medos, as nossas angústias, encobertos por máscaras do mundo conhecido ou por conhecer! Esses depósitos de traumas e assuntos irresolutos, símbolos sexuais, para uns; mensagens enviadas directamente pelo divino, em código quase sempre, para advertir de catástrofes e tragédias pessoais ou colectivas, ou para anunciar a chegada há tanto esperada de um messias redentor, para muitos outros durante muito tempo! São esses os sonhos que vemos sem tocar durante o repouso do sono! Aliás, para os gregos antigos, Morfeu, deus dos sonhos, era filho do próprio Hipnos, o deus do sono. Mas, e apesar da relação estabelecida entre sonhos e deuses pelo próprio Cícero, serão esses meandros da mente aquilo que está em causa?
Ou não são, isso sim, aqueles sonhos que aparecem enquanto estamos despertos e perfeitamente conscientes do funcionamento dos nossos raciocínios, os nossos desejos e ambições enunciados tal e qual eles são, sem códigos malabarísticos nem nebulosas de significado, o querer algo com muita força e acreditar que, lutando por tal desiderato, ele será atingido? O acreditar ou não em desconexas reconstruções de momentos díspares no tempo e no espaço, e seus possíveis significados, não é importante, sobretudo quando comparado com a fé num objectivo claro e conciso. E só essa crença forte nos poderá levar ao sucesso.
Do mesmo modo, também os deuses, sejam eles quais e quantos forem, nas suas variadas formas e nomes e funções, um panteão inominável ou apenas um cujo nome não é pronunciável, depende a sua existência da fé que neles é depositada pelos homens. Alguém disse, penso que Dostoievsky, que “o Homem inventou Deus para não se matar”, ou seja, a necessidade de acreditar numa força metafísica, transcendente, suprahumana, que justifique a nossa presença no Universo fez-nos colocar o próprio Homem num patamar de coisa criada com um objectivo definido à partida. Podemos dizer que o Homem não suporta o vazio de significado e sentido para a vida, rejeita a existência apenas como um acontecimento biológico, orgânico, o correr das fases do nascimento, crescimento, reprodução, envelhecimento e morte.
Também Voltaire reforçou essa ideia. “Se Deus não existisse, teríamos que o inventar”, afirmou, colocando, é certo, as coisas numa perspectiva inversa. Enquanto o romancista russo afirmou que Deus É uma criação humana, o iluminado parisiense admite a sua preexistência. No entanto, ambos concordam no factor decisivo da Necessidade da sua existência (no primeiro caso, ele existe porque é necessário e, por isso, foi criado; no segundo, ele existe, mas seria criado se não existisse) para a sobrevivência do Homem. Porque, podemos dizê-lo, o haver deuses não é senão o haver objectivos e sentido para a vida, coisas sem as quais o Homem não consegue permanecer no caos universal. Porque os deuses e os objectivos e os sonhos são todos o mesmo alicerce da existência humana. “Os sonhos são como os deuses; se não se acredita neles, eles deixam de existir”, disse Cícero há mais de 2000 anos; Os sonhos são os nossos deuses; se não se acredita neles, deixamos de existir, digo eu nestes séculos do Homem sem ideais, enquanto outros pedem apenas mais um fininho e um prato de tremoços.
“Os sonhos são como os deuses; se não se acredita neles, eles deixam de existir.” - entre dois discursos inflamados perante o Senado, um tratado de gramática ou retórica, e, quiçá, uma fuga para o Egipto, Cícero, grandiloquente cidadão da República Romana, deixou-nos esta peça de artilharia virada contra a nossa cabeça, pronta a despedaçá-la em estilhaços disformes de angústia e insónia. Os sonhos, os sonhos...
O que são os sonhos? Essas partículas subatómicas da nossa mente, quarks vagabundeando pelas areias movediças do subconsciente, peça de teatro com as cortinas das pálpebras encerradas, onde representamos para nós mesmos as nossas ambições, os nossos medos, as nossas angústias, encobertos por máscaras do mundo conhecido ou por conhecer! Esses depósitos de traumas e assuntos irresolutos, símbolos sexuais, para uns; mensagens enviadas directamente pelo divino, em código quase sempre, para advertir de catástrofes e tragédias pessoais ou colectivas, ou para anunciar a chegada há tanto esperada de um messias redentor, para muitos outros durante muito tempo! São esses os sonhos que vemos sem tocar durante o repouso do sono! Aliás, para os gregos antigos, Morfeu, deus dos sonhos, era filho do próprio Hipnos, o deus do sono. Mas, e apesar da relação estabelecida entre sonhos e deuses pelo próprio Cícero, serão esses meandros da mente aquilo que está em causa?
Ou não são, isso sim, aqueles sonhos que aparecem enquanto estamos despertos e perfeitamente conscientes do funcionamento dos nossos raciocínios, os nossos desejos e ambições enunciados tal e qual eles são, sem códigos malabarísticos nem nebulosas de significado, o querer algo com muita força e acreditar que, lutando por tal desiderato, ele será atingido? O acreditar ou não em desconexas reconstruções de momentos díspares no tempo e no espaço, e seus possíveis significados, não é importante, sobretudo quando comparado com a fé num objectivo claro e conciso. E só essa crença forte nos poderá levar ao sucesso.
Do mesmo modo, também os deuses, sejam eles quais e quantos forem, nas suas variadas formas e nomes e funções, um panteão inominável ou apenas um cujo nome não é pronunciável, depende a sua existência da fé que neles é depositada pelos homens. Alguém disse, penso que Dostoievsky, que “o Homem inventou Deus para não se matar”, ou seja, a necessidade de acreditar numa força metafísica, transcendente, suprahumana, que justifique a nossa presença no Universo fez-nos colocar o próprio Homem num patamar de coisa criada com um objectivo definido à partida. Podemos dizer que o Homem não suporta o vazio de significado e sentido para a vida, rejeita a existência apenas como um acontecimento biológico, orgânico, o correr das fases do nascimento, crescimento, reprodução, envelhecimento e morte.
Também Voltaire reforçou essa ideia. “Se Deus não existisse, teríamos que o inventar”, afirmou, colocando, é certo, as coisas numa perspectiva inversa. Enquanto o romancista russo afirmou que Deus É uma criação humana, o iluminado parisiense admite a sua preexistência. No entanto, ambos concordam no factor decisivo da Necessidade da sua existência (no primeiro caso, ele existe porque é necessário e, por isso, foi criado; no segundo, ele existe, mas seria criado se não existisse) para a sobrevivência do Homem. Porque, podemos dizê-lo, o haver deuses não é senão o haver objectivos e sentido para a vida, coisas sem as quais o Homem não consegue permanecer no caos universal. Porque os deuses e os objectivos e os sonhos são todos o mesmo alicerce da existência humana. “Os sonhos são como os deuses; se não se acredita neles, eles deixam de existir”, disse Cícero há mais de 2000 anos; Os sonhos são os nossos deuses; se não se acredita neles, deixamos de existir, digo eu nestes séculos do Homem sem ideais, enquanto outros pedem apenas mais um fininho e um prato de tremoços.
FIM
(desisti de conseguir concluir seja o que for)
(desisti de conseguir concluir seja o que for)
Coçado por
Artur Semedo
29/07/2008
23:23
Espaço Publicitário #5 (não estamos a interromper nada e não...)
Coçado por
Artur Semedo
18/06/2008
22:57
Um milhão de euros!!!
O Presidente da República, imbuído do espírito do Entrudo, decretou para a próxima sessão de plenário na Assembleia um dia de palhaçada.
Os líderes das bancadas parlamentares já reagiram: Vamos actuar normalmente, como em todas as outras sessões! - foram as palavras unânimes!
Coçado por
Artur Semedo
06/02/2008
22:06
Três milhões novecentos e trinta e quatro mil novecentos e trinta e seis!!!
Moçoila 1 - Aaaaaaaaaaaatchim! Porra, que frio! Estou toda constipadita!
Moçoila 2 - E eu? Estou aqui toda arrepiada!
Moçoila 1 - Mas por que raios fazem estes fatos de sambista tão pequenos?
Moçoila 2 - Cala-te e dança! É a tradição portuguesa, rapariga! A tradição!
Coçado por
Artur Semedo
22:05
Primeiro prémio!!!
- Mamãe! Papái! Eu quero ir mostrar a minha máscara de Carnaval às pessoas!
- Então veste-te que vamos ao shóppe!
Coçado por
Artur Semedo
22:04
Sabedoria popular versão intelectualóide #12
Bater em retirada perante a iminência de uma confrontação física, na qual há óbvia desvantagem, poderá não ser esteticamente agradável; não obstante, traz consigo um alijamento de pressão na região posterior do torso!
Coçado por
Artur Semedo
18/01/2008
11:30
Experimente BioActive!
Sujeito: Fugas de gás em Évora, em Lisboa, e sabe-se lá onde mais...
Predicado: Neste país, parece que nada funciona!
Complemento: Nem sequer os intestinos... estamos na merda há não sei quanto tempo, e só agora vêm os gases!
Predicado: Neste país, parece que nada funciona!
Complemento: Nem sequer os intestinos... estamos na merda há não sei quanto tempo, e só agora vêm os gases!
Coçado por
Artur Semedo
17/01/2008
11:48
Sabedoria popular versão intelectualóide #11
A extremidade craniana onde se encontram as aberturas das fossas nasais dos canídeos, assim como a região glútea das fêmeas humanóides, apenas sofrem uma variação térmica que lhes permite atingir uma temperatura ligeiramente tépida durante o Estio.
Coçado por
Artur Semedo
10/01/2008
02:24
O sinal vermelho é um estado de espírito!
Como é do domínio público, por terem já passado mais de setenta anos desde a morte do presumível, seja ele quem for, ou tenha sido ele quem tiver sido, como queiram, eu não sou grande coisa em conjugações, a não ser de esforços orgásmicos, e mesmo sem saber quem foi o tipo sei perfeitamente que passaram mais de setenta anos, pois o dito que o dito ignoto ser criou é mais antigo que o defecar em posição de pernas absolutamente flectidas, de modo que as nádegas quase roçam o chão, e se neste tiver germinado uma densa vegetação herbácea pode mesmo acontecer sentir o respirar de uma formiga no topo de uma folha de capim, ou em caso de orvalhada sentir a dita região glútea a humedecer, também conhecido este acontecimento como cagar de cócoras, e, visto que as latrinas, objecto tantas vezes menosprezado, em que muitos cagam, mas que veio poupar muita gente a constipar-se pelo cu, são para cima de antigas, imagine-se o quão antigo não será o dito em causa, pois provavelmente o dito é mais antigo que aquilo que lhe deu origem, ou seja, foi um dito por não dito, e que reza que o hábito é o responsável pela feitura do monge.
Ora, o que nunca se explicou, pelo menos comigo ninguém se deu a esse incómodo, é se é o hábito enquanto peça de indumentária, ou se o hábito enquanto prática costumeira, recorrente, o que leva ao aparecimento desses senhores que, ao que dizem, abandonam tudo para se enfiarem no topo de um monte e se matarem uns aos outros com veneno nas pontas das folhas de livros, queimarem bruxas e falarem em latim.
É minha convicção profunda, e considero mesmo situar esta convicção algures na região de transição entre a epiderme e a derme, exceptuando talvez se estiver em causa a planta dos pés, ou a pele dos tomates, porque enfiar, ou situar coisas nos tomates é capaz de ser problemático, mas pelo menos nas palmas das mãos sim, só para se ter a vera noção do quão profunda ela é, que não se trata aqui da vestimenta dos também chamados frades, porque isto dos mosteiros é como uma família fechada, mais ainda que a Adams, ou as famílias mafiosas, porque é fechada ao sexo oposto àquele dos que dela fazem parte, porque temos nos mosteiros masculinos os frades e o abade, que é o pai etimológico, não confundir com o pai biológico, nem com o pai divino, e nos femininos, temos as irmãs e a madre, devem ser complexos edipianos ou electrianos invertidos, ou coisa parecida, alguém que perceba disso de psiquiatrias que estude. E considero isso pois pura e simplesmente não acho verosímil que o mero uso de um saco de serapilheira faça de alguém um monge. Quer dizer, eu nunca vi nenhuma batata com tonsura, e o que mais há para aí é batata ensacada em serapilheira, pelo menos desde que os europeus atracaram na setentrional América, donde trouxeram não só esse belo tubérculo, como também o milho, ou o feijão, para além doutras leguminosas, e doenças venéreas como a sífilis, deixando em troca o sarampo, que antes comia-se era castanhas, o que, junto com bacalhau, devia dar umas ceias de natal bem estranhas. Também, verdade seja dita, nunca vi nenhuma batata com cabelo, mas isso não é razão para abandonar tão forte convicção, ainda para mais depois de a ter colocado onde coloquei, que eu cá não levo jeitinho nenhum para Bartolomeu… Quer dizer, durante muitos anos vivi na ilusão de que havia uma espécie qualquer de batata com pêlo, ou cabelo, bem áspero e com as pontas espigadas, é certo, porque era isso que eu via nos supermercados, logo ao lado das mangas e dos maracujás, e não ao lado das cenouras e nabos, como mandariam a lógica e a sequência de preparação de uma sopa de legumes. Vim, mais tarde, a descobrir que aquelas batatas têm por nome kiwis, e que são, na verdade, iguaizinhas àquela fruta verde com grainhas chatas que eu comia às vezes, e que, se partilhavam com as batatas-batatas o dom de entupir canos de escape, tinham nos intestinos um efeito bem diverso. Além de que são, vá-se lá saber porquê isso, agora, o símbolo nacional da Nova Zelândia, juntamente com os fetos, o que é também sobremaneira inusual, diria antes bizarro, e disse mesmo, porque uma coisa é defender e incentivar a natalidade, e eu sou absolutamente pró-quecas, outra coisa é hastear fruta e embriões em desenvolvimento intra-uterino. Parece que nunca ouviu falar de bandeiras e hinos nacionais, aquela gente…
Assim sendo, resta-me considerar que o que torna o monge num monge são os hábitos que ele possa ter. Ora, hábitos não são vícios, e há que fazer aqui uma distinção clara! Hábito é toda aquela acção recorrente na nossa vida, e que não constitua necessidade essencial à sobrevivência, praticada de forma consciente (pois senão passa a ser um tique), por um indivíduo (se for por um grupo passa a ser um taque), e que não lhe causa mal algum. Se causar, é um vício! Como fumar, por exemplo. Durante muito tempo foi um hábito, mas bastou que um certo número de indivíduos e estudos declarassem não sei quantos efeitos perniciosos do acto tabagista, e logo passou a ser um vício, um mau hábito, portanto. Porque, no fundo, a linha que divide o mundo dos hábitos [o lado do Bem] do mundo dos vícios [o do Mal], está, numa escala de tenuidade, e ao contrário do que possa parecer através desta divisão maniqueísta, um pouco acima de um pintelho de uma velha, que é algo sobremaneira ténue, e um pouco abaixo da linha de perfil de uma modelo de alta costura, que é incomensuravelmente ténue; estamos a falar, digamos, de uma linha assaz ténue. Para dar mais um exemplo de graça, como faziam os romanos e ainda fazem os ingleses, há quem, como eu, sacuda o pénis até três vezes, no máximo, após a micção. Ora, isso é um hábito, e claramente bom, pois evita manchas indesejáveis nas calças, mas não chega a ser uma necessidade básica da vida, o que não obsta a que se considere aqueles que não sacodem vez nenhuma como, e isto é terminologia científica, uns porcos do caralho!, sendo que aqueles que acumulam esta porqueira com a não lavagem das mãos em seguida são uns grandessíssimos porcos do caralho! Depois, há aqueloutros que exageram, sacodem, sacodem, sacodem, como se estivessem a ter um ataque de convulsões epilépticas na piça, bem mais de três vezes, o que passa a ser, é dos manuais, acto masturbatório. Ora, considerando-se que a punheta não é certamente um acto essencial, e mesmo não fazendo propriamente mal a ninguém, excepto à Nova Zelândia, que depois fica sem símbolos nacionais, ou ao Camões, que diz que ficou zarolho, ao contrário do Édipo, lá está, que por ter preferido foder em vez de esgalhar sozinho acabou por levar à auto-mutilação das vistinhas, pode vir a tornar-se potencial hábito ruim, um vício, se for assim repetida, de cada vez que se mija, inclusive em urinóis públicos, ou atrás de um arbusto, ou outros objectos inanimados, nos casos de maior aperto. Repare-se até que há como que uma certa dose de parasitismo nestes casos, em que um mau hábito se cola a uma necessidade básica do ser humano. Era, à falta de melhor comparação, até porque não há mesmo nenhuma, como se uma mulher quisesse ter uma conversa séria com o marido sempre que estivesse a dar a bola na televisão.
Enfim, mesmo sendo humanos de carne e osso e sangue e linfa e essas tretas todas, os monges, digo eu, não devem passar o tempo todo a sacudir o chicote, até porque o raio do saco que têm enfiado não deverá facilitarem nada. E já nem falo das monjas, obviamente. Quem diz o vício da masturbação, diria, e digo mesmo, todos os outros, porque os monges são reconhecidos como virtuosos do piano da moral, tocam apenas nas alvas teclas e deixam os negrumes de lado, alheiam-se dos vícios, dos pecados da carne… Além do mais, entre matinas, laudas, primas, terças, sextas, nonas, vésperas e completas, mais os trabalhinhos físicos e intelectuais, e uma ou outra sonequinha em camas de palha, que tempo tem um monge para ganhar vícios, quanto mais para os suportar?
E, com isto tudo, se chega facilmente à ideia subliminarmente subjacente de toda esta espécie de raciocínio: os defeitos do sistema de ensino português, nomeadamente no que à segurança rodoviária diz respeito, enquanto parte integrante da formação dos nossos brilhantes cidadãos de amanhã. Está certo que a ideia não será criar um país de monges, mas não ficava mal deixar de se fomentar certos vícios na juventude, e quanto mais jovem menos se deveria fazê-lo, como aquele de atravessar sempre nas ditas passadeiras. Noutros locais, noutras sociedades, até pode ser que isso seja um bom hábito, mas, respeitando a idiossincrasia lusa, temos de o considerar um vício, e bem pernicioso, diga-se, tão ou mais que o do tabaco, até porque é praticado ao ar livre, e sobre isso já ninguém protesta…
Ora, o que nunca se explicou, pelo menos comigo ninguém se deu a esse incómodo, é se é o hábito enquanto peça de indumentária, ou se o hábito enquanto prática costumeira, recorrente, o que leva ao aparecimento desses senhores que, ao que dizem, abandonam tudo para se enfiarem no topo de um monte e se matarem uns aos outros com veneno nas pontas das folhas de livros, queimarem bruxas e falarem em latim.
É minha convicção profunda, e considero mesmo situar esta convicção algures na região de transição entre a epiderme e a derme, exceptuando talvez se estiver em causa a planta dos pés, ou a pele dos tomates, porque enfiar, ou situar coisas nos tomates é capaz de ser problemático, mas pelo menos nas palmas das mãos sim, só para se ter a vera noção do quão profunda ela é, que não se trata aqui da vestimenta dos também chamados frades, porque isto dos mosteiros é como uma família fechada, mais ainda que a Adams, ou as famílias mafiosas, porque é fechada ao sexo oposto àquele dos que dela fazem parte, porque temos nos mosteiros masculinos os frades e o abade, que é o pai etimológico, não confundir com o pai biológico, nem com o pai divino, e nos femininos, temos as irmãs e a madre, devem ser complexos edipianos ou electrianos invertidos, ou coisa parecida, alguém que perceba disso de psiquiatrias que estude. E considero isso pois pura e simplesmente não acho verosímil que o mero uso de um saco de serapilheira faça de alguém um monge. Quer dizer, eu nunca vi nenhuma batata com tonsura, e o que mais há para aí é batata ensacada em serapilheira, pelo menos desde que os europeus atracaram na setentrional América, donde trouxeram não só esse belo tubérculo, como também o milho, ou o feijão, para além doutras leguminosas, e doenças venéreas como a sífilis, deixando em troca o sarampo, que antes comia-se era castanhas, o que, junto com bacalhau, devia dar umas ceias de natal bem estranhas. Também, verdade seja dita, nunca vi nenhuma batata com cabelo, mas isso não é razão para abandonar tão forte convicção, ainda para mais depois de a ter colocado onde coloquei, que eu cá não levo jeitinho nenhum para Bartolomeu… Quer dizer, durante muitos anos vivi na ilusão de que havia uma espécie qualquer de batata com pêlo, ou cabelo, bem áspero e com as pontas espigadas, é certo, porque era isso que eu via nos supermercados, logo ao lado das mangas e dos maracujás, e não ao lado das cenouras e nabos, como mandariam a lógica e a sequência de preparação de uma sopa de legumes. Vim, mais tarde, a descobrir que aquelas batatas têm por nome kiwis, e que são, na verdade, iguaizinhas àquela fruta verde com grainhas chatas que eu comia às vezes, e que, se partilhavam com as batatas-batatas o dom de entupir canos de escape, tinham nos intestinos um efeito bem diverso. Além de que são, vá-se lá saber porquê isso, agora, o símbolo nacional da Nova Zelândia, juntamente com os fetos, o que é também sobremaneira inusual, diria antes bizarro, e disse mesmo, porque uma coisa é defender e incentivar a natalidade, e eu sou absolutamente pró-quecas, outra coisa é hastear fruta e embriões em desenvolvimento intra-uterino. Parece que nunca ouviu falar de bandeiras e hinos nacionais, aquela gente…
Assim sendo, resta-me considerar que o que torna o monge num monge são os hábitos que ele possa ter. Ora, hábitos não são vícios, e há que fazer aqui uma distinção clara! Hábito é toda aquela acção recorrente na nossa vida, e que não constitua necessidade essencial à sobrevivência, praticada de forma consciente (pois senão passa a ser um tique), por um indivíduo (se for por um grupo passa a ser um taque), e que não lhe causa mal algum. Se causar, é um vício! Como fumar, por exemplo. Durante muito tempo foi um hábito, mas bastou que um certo número de indivíduos e estudos declarassem não sei quantos efeitos perniciosos do acto tabagista, e logo passou a ser um vício, um mau hábito, portanto. Porque, no fundo, a linha que divide o mundo dos hábitos [o lado do Bem] do mundo dos vícios [o do Mal], está, numa escala de tenuidade, e ao contrário do que possa parecer através desta divisão maniqueísta, um pouco acima de um pintelho de uma velha, que é algo sobremaneira ténue, e um pouco abaixo da linha de perfil de uma modelo de alta costura, que é incomensuravelmente ténue; estamos a falar, digamos, de uma linha assaz ténue. Para dar mais um exemplo de graça, como faziam os romanos e ainda fazem os ingleses, há quem, como eu, sacuda o pénis até três vezes, no máximo, após a micção. Ora, isso é um hábito, e claramente bom, pois evita manchas indesejáveis nas calças, mas não chega a ser uma necessidade básica da vida, o que não obsta a que se considere aqueles que não sacodem vez nenhuma como, e isto é terminologia científica, uns porcos do caralho!, sendo que aqueles que acumulam esta porqueira com a não lavagem das mãos em seguida são uns grandessíssimos porcos do caralho! Depois, há aqueloutros que exageram, sacodem, sacodem, sacodem, como se estivessem a ter um ataque de convulsões epilépticas na piça, bem mais de três vezes, o que passa a ser, é dos manuais, acto masturbatório. Ora, considerando-se que a punheta não é certamente um acto essencial, e mesmo não fazendo propriamente mal a ninguém, excepto à Nova Zelândia, que depois fica sem símbolos nacionais, ou ao Camões, que diz que ficou zarolho, ao contrário do Édipo, lá está, que por ter preferido foder em vez de esgalhar sozinho acabou por levar à auto-mutilação das vistinhas, pode vir a tornar-se potencial hábito ruim, um vício, se for assim repetida, de cada vez que se mija, inclusive em urinóis públicos, ou atrás de um arbusto, ou outros objectos inanimados, nos casos de maior aperto. Repare-se até que há como que uma certa dose de parasitismo nestes casos, em que um mau hábito se cola a uma necessidade básica do ser humano. Era, à falta de melhor comparação, até porque não há mesmo nenhuma, como se uma mulher quisesse ter uma conversa séria com o marido sempre que estivesse a dar a bola na televisão.
Enfim, mesmo sendo humanos de carne e osso e sangue e linfa e essas tretas todas, os monges, digo eu, não devem passar o tempo todo a sacudir o chicote, até porque o raio do saco que têm enfiado não deverá facilitar
E, com isto tudo, se chega facilmente à ideia subliminarmente subjacente de toda esta espécie de raciocínio: os defeitos do sistema de ensino português, nomeadamente no que à segurança rodoviária diz respeito, enquanto parte integrante da formação dos nossos brilhantes cidadãos de amanhã. Está certo que a ideia não será criar um país de monges, mas não ficava mal deixar de se fomentar certos vícios na juventude, e quanto mais jovem menos se deveria fazê-lo, como aquele de atravessar sempre nas ditas passadeiras. Noutros locais, noutras sociedades, até pode ser que isso seja um bom hábito, mas, respeitando a idiossincrasia lusa, temos de o considerar um vício, e bem pernicioso, diga-se, tão ou mais que o do tabaco, até porque é praticado ao ar livre, e sobre isso já ninguém protesta…
Coçado por
Artur Semedo
02:15
Sabedoria popular versão intelectualóide #10
É preferível ingurgitar um doce arredondado e de cremosa consistência confeccionado com o líquido segregado pelas glândulas mamárias das fêmeas bovinas mais corpos arredondados produzidos por fêmeas galináceas e demais ingredientes habitualmente colocado na mesa para degustação a frio após cozedura num recipiente semi-imerso num outro onde moléculas constituídas por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio que se encontram em estado líquido à temperatura ambiente dos países de climas temperados estejam em ebulição, juntamente com os comparsas; a ingurgitar o conteúdo de um vaso cilíndrico ou ligeiramente cónico e de asa elíptica assaz utilizado na actividade de construção civil para transporte de argamassa quando esse conteúdo são excrementos intestinais, desprovido de companhia.
Coçado por
Artur Semedo
09/01/2008
19:30
O Método Socrático de Governação
Sujeito: "Só sei que nada sei!"
Predicado: Com a actual sociedade de informação globalizada, fica difícil aplicar esse preceito.
Complemento: Fica nada! Basta encomendar muitos estudos científicos, e depois decidir, e voltar atrás, decidir, voltar atrás, decidir, voltar...
Predicado: Com a actual sociedade de informação globalizada, fica difícil aplicar esse preceito.
Complemento: Fica nada! Basta encomendar muitos estudos científicos, e depois decidir, e voltar atrás, decidir, voltar atrás, decidir, voltar...
Coçado por
Artur Semedo
11:46
Sabedoria popular versão intelectualóide #9
Todos os que possuem esfíncter anal sentem decerto um temor exacerbado.
Coçado por
Artur Semedo
02/01/2008
22:38
Ó Chefe, foi o despertador que avariou...
Era uma noite branca de Inverno, há muito tempo atrás...
A Lapónia estava imersa num banho de negrume pontilhado de miríades de estrelas, com a espuma fria da neve que caíra durante os últimos dias cobrindo a terra, as árvores, os telhados.
Os passos, amortecidos pelos flocos caídos, como numa almofada fofa, do Pai Natal que chegava a casa depois de mais uma noite pelo mundo a distribuir jornais gratuitos, Dica, Destak e Metro à cabeça.
Pela janela espreitando, poder-se-ia ver que em casa, defronte à lareira crepitante, pés cobertos com uma mantinha de aquecimento em pele de ovelha do Árctico, o Coelhinho da Páscoa esperava a sua chegada de mais um dia de labor intenso, com a mesa festiva posta de doces típicos da Lapónia, à base de haste de renas, e ervas e assim...
- Nicolau! Finalmente chegaste! Já é tardíssimo…
- Desculpa, Dentuças, mas o trânsito na VCI estava uma merda. Como o costume…
- Nicolau! Sabes que odeio que digas palavrões.
- Se conduzisses um trenó na altura do Natal, também os dizias.
- Oh!
O Pai Natal não conseguia esconder a amargura dos quarenta! Quarenta anos dedicados a espalhar a alegria pelo mundo, em forma de presentes matutinos nas meiinhas penduradas à beira da lareira que faziam, de todas as crianças, crianças felizes! Agora, com a multiplicação exponencial de largas superfícies comerciais, com o advento da feroz publicidade, e a mimalhice crescente das crianças do mundo ocidental, o seu lugar desaparecia, e ficava apenas a imagem rotulada das coca-colas, e a estatuária dos pinheirinhos. Os miúdos pediam aos pais, e os pais compravam… Já ninguém ligava às meias, ou aos presentes do Pai Natal, restavam-lhe apenas os jornais gratuitos, e um ou outro local ainda não tocado pela febre consumista. Até porque nos países terceiro-mundistas, quando tudo ainda corria bem, havia cedido o franchising às super-potências da Guerra Fria e elas continuavam a entregar a todos os meninos armamento do mais moderno para se matarem uns aos outros, sem intenção de devolverem a exploração desses territórios novamente ao Pai Natal.
Bardamerda para isto! – pensou, enquanto descalçava as botas.
- E então, que se passa?
- Nada de especial. O Nicolas Cage fez um novo filme e queria escrever um livro, a Soraia Chaves também fez mais um filme, e se calhar também gostava de escrever um livro, e os Gato Fedorento vão fazer a passagem de ano na RTP1, e pelo menos um deles já lançou um livro.
- E não se passa nada de realmente importante?
- Ah, o LIDL vai ter à venda umas máquinas de café muito jeitosas, de pastilhas, a 40 €.
- Ah, isso é bom, mas já sei como é, aquilo abre às 9h e às 9h05 já não há nada. E eu para me levantar cedo não estou com vontade.
- Quando trabalhaste no circo Cardinalli, ou com os Monty Python, não te queixavas de acordar cedo.
- Não sejas assim, não digas essas coisas estúpidas!
O Coelhinho da Páscoa não conseguia esconder a amargura dos quarenta! Quarenta anos dedicados ao mundo do espectáculo, enquanto membro da trupe circense Cardinalli, o maior circo do mundo, nos espectáculos de magia em que aparecia sempre gloriosamente branco da cartola do seu mestre; ou enquanto figurante em variados filmes, por vezes com nomeações para Oscar na categoria de Melhor Performance Animal. Mas o pêlo foi escurecendo, ganhando tonalidades cinzentas que brilhavam menos perante os holofotes, e acabou ultrapassado pelo Dentolas, outro coelho-artista, que acabou por ser escolhido no casting para os mais recentes remakes de Alice no País das Maravilhas, ou para aquele cameo no Matrix.
Falsário, eu bem sei que ele pinta o pêlo. – pensou, enquanto pegava nas malhas para fazer um pouco mais de tricot.
- E então o Benfica?
- Que queres dizer com isso?
- Calma, Nico! Estou só a perguntar como ficou o jogo!
- Ganhámos! E vocês amanhã perdem, que eu já arranjei prendas para as pessoas certas, e ficam só a sete.
- Como os anões? Ah, ah!
- Ri-te enquanto podes, que em Maio ainda choras!
- Isso… Por falar em rir, os Gato na passagem de ano? Mas eles não iam parar de fazer o programa, ou coisa assim? E vai ser gravado ou em directo como antigamente? Ah, que saudades desses programas!
- Isso já não sei, que só leio as capas, não dá tempo para mais.
- Que se passa contigo? Todo rezingão! Nem parece teu andares assim. Estás preocupado com alguma coisa?
- Se estou preocupado com alguma coisa? Se estou preocupado? Não, claro que não! Só com a puta da inflação, a puta da Euribor, o fim do caralho das SCUT! Escolhe. Como vamos governar a nossa vida, numa situação destas? Ainda para mais, com a ASAE sempre a rondar, não arranjas emprego, por causa da tularémia.
- Ei, que é isto? Que se passa contigo? Pareces doido! Jesus…
- O quê?! Que queres dizer com isso?
- Pareces doido! A falar assim, como nunca vi em 30 anos!
- Ah, sim… sim. Desculpa.
- Vou mas é fazer um chá. Tília e camomila, para ver se acalmas.
O Pai Natal tirava o casaco, menos vermelho agora, passados tantos anos de desgaste – Foda-se, isto assim não pode continuar! – encharcado pelas chuvas intensas a norte do Anticiclone dos Açores – Tenho de ser um homem, e contar-lhe!
- Olha que maravilha de chá! Queres a tua caneca tamanho jumbo, Nico?
- Dentuças… eu… eu não sei como dizer isto. Eu… tenho de confessar…
- Que se passa, Nico?
A voz rouca do Pai Natal, consequência de milhares de noites a enfrentar os fenómenos meteorológicos mais adversos, gaguejava, saía em pequenos fonemas, monossílabos, incoerentes, confusos… – Porra, tem de ser!
- Dentuças, ando a ter um caso com o Menino Jesus! – Foda-se, está dito…
O som do bule e da chávena a caírem, o som estridente e estilhaçado da chávena e do bule a caírem… Só isso quebrou o silêncio de um segundo eterno, absolutamente de vácuo, em que o Coelhinho da Páscoa olhou para o Pai Natal, já com os olhos marejados de lágrimas, sem acreditar no que tinham acabado de ouvir as suas longas e fofinhas orelhas.
- Ah, seu desgraçado! Eu sabia! Eu sabia! Eu desconfiei de chegares tantas vezes com palha enfiada nos bolsos e esse cheiro a manjedoura no barrete!!! Como?! Como foste capaz de fazer isto?
- Eu… eu… Foi uma coisa que… aconteceu… numa das minhas viagens de negócios ao Médio Oriente. Quando tratei com os israelitas aquela prenda… a doença do Arafat…
- Isso já foi há 3 anos! Andaste a esconder-me isto durante três anos?
- Não foi bem… só começou passado uns meses.
- Ah, e dizes isso como se assim estivesse tudo bem! Como foste capaz? Quer dizer, que andasses metido com as renas, ou com aqueles anões de orelhas esquisitas que trabalhavam contigo na fábrica antigamente, ainda podia perceber, mas… o Menino Jesus?
- Eu… isso das renas, e dos anões… O Rudolfo e o Nelson Ned disseram-te alguma coisa?
- O quê? Queres dizer que… também… Uuuiii! Qu’é isto?! UM OVO COLORIDO A SAIR-ME PELO CU? Já viste o que me está a acontecer? Por tua culpa! Tua!!!
- Coelhinho... desculpa...
- Odeio-te, odeio-te, odeio-te!!! Vou-me embora para o país das Maravilhas, e nunca mais te quero ver, seu badocha horrível, nunca mais!!! Ainda para mais benfiquista! Pfff…
O estrondo da porta a bater ecoou na cabeça do Pai Natal como uma gigantesca claquete a dizer FIM, sem direito a repetição, quanto muito reposição no canal da memória. Adeus, cauda fofa... - pensava, enquanto a porta de novo se abria, numa réstia inesperada de esperança, surgindo de novo a cara do seu Dentuças, quem sabe para lhe dizer - Perdoo-te!, ou - Amo-te e não consigo viver sem ti!, ou...
- Ah, já agora, és péssimo na cama!
A Lapónia estava imersa num banho de negrume pontilhado de miríades de estrelas, com a espuma fria da neve que caíra durante os últimos dias cobrindo a terra, as árvores, os telhados.
Os passos, amortecidos pelos flocos caídos, como numa almofada fofa, do Pai Natal que chegava a casa depois de mais uma noite pelo mundo a distribuir jornais gratuitos, Dica, Destak e Metro à cabeça.
Pela janela espreitando, poder-se-ia ver que em casa, defronte à lareira crepitante, pés cobertos com uma mantinha de aquecimento em pele de ovelha do Árctico, o Coelhinho da Páscoa esperava a sua chegada de mais um dia de labor intenso, com a mesa festiva posta de doces típicos da Lapónia, à base de haste de renas, e ervas e assim...
- Nicolau! Finalmente chegaste! Já é tardíssimo…
- Desculpa, Dentuças, mas o trânsito na VCI estava uma merda. Como o costume…
- Nicolau! Sabes que odeio que digas palavrões.
- Se conduzisses um trenó na altura do Natal, também os dizias.
- Oh!
O Pai Natal não conseguia esconder a amargura dos quarenta! Quarenta anos dedicados a espalhar a alegria pelo mundo, em forma de presentes matutinos nas meiinhas penduradas à beira da lareira que faziam, de todas as crianças, crianças felizes! Agora, com a multiplicação exponencial de largas superfícies comerciais, com o advento da feroz publicidade, e a mimalhice crescente das crianças do mundo ocidental, o seu lugar desaparecia, e ficava apenas a imagem rotulada das coca-colas, e a estatuária dos pinheirinhos. Os miúdos pediam aos pais, e os pais compravam… Já ninguém ligava às meias, ou aos presentes do Pai Natal, restavam-lhe apenas os jornais gratuitos, e um ou outro local ainda não tocado pela febre consumista. Até porque nos países terceiro-mundistas, quando tudo ainda corria bem, havia cedido o franchising às super-potências da Guerra Fria e elas continuavam a entregar a todos os meninos armamento do mais moderno para se matarem uns aos outros, sem intenção de devolverem a exploração desses territórios novamente ao Pai Natal.
Bardamerda para isto! – pensou, enquanto descalçava as botas.
- E então, que se passa?
- Nada de especial. O Nicolas Cage fez um novo filme e queria escrever um livro, a Soraia Chaves também fez mais um filme, e se calhar também gostava de escrever um livro, e os Gato Fedorento vão fazer a passagem de ano na RTP1, e pelo menos um deles já lançou um livro.
- E não se passa nada de realmente importante?
- Ah, o LIDL vai ter à venda umas máquinas de café muito jeitosas, de pastilhas, a 40 €.
- Ah, isso é bom, mas já sei como é, aquilo abre às 9h e às 9h05 já não há nada. E eu para me levantar cedo não estou com vontade.
- Quando trabalhaste no circo Cardinalli, ou com os Monty Python, não te queixavas de acordar cedo.
- Não sejas assim, não digas essas coisas estúpidas!
O Coelhinho da Páscoa não conseguia esconder a amargura dos quarenta! Quarenta anos dedicados ao mundo do espectáculo, enquanto membro da trupe circense Cardinalli, o maior circo do mundo, nos espectáculos de magia em que aparecia sempre gloriosamente branco da cartola do seu mestre; ou enquanto figurante em variados filmes, por vezes com nomeações para Oscar na categoria de Melhor Performance Animal. Mas o pêlo foi escurecendo, ganhando tonalidades cinzentas que brilhavam menos perante os holofotes, e acabou ultrapassado pelo Dentolas, outro coelho-artista, que acabou por ser escolhido no casting para os mais recentes remakes de Alice no País das Maravilhas, ou para aquele cameo no Matrix.
Falsário, eu bem sei que ele pinta o pêlo. – pensou, enquanto pegava nas malhas para fazer um pouco mais de tricot.
- E então o Benfica?
- Que queres dizer com isso?
- Calma, Nico! Estou só a perguntar como ficou o jogo!
- Ganhámos! E vocês amanhã perdem, que eu já arranjei prendas para as pessoas certas, e ficam só a sete.
- Como os anões? Ah, ah!
- Ri-te enquanto podes, que em Maio ainda choras!
- Isso… Por falar em rir, os Gato na passagem de ano? Mas eles não iam parar de fazer o programa, ou coisa assim? E vai ser gravado ou em directo como antigamente? Ah, que saudades desses programas!
- Isso já não sei, que só leio as capas, não dá tempo para mais.
- Que se passa contigo? Todo rezingão! Nem parece teu andares assim. Estás preocupado com alguma coisa?
- Se estou preocupado com alguma coisa? Se estou preocupado? Não, claro que não! Só com a puta da inflação, a puta da Euribor, o fim do caralho das SCUT! Escolhe. Como vamos governar a nossa vida, numa situação destas? Ainda para mais, com a ASAE sempre a rondar, não arranjas emprego, por causa da tularémia.
- Ei, que é isto? Que se passa contigo? Pareces doido! Jesus…
- O quê?! Que queres dizer com isso?
- Pareces doido! A falar assim, como nunca vi em 30 anos!
- Ah, sim… sim. Desculpa.
- Vou mas é fazer um chá. Tília e camomila, para ver se acalmas.
O Pai Natal tirava o casaco, menos vermelho agora, passados tantos anos de desgaste – Foda-se, isto assim não pode continuar! – encharcado pelas chuvas intensas a norte do Anticiclone dos Açores – Tenho de ser um homem, e contar-lhe!
- Olha que maravilha de chá! Queres a tua caneca tamanho jumbo, Nico?
- Dentuças… eu… eu não sei como dizer isto. Eu… tenho de confessar…
- Que se passa, Nico?
A voz rouca do Pai Natal, consequência de milhares de noites a enfrentar os fenómenos meteorológicos mais adversos, gaguejava, saía em pequenos fonemas, monossílabos, incoerentes, confusos… – Porra, tem de ser!
- Dentuças, ando a ter um caso com o Menino Jesus! – Foda-se, está dito…
O som do bule e da chávena a caírem, o som estridente e estilhaçado da chávena e do bule a caírem… Só isso quebrou o silêncio de um segundo eterno, absolutamente de vácuo, em que o Coelhinho da Páscoa olhou para o Pai Natal, já com os olhos marejados de lágrimas, sem acreditar no que tinham acabado de ouvir as suas longas e fofinhas orelhas.
- Ah, seu desgraçado! Eu sabia! Eu sabia! Eu desconfiei de chegares tantas vezes com palha enfiada nos bolsos e esse cheiro a manjedoura no barrete!!! Como?! Como foste capaz de fazer isto?
- Eu… eu… Foi uma coisa que… aconteceu… numa das minhas viagens de negócios ao Médio Oriente. Quando tratei com os israelitas aquela prenda… a doença do Arafat…
- Isso já foi há 3 anos! Andaste a esconder-me isto durante três anos?
- Não foi bem… só começou passado uns meses.
- Ah, e dizes isso como se assim estivesse tudo bem! Como foste capaz? Quer dizer, que andasses metido com as renas, ou com aqueles anões de orelhas esquisitas que trabalhavam contigo na fábrica antigamente, ainda podia perceber, mas… o Menino Jesus?
- Eu… isso das renas, e dos anões… O Rudolfo e o Nelson Ned disseram-te alguma coisa?
- O quê? Queres dizer que… também… Uuuiii! Qu’é isto?! UM OVO COLORIDO A SAIR-ME PELO CU? Já viste o que me está a acontecer? Por tua culpa! Tua!!!
- Coelhinho... desculpa...
- Odeio-te, odeio-te, odeio-te!!! Vou-me embora para o país das Maravilhas, e nunca mais te quero ver, seu badocha horrível, nunca mais!!! Ainda para mais benfiquista! Pfff…
O estrondo da porta a bater ecoou na cabeça do Pai Natal como uma gigantesca claquete a dizer FIM, sem direito a repetição, quanto muito reposição no canal da memória. Adeus, cauda fofa... - pensava, enquanto a porta de novo se abria, numa réstia inesperada de esperança, surgindo de novo a cara do seu Dentuças, quem sabe para lhe dizer - Perdoo-te!, ou - Amo-te e não consigo viver sem ti!, ou...
- Ah, já agora, és péssimo na cama!
Coçado por
Artur Semedo
01/01/2008
23:58
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